Cegueira ideológica, domínio da arbitrariedade 

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A ostracização do lucro, marco da ideologia de esquerda, mesmo como remuneração legítima da poupança e do risco de empreender, mantém eco garantido em muita comunicação social. Utilizando sem pudor mensagens falsas ou subliminares, mas que alguma iliteracia financeira facilmente aceita como boas, vai criando o clima para penalizar com impostos acrescidos as empresas que apresentam melhores resultados e, absurdo supremo, premiar os maus resultados, apoiando empresas cuja nota dominante são os constantes prejuízos. Exemplos abundam desta política ao serviço de uma ideologia adversa dos cidadãos e da economia.

A recente apresentação dos resultados semestrais das empresas de energia Galp e EDP e dos bancos foi o pretexto para um clamor mediático a exigir uma tributação especial desses lucros tidos como anormais e excessivos. Indigente é a argumentação utilizada, de simplista comparação com anos anteriores, esquecendo efeitos da pandemia, até à crítica do valor absoluto dos resultados, sem olhar ao capital empregue no objeto empresarial. Na verdade, e supondo que a EDP dobra no fim do ano o valor dos 300 milhões de euros de lucros semestrais, eles representarão apenas uma rentabilidade anualizada de 3% do valor de mercado dos capitais próprios. Com uma inflação na ordem dos 9%, onde estão os lucros excessivos?

Na Galp, os resultados de 400 milhões de euros no primeiro semestre configuram similarmente uma rentabilidade do capital próprio de 9%, isto é, nula, dada a inflação e não remunerando o alto risco da atividade.

São estes resultados, abaixo ou no limiar de uma rentabilidade zero que se querem tributar adicionalmente, num país com taxas das mais elevadas de IRC, dificultando o investimento das empresas, muito dependente da retenção do cash-flow gerado, sujeitando-as a uma estagnação ou a endividamentos excessivos com prejuízo para todos.

No setor bancário, a exigência de sólidos rácios de solvabilidade que lhe permita um apoio sustentado à economia é incompatível com novos impostos que implicariam a procura de mais caros instrumentos de capital, que penalizariam inexoravelmente os créditos concedidos.
Bem anda o ministro alemão Christian Lindner quando refere que anuir a tais pressões "... significaria que entregaríamos o nosso sistema tributário à arbitrariedade".

Economista

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