Centeno. Novas subidas do salário mínimo após 2022 ameaçam inflação em Portugal

"Eventuais aumentos do salário mínimo em 2023-24 constituem um risco em alta para a inflação", diz o Banco de Portugal, que antecipa uma inflação de apenas 1,1% e 1,3% nesses anos.
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Novas subidas do salário mínimo que venham a ser acordadas além dos 705 euros brutos por mês -- já definidos pelo governo para vigorar a partir de 1 de janeiro do ano que vem -- são "um risco" e podem fazer subir a inflação, receia o Banco de Portugal (BdP), no boletim económico de dezembro, divulgado esta sexta-feira.

Apesar de o BdP assumir que a inflação em Portugal não tem pernas para ir além dos 2% nos próximos três anos, a autoridade monetária faz questão de avisar que desenvolvimentos futuros no salário mínimo a favor de melhores condições salariais dos trabalhadores menos abonados podem perturbar o quadro mais desejado pelas autoridades, em que os preços ficam relativamente contidos e estáveis.

O BdP governado por Mário Centeno não faz qualquer consideração sobre eventuais repercussões do aumento de 6% (40 euros) no salário mínimo de 2022 (que sobe, como referido, para os 705 euros brutos), que devem explicar o salto para 1,8% na inflação prevista, mas quanto ao futuro pós-2022 já se alonga um pouco mais.

Diz o Banco que "os riscos para a inflação são enviesados em alta" até 2024, o horizonte de previsão do BdP neste novo boletim.

"Estes riscos decorrem sobretudo da possibilidade de uma maior transmissão dos aumentos dos preços das matérias-primas e dos bens intermédios aos preços no consumidor" e "eventuais aumentos do salário mínimo em 2023-24 constituem também um risco em alta para a inflação", refere o banco central.

"A subida recente da inflação, a par das dificuldades de recrutamento em alguns setores, pode também implicar pressões mais fortes sobre os salários do que as consideradas na projeção", refere.

Segundo a ministra do Trabalho, Ana Mendes Godinho, a subida do salário mínimo nacional para os tais 705 euros deverá abranger "880 mil trabalhadores" em 2022. Cerca de 21% do universo de trabalhadores por conta de outrem.

Em todo o caso, o Banco de Portugal prevê que "a inflação aumente em 2021 e 2022, para 0,9% e 1,8%, respetivamente, fixando-se em 1,1% e 1,3% nos dois anos seguintes, com uma evolução muito influenciada pela componente energética".

"A projeção para a inflação foi revista em alta ao longo do horizonte face ao boletim de junho, destacando-se a revisão em 2022 (0,9 pontos percentuais)". Ou seja, antes previa 0,9% no próximo ano.

Ainda assim, a inflação excluindo bens energéticos aumenta gradualmente mas devagar ao longo do horizonte de projeção, "situando-se em 1,5% em 2024", acrescenta o Banco.

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