Alguma melhoria na atividade turística que já pode ter ocorrido neste verão, ainda está longe dos valores de 2019, uma meta que só deverá ser atingida em 2023 ou 2024. No entanto, a secretária de Estado do Turismo admite que o Certificado Digital, em vigor desde julho passado, pode ter ajudado à atividade nos últimos meses. Reitera que as receitas turísticas neste ano podem ascender a cerca de metade de 2019, ano em que atingiram os 18,7 mil milhões de euros, e ficar acima das de 2020. Mas a falta de recursos humanos no setor é uma das lacunas reconhecidas pela governante.
"O Certificado Digital da União Europeia foi, sem dúvida, um marco determinante para a reabertura do turismo, sobretudo no mercado europeu", afirma Rita Marques, em declarações ao Dinheiro Vivo a propósito do Dia Mundial do Turismo que hoje se assinala.
"Essa realidade, juntamente com a evolução do processo de vacinação na Europa, tem permitido que as restrições às viagens no espaço europeu sejam progressivamente aliviadas, e que a população ganhe confiança para recomeçar a viajar. É exatamente isto que sentimos em Portugal e é o que os indicadores nos vão sinalizando: aumento da procura nacional e internacional, maior procura de informação nos motores de busca e websites, crescimento acentuado nas plataformas de reservas globais e de operadores turísticos e aéreos", acrescenta.
O passaporte digital é reconhecido entre os Estados-membros da UE e, talvez isso explique que, em julho, Portugal tenha acolhido mais de 594 mil hóspedes residentes no estrangeiro, responsáveis por mais de 1,8 milhões de dormidas nas unidades de alojamento para turistas. Destes quase 600 mil hóspedes, mais de 126 mil eram residentes em Espanha e mais de 90 mil em França.
O Reino Unido, o principal mercado emissor de turistas para Portugal antes da pandemia, manteve a obrigatoriedade de dois testes PCR para viajantes vacinados que regressassem a casa oriundos de destinos na lista amber, como é o caso de Portugal Continental, o que ajudará a explicar que julho tenha contado com apenas cerca de 51 mil hóspedes britânicos, um número acima do registado no período homólogo de 2020, mas muito abaixo de julho de 2019 (quando foram mais de 233 mil).
"O verão decorreu de acordo com as nossas expectativas. A procura nacional e de mercados emissores de maior proximidade tiveram um melhor desempenho, como se esperava, e mercados mais distantes, em resultado de restrições à mobilidade ainda existentes, tiveram um desempenho mais moderado", assume a secretária de Estado.
Acredita que seja possível neste ano contar com 50% das receitas turísticas de 2019, ou seja, cerca de 9,3 mil milhões de euros (7,7 mil milhões de 2020), mas assume: "Continuaremos a trabalhar para que possamos rapidamente atingir os valores das receitas turísticas verificadas em 2019". "Em 2021, e sobretudo neste 2.º semestre, já estamos a retomar as nossas atividades promocionais, de forma presencial nos mercados externos, as quais esperamos estejam normalizadas em 2022".
As taxas de vacinação são elevadas um pouco por toda a Europa, mercado relevante para Portugal. Apesar da proximidade ao chamado inverno IATA (período entre 31 de outubro e 26 de março), companhias aéreas, como a TAP, têm anunciado um reforço de voos para esse período, por acreditarem que há procura. O afastamento de famílias e amigos devido à pandemia, bem como as viagens de lazer e até de trabalho, que aparentemente estão a retomar, alimentadas pela diminuição de riscos que a vacinação traz, estarão a ajudar ao reforço das perspetivas de um aumento de viagens. E Portugal poderá ser um dos destinos escolhidos.
"O verão correu relativamente bem. Acreditamos que a procura manterá o seu ritmo de recuperação" no último trimestre do ano, aponta a governante.
Qualificação de trabalhadores
Por outro lado, persiste um problema antigo: a falta de trabalhadores. Em fevereiro de 2020, cerca de um mês antes dos efeitos da pandemia afetarem a economia, a associação da restauração e hotelarial AHRESP dizia que faltavam 40 mil trabalhadores para o setor. Rita Marques não quer balizar o problema, mas assume que esta é uma questão preocupante.
"Além de termos de lidar com as cicatrizes que a pandemia deixou - e são enormes, nomeadamente no tecido empresarial - há um grande desafio que se prende com a captação e retenção de talento. Temos que conseguir colmatar as carências de mão-de-obra no setor do turismo. É preciso também requalificar as pessoas que trabalham no setor, quer no privado quer no público, de modo a estarem melhor preparadas para o duplo desafio da transformação verde e digital que o turismo precisa de empreender, para se tornar mais resiliente e competitivo no futuro", diz.