
O corte da remuneração dos Certificados de Aforro no verão de 2023 retirou apetite aos aforristas, penalizando as contas do grupo CTT, que reportou na terça-feira uma quebra de 22% no resultado líquido nos primeiros nove meses do ano, para 27,8 milhões de euros. Mesmo assim, o grupo liderado por João Bento antevê um cenário mais favorável, uma vez que uma nova alteração às regras, no início de outubro, levou à duplicação do valor médio diário de subscrição dos Certificados de Aforro.
Os dados enviados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários indicam que, até à primeira semana de outubro, o valor médio diário de subscrições de dívida pública por dia útil oscilava entre seis e sete milhões de euros. E a partir da semana de dia 7 de outubro, quando o Governo anunciou o aumento dos limites por subscritor, o valor médio diário mais do que duplicou (entre 13 e 16 milhões de euros).
A 7 de outubro, “houve uma alteração nas condições de comercialização dos Certificados de Aforro, anunciada pelo Governo, tendo o limite máximo de aplicação por subscritor aumentado de 50 mil euros para 100 mil euros na Série F e de 250 mil euros para 350 mil euros no acumulado da Série E e F”, dizem os CTT.
“Esta mudança nos limites espoletou um aumento significativo de subscrições no mês de outubro”, salienta a empresa, convicta de que o último trimestre do ano será mais robusto nesta área.
Os títulos de dívida pública comercializados pelos CTT - Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro Poupança-crescimento - geraram 7,2 milhões de euros de rendimentos nos primeiros nove meses do ano, o que representa um tombo de 82,4% em comparação com igual período de 2023.
“Foram efetuadas subscrições no montante de 1053,8 milhões de euros, o que compara com 12,3 mil milhões de euros de subscrição nos nove primeiros meses de 2023”, acrescenta a empresa nas contas reportadas, sublinhando que o desempenho da comercialização de instrumentos de poupança foi “fortemente prejudicado pelas limitações à comercialização introduzidas em junho de 2023 [pelo Governo de António Costa, que decidira baixar a remuneração dos certificados, passando de uma taxa máxima de 3,5% para 2,5% na atual série, quando se atravessava um período de taxas de juro elevadas, que levou a uma corrida aos certificados]”.
O desempenho desta parte do negócio, segundo o grupo, “explica” a quebra de 68,2% dos rendimentos operacionais dos serviços financeiros dos CTT, para 17,4 milhões de euros, no período em análise. Ora, a menor colocação de dívida pública contribuiu bastante para travar o EBIT (lucro antes de juros e impostos sobre o rendimento) recorrente, que recuou 19,7%, para 54,6 milhões de euros, penalizando o resultado líquido consolidado.
App gera 5% das subscrições
Os Certificados de Aforro são dos instrumentos de poupança mais conhecidos e procurados pelos portugueses. Porquê? Atualmente, para além de uma taxa base de 2,5% (na Série F em vigor), têm prémios de permanência que começam no segundo ano com uma majoração de 0,25% e que nos últimos dois sobe para 1,75%, perfazendo uma taxa máxima de 4,25%. Além da taxa base e dos prémios adicionais, os Certificados de Aforro também capitalizam os juros - líquidos de IRS - de três em três meses.
Historicamente comercializados pelos CTT, os certificados são também, desde o início do ano, vendidos pelo Banco de Investimento Global (BIG).
Desde julho que já é possível subscrever certificados de aforro através do AforroDigital, uma aplicação móvel (app) desenvolvida pelos CTT. Antes da apresentação das contas trimestrais de ontem, o DN tinha questionado os CTT sobre a eficiência da app e a evolução da procura dos aforristas. Fonte oficial explicou, então, que desde o início de outubro “foi registado um crescimento de 22% na associação de conta”, o que era “reflexo da conveniência, simplicidade e segurança da plataforma”.
“Desde o lançamento, a 18 de julho, que já se registaram 87 mil operações.” Acresce que cerca de 5% das subscrições surgem a partir da aplicação e, segundo apurou o DN, tem-se verificado uma tendência para haver subscrições de valores menos elevados, mas contínuos ao longo do tempo.
De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2025, o Governo estima que serão emitidos no total 2992 milhões de euros em Certificados de Aforro e que a procura em 2025 aumente para 5968 milhões de euros, quase o dobro.
Em agosto deste ano, o Banco de Portugal fez saber que a verba total alocada pelos portugueses aos Certificados de Aforro ascendia a 33,9 mil milhões de euros.