Certificados de Aforro penalizam contas dos CTT até setembro, mas novas regras já duplicaram subscrições

Procura pelos instrumentos de poupança comercializados pelo grupo postal arrefeceu desde há um ano, mas novos limites anunciados no início do mês abriram o apetite dos aforristas.
Certificados de Aforro penalizam contas dos CTT até setembro, mas novas regras já duplicaram subscrições
Publicado a

O corte da remuneração dos Certificados de Aforro no verão de 2023 retirou apetite aos aforristas, penalizando as contas do grupo CTT, que reportou na terça-feira uma quebra de 22% no resultado líquido nos primeiros nove meses do ano, para 27,8 milhões de euros. Mesmo assim, o grupo liderado por João Bento antevê um cenário mais favorável, uma vez que uma nova alteração às regras, no início de outubro, levou à duplicação do valor médio diário de subscrição dos Certificados de Aforro.

Os dados enviados à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários indicam que, até à primeira semana de outubro, o valor médio diário de subscrições de dívida pública por dia útil oscilava entre seis e sete milhões de euros. E a partir da semana de dia 7 de outubro, quando o Governo anunciou o aumento dos limites por subscritor, o valor médio diário mais do que duplicou (entre 13 e 16 milhões de euros).

A 7 de outubro, “houve uma alteração nas condições de comercialização dos Certificados de Aforro, anunciada pelo Governo, tendo o limite máximo de aplicação por subscritor aumentado de 50 mil euros para 100 mil euros na Série F e de 250 mil euros para 350 mil euros no acumulado da Série E e F”, dizem os CTT.

“Esta mudança nos limites espoletou um aumento significativo de subscrições no mês de outubro”, salienta a empresa, convicta de que o último trimestre do ano será mais robusto nesta área.

Os títulos de dívida pública comercializados pelos CTT - Certificados de Aforro e Certificados do Tesouro Poupança-crescimento - geraram 7,2 milhões de euros de rendimentos nos primeiros nove meses do ano, o que representa um tombo de 82,4% em comparação com igual período de 2023.

“Foram efetuadas subscrições no montante de 1053,8 milhões de euros, o que compara com 12,3 mil milhões de euros de subscrição nos nove primeiros meses de 2023”, acrescenta a empresa nas contas reportadas, sublinhando que o desempenho da comercialização de instrumentos de poupança foi “fortemente prejudicado pelas limitações à comercialização introduzidas em junho de 2023 [pelo Governo de António Costa, que decidira baixar a remuneração dos certificados, passando de uma taxa máxima de 3,5% para 2,5% na atual série, quando se atravessava um período de taxas de juro elevadas, que levou a uma corrida aos certificados]”.

O desempenho desta parte do negócio, segundo o grupo, “explica” a quebra de 68,2% dos rendimentos operacionais dos serviços financeiros dos CTT, para 17,4 milhões de euros, no período em análise. Ora, a menor colocação de dívida pública contribuiu bastante para travar o EBIT (lucro antes de juros e impostos sobre o rendimento) recorrente, que recuou 19,7%, para 54,6 milhões de euros, penalizando o resultado líquido consolidado.

App gera 5% das subscrições

Os Certificados de Aforro são dos instrumentos de poupança mais conhecidos e procurados pelos portugueses. Porquê? Atualmente, para além de uma taxa base de 2,5% (na Série F em vigor), têm prémios de permanência que começam no segundo ano com uma majoração de 0,25% e que nos últimos dois sobe para 1,75%, perfazendo uma taxa máxima de 4,25%. Além da taxa base e dos prémios adicionais, os Certificados de Aforro também capitalizam os juros - líquidos de IRS - de três em três meses.

Historicamente comercializados pelos CTT, os certificados são também, desde o início do ano, vendidos pelo Banco de Investimento Global (BIG).

Desde julho que já é possível subscrever certificados de aforro através do AforroDigital, uma aplicação móvel (app) desenvolvida pelos CTT. Antes da apresentação das contas trimestrais de ontem, o DN tinha questionado os CTT sobre a eficiência da app e a evolução da procura dos aforristas. Fonte oficial explicou, então, que desde o início de outubro “foi registado um crescimento de 22% na associação de conta”, o que era “reflexo da conveniência, simplicidade e segurança da plataforma”.

“Desde o lançamento, a 18 de julho, que já se registaram 87 mil operações.” Acresce que cerca de 5% das subscrições surgem a partir da aplicação e, segundo apurou o DN, tem-se verificado uma tendência para haver subscrições de valores menos elevados, mas contínuos ao longo do tempo.

De acordo com a proposta de Orçamento do Estado para 2025, o Governo estima que serão emitidos no total 2992 milhões de euros em Certificados de Aforro e que a procura em 2025 aumente para 5968 milhões de euros, quase o dobro.

Em agosto deste ano, o Banco de Portugal fez saber que a verba total alocada pelos portugueses aos Certificados de Aforro ascendia a 33,9 mil milhões de euros.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt