Cesta básica ou de luxo?

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Os bens essenciais estão a ficar mais caros. Massas, pão, óleos, rações, carne, leite e ovos são alguns dos produtos que deverão apresentar valores mais elevados nas próximas semanas, por efeito da subida dos preços da energia, em consequência da guerra na Europa. Alimentos como estes integram a chamada cesta básica ou cabaz de compras de qualquer família portuguesa, da mais à menos endinheirada.

A Confederação Empresarial de Portugal (CIP) e a Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) têm vindo a fazer vários alertas no sentido de chamar a atenção do governo para os efeitos desta escalada de preços nas empresas e na economia, em geral. A competitividade das empresas começa a ficar anulada e a erosão do poder de compra dos portugueses já se sente na carteira.

Esta quinta-feira Pedro Soares dos Santos, líder da Jerónimo Martins - um homem que fala pouco e poucas vezes à comunicação social - veio alertar para uma possível "loucura de preços" que poderá marcar as próximas semanas. O dono do grupo que detém, por exemplo, a cadeia de supermercados Pingo Doce pediu "bom sendo à produção" para não fazer disparar o custo. Mas também vai ser preciso muito bom senso do lado do retalho para não penalizar as famílias portuguesas, sendo que muitas têm o dinheiro contado e recontado para conseguir alimentar o agregado durante todo o mês.

Do lado da indústria antevê-se também que o pior está para vir. Ainda antes da guerra, em dezembro último, os preços na produção industrial já tinham subida 20%, um mês depois, em janeiro, aumentaram mais de 30% na zona euro, refletindo já os valores do mercado do petróleo, nos dados comparativos mensais, 2022 face a 2021, do Instituto Nacional de Estatística (INE). O cenário ficará ainda mais grave quando forem contabilizados os efeitos do conflito na Ucrânia e o fechar de torneira do petróleo e gás da Rússia.

Pior, a energia está a disparar e a arrastar outros preços para máximos de 16 anos. Desta vez, só uma decisão conjunta da parte da União Europeia poderá fazer frente a este cenário negro que vai travar todos os crescimentos previstos para os países membros, inclusive Portugal.

Em fevereiro, a inflação subjacente - que exclui energia e alimentos - estava já em 3,2% face ao mesmo período do ano passado, naquele que é um indicador forte da forma como a energia estará a empurrar os preços da generalidade dos bens em Portugal. Só em abril de 2006, há praticamente 16 anos, há registo de subida da mesma ordem. Uma cesta básica mais parece agora uma cesta de luxo!

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