China lidera pedidos de patentes em matéria de redes elétricas

Estudo mostra que UE e Japão lideraram a inovação nesta área entre 2011 e 2022, com 22% das patentes, seguidos dos EUA, com 20%. Mas quota chinesa subiu de 7% em 2013 para 25% em 2022, superando a UE. Ligação nacional aos “grandes protagonistas” chineses pode ser uma oportunidade.
A State Grid Corporation of China detém 25% do capital da REN - Redes Energéticas Nacionais
A State Grid Corporation of China detém 25% do capital da REN - Redes Energéticas Nacionais
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Os avanços na transformação digital e a implantação de fontes de energia limpa estão a impulsionar a inovação em todo o setor. A prová-lo estão os pedidos de novas patentes relacionadas com as redes elétricas, que a União Europeia e o Japão lideraram, entre 2011 e 2022, sendo responsáveis, cada um, por 22% das patentes, seguidos dos EUA com 20%. Mas, em 2022, a China emergiu como a principal região com pedidos de patentes ao nível das redes elétricas, com uma quota de 25%, bem longe dos 7% que tinha em 2013. Para Sandro Mendonça, professor do Iscte e membro da Organização Europeia de Patentes (OEP), a ligação nacional “aos grandes protagonistas da China” ao nível das redes elétricas “é certamente uma oportunidade” para Portugal, na medida em que “está mais perto das fontes inovadoras” nestas novas tecnologias.

Sandro Mendonça é o responsável pelo estudo “Patentes para redes elétricas melhoradas”, elaborado pela OEP e pela Agência Internacional da Energia (AIE), que hoje é divulgado. E considera que as redes elétricas são um “elo perdido” na transição para a sustentabilidade, na medida em que muito se fala em renováveis e em eletrificação de usos, ou seja, na oferta e na procura, mas a compatibilização destas duas realidades “recebiam, até hoje, muito pouca atenção”. Se estas redes forem “sofisticadas” podem garantir “melhor aproveitamento das fontes limpas e mais agilidade do lado do consumo”. 

O estudo revela ainda que as inovações de software “impulsionaram as funcionalidades inteligentes nas tecnologias de redes físicas em 50% entre 2010 e 2022, com as ferramentas de previsão de oferta e procura e o carregamento de veículos elétricos a representarem as duas maiores áreas de crescimento nesta categoria”. 

Em termos de empresas, são nomes como a Siemens, ABB ou a General Electric que estão a liderar a inovação nesta área, razão porque Portugal não surge referenciado no estudo, ao contrário da Alemanha e da França, por exemplo. Mas Sandro Mendonça assegura que o papel de Portugal é “reconhecido como um utilizador líder”, dispondo de grandes operadores que “são ativos na inovação e na gestão dos dados digitais”.

Ou seja, Portugal tem uma performance “muito boa” no seu sistema elétrico, combinando “eficiência e resiliência”, o que significa menos apagões, e a sua estatística de desempenho a este nível “compara muito bem com o resto da Europa”.

Por outro lado, e dado que a UE “ainda não está a conseguir tirar partido da nova vaga da aplicação da inteligência artificial às redes elétricas”, ao contrário da China, Sandro Mendonça considera que o relatório pode ajudar a “encorajar o empreendedorismo” no sistema elétrico. “Até 2030, a Europa vai ter de aplicar centenas de milhões de euros para expandir e reapetrechar as redes e eu acho que aqui pode haver uma abertura de nichos para o empreendedorismo em países como Portugal”, defende.

Os poderes públicos podem ajudar. “Hoje em dia acabou-se o tabu da política industrial. Portanto, certamente que vemos nesta engenharia um nicho capaz de ajudar à exportação de alto valor acrescentado, em algo em que Portugal sempre foi bom, que é nos serviços técnicos. Veja-se o Instituto de Soldadura e Qualidade (ISQ), um exemplo na exportação de consultoria, de novos conceitos e soluções. Creio que uma política industrial pode também olhar para este setor como podendo dar robustez e novas soluções para uma economia como a portuguesa”, sustenta. 

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