Chipre: Resgate de 10 mil milhões provoca corrida aos depósitos

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Cipriotas e residentes estrangeiros nesta ilha

mediterrânica estão "chocados" e procuram retirar dinheiro dos bancos

após o anúncio do plano de resgate da União Europeia, que implica

impostos sobre depósitos bancários.

Após nove meses e 10 longas horas de

negociações, que terminaram de madrugada, os ministros da Zona Euro

acordaram a ajuda, mas vão impor condições sem precedentes.Os depósitos com mais de 100.000 euros irão pagar um imposto

extraordinário de 9.9 %, que cai para 6,7 % no caso das quantias

depositadas serem inferiores, enquanto as empresas terão a sua carga

fiscal agravada até 12,5%.

"O Chipre escolheu a menos dolorosa das soluções", disse o ministro

cipriota das Finanças, Michalis Sarris, acrescentando que o cenário de

bancarrota não estava afastado caso não se tivesse conseguido o acordo

com a União Europeia.

Mesmo assim, o mesmo ministro afirmava no princípio do mês que uma

taxa sobre os depósitos bancários podia ser "catastrófica" para o

Chipre, assim como se referiu a "uma linha vermelha" junto dos

negociadores da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI)

sobre o aumento dos impostos às empresas, que afinal também fazem parte

do pacote de medidas que vão ser aplicadas no país.

Segundo a agência France Presse, o Parlamento de Nicósia deve votar

no domingo o acordo estabelecido, já que segunda-feira é feriado e a

medida tem de ser aprovada antes da abertura dos bancos, na terça-feira

de manhã.

O chefe de Estado, Nicos Anastasiades, apoiado pela direita e eleito

nas eleições presidenciais de fevereiro, regressa à ilha hoje à tarde e

deve reunir-se com o Governo no domingo, de acordo com agência cipriota

CNA.

De acordo com a France Press, as medidas impostas pelo resgate estão a

ser tema de "inflamados debates" nas redes sociais, na internet, e,

logo após a primeira notícia sobre o resgate, dezenas de pessoas foram

vistas a levantar dinheiro através das caixas automáticas dos bancos.

"É uma catástrofe", disse um cipriota de 45 anos, que se encontrava a

levantar dinheiro de uma máquina automática na cidade de Nicósia. "Tudo isto vai fazer com que tenhamos de sair do euro", disse outro habitante da capital à France Presse.

Apesar dos levantamentos de dinheiro que já estão a ser efetuados

pelos depositantes é impossível "escoar as contas" através das máquinas

multibanco porque os montantes que correspondem ao imposto já estão a

ser aplicados neste tipo de levantamentos, assim como foram bloqueadas

transferências a partir de determinado montante, explicou Marios

Skandalis, vice-presidente do Instituto das Contas Públicas do Chipre.

Um director de uma empresa belga em Nicósia mostrou-se também muito preocupado com as medidas que vão ser aplicadas às empresas."Eu não sei se tudo isto vai afectar a minha companhia, mas se a

medida se aplicar às empresas, para nós vai ser a falência", afirmou o

homem de negócios estrangeiro na capital do Chipre."A situação é grave, mas não é trágica. Não há motivo para o pânico",

disse entretanto o porta-voz do Governo Christos Stylianides.Nicolas Papadopoulos, deputado do Diko (partido de centro direita que

apoiou a eleição do chefe de Estado), já se manifestou contra o acordo,

que classificou de "desastroso" para o sistema bancário, que "é um

pilar da economia do país"."Antes eu já pensava que qualquer solução era má para o Chipre, mas

isto é um pesadelo", disse o deputado em entrevista hoje à rádio

estatal."Quero que o Governo me explique porque é que este acordo é a melhor solução", acrescentou o deputado de direita."Os britânicos e os russos vão pensar duas vezes antes de voltarem a

entrar em solo cipriota", escreveu um cidadão do Chipre na internet,

citado pela France Presse e que, como muitos outros, se mostra muito

preocupado com a situação.O Chipre pediu ajuda à UE em junho de 2012, depois de problemas

detetados nos dois principais bancos do país, que acabaram por pedir

ajuda governamental na sequência da crise que afeta a Grécia.Nicósia passa assim a ser o quinto país da Zona Euro a beneficiar de um programa de ajuda internacional. "Nós não penalizamos o Chipre" disse Jeroen Dijsselbloem, responsável pelo Eurogrupo.

"Nós estamos ao lado do Governo cipriota e é este pacote de medidas

que vai permitir a reestruturação do setor bancário" do Chipre,

acrescentou.

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