Cibercrime baseado em criptomoedas afundou em 2020

Apesar de ser atrativo para criminosos, o uso de moedas digitais para práticas ilícitas caiu "significativamente".
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O ano de 2020 foi um ano de crise global devido às medidas adotadas pela maioria dos governos na gestão da pandemia do novo coronavírus. Mas para as criptomoedas foi um ano de sonho. A moeda mais valiosa do mundo, a bitcoin, quebrou todos os seus recordes de preços. "No entanto, a criptomoeda continua atrativa para os criminosos", refere um relatório da Chainalysis. Esta atratividade deve-se "à sua natureza anónima e a facilidade com que permite enviar fundos instantaneamente para qualquer lugar do mundo. Mas "a boa notícia é que o crime relacionado com a criptomoeda caiu significativamente em 2020", adianta o mesmo relatório datado de fevereiro.

Em 2019, a atividade ilícita representou 2,1% de todo o volume de transações de criptomoedas, ou cerca de 21,4 mil milhões de dólares em transferências. Em 2020, a participação ilícita da atividade com criptomoedas caiu para 0,34%, ou dez mil milhões de dólares em volume de transações. "O crime relacionado com criptomoedas está a cair, continua a ser uma pequena parte da economia geral cripto, e é comparativamente menor que a quantidade de fundos ilícitos envolvidos nas finanças tradicionais", frisa o documento.

"O maior mito que você ouve sobre criptomoedas é que elas são usadas principalmente para facilitar a atividade criminosa", disse ao Dinheiro Vivo Bill Hughes, assessor jurídico sénior e diretor de Assuntos Regulatórios Globais da ConsenSys. "Isso simplesmente não é verdade. É uma alegação lançada por pessoas que não gostam de criptomoedas por algum motivo, sem qualquer evidência real e não anedótica para a suportar", adiantou. Frisou que, provavelmente, isso acontece porque "é uma maneira fácil de descartar todo o assunto, em vez de tentar entendê-lo e as suas consequências para o futuro da economia e da cultura mundiais".

Para Bill Hughes, o universo das criptomoedas, "assim como o sistema financeiro tradicional, apresenta alguma conduta ilícita". "Mas não há base para acreditar que haja, percentualmente, mais conduta ilícita em cripto do que em mercados tradicionais", disse. E defendeu que o ambiente cripto "é, na verdade, um ambiente pior para se envolver em atividades ilícitas, como roubo e lavagem de dinheiro", porque "o sistema financeiro tradicional é sombrio, mas não pode esconder-se quando movimenta fundos num blockchain público".

Um criminoso "pode tentar passar de uma rede para outra, mas as tecnologias de rastreamento disponíveis comercialmente tornam esses esforços de evasão cada vez mais difíceis", apontou. Para o diretor da ConsenSys, "o que é notável sobre essa falsa narrativa é que pessoas bem informadas reconhecem que a blockchain é uma ferramenta forense que, na verdade, torna mais provável a investigação e a interrupção de atividades ilegais".

Para prevenir crimes, pode-se "policiar melhor as empresas que ligam o mundo da moeda fiduciária com o das criptomoedas", porque são as portas de entrada usadas para transformar criptoativos obtidos ilegalmente em dinheiro vivo. Depois, "a indústria está a ficar mais sofisticada" e, com o maior amadurecimento, vai reforçar parcerias com as forças policiais.

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