Um dos grandes desafios da modernidade é a chamada Cognitive Warfare (Guerra Cognitiva) que, no fundo, diz respeito às atividades conduzidas em sincronização com outros instrumentos de poder, para moldar atitudes e comportamentos e influenciar a cognição, individual e de grupo, para obter vantagens. Aqui entra também o importante papel da Inteligência Artificial (IA) que tem um enorme potencial de uso disruptivo no domínio político através de análises detalhadas, propaganda direcionada e vídeos falsos, económicos e altamente credíveis.
As inúmeras ferramentas apoiadas por IA são cada vez mais utilizadas para manipular a opinião pública, em uma escala anteriormente inimaginável, ao amplificar a desinformação, especialmente, através das redes sociais. Um bom exemplo deste fenómeno é o caso da China que tem intensificado o uso de estratégias de Cognitive Warfare como parte da sua política e abordagem estratégica para expandir a sua influência global. No caso particular da ação chinesa em relação a Taiwan, este fenómeno é notável, quer através de ciberataques a alvos taiwaneses, com o objetivo de intimidar, quer através da disseminação de desinformação nas redes sociais, muitas vezes incluindo a utilização de deepfakes para manipular a opinião pública.
Uma das estratégias mais comuns é a chamada “Perturbação de Informação” que consiste em publicar informações específicas nas redes sociais para influenciar a compreensão do público-alvo sobre uma situação real e assim moldar a sua perspetiva. “Competição de Discurso” consiste numa abordagem mais subtil e gradual para moldar a cognição, por exemplo, ao espalhar narrativas através de redes sociais e comentários online com o objetivo de alterar gradualmente a perceção pública e, desse modo, atingir eventuais objetivos políticos.
Outra estratégia apelidada “Apagão de Opinião Pública” consiste em inundar as redes sociais com narrativas específicas, principalmente através de bots, para tornar essas narrativas virais e influenciar a orientação da opinião pública. De notar ainda o uso crescente de IA em operações de influência chinesas, principalmente, as ferramentas de ML (Machine Learning) para identificar o público mais suscetível a determinadas narrativas e, em seguida, "disparar" rápida e intensamente essa (des)informação personalizada para os grupos-alvo.
Por fim, a estratégia “Bloqueio de Informação” consiste na realização de ciberataques, bloqueios e até mesmo, destruição física de canais de comunicação de informações do inimigo, com o objetivo de monopolizar e controlar o fluxo de informações, impedindo que um adversário dissemine informação.
A guerra cognitiva chinesa é, portanto, uma ferramenta central na busca de Pequim por uma ordem global mais favorável aos seus interesses, na qual a sua narrativa prevalece e a sua influência é maximizada sem a necessidade de conflitos armados. O sucesso dessas estratégias depende, maioritariamente, da capacidade dos adversários da China, de reconhecer e contrapor-se perante estas táticas fortalecendo as suas próprias defesas de combate à desinformação online. Este é um fenómeno que, embora menos visível que a guerra convencional, tem o potencial de remodelar o cenário geopolítico e geoestratégico, de modo profundo, duradouro e sem retrocesso.
Fundador & CEO da VisionWare. Especialista em Cibersegurança e Investigação Forense