Ainda no âmbito da interação entre o lançamento e adoção de tecnologias inovadoras em ambiente de mercado, abordarei neste artigo a metodologia e representação gráfica denominada de “Hype Cycle (HC)” desenvolvida pela consultora Gartner *1..Trata-se de uma abordagem muito seguida pelas empresas que inovam, pelos seus investidores e também pelos consumidores dos produtos que são continuamente lançados no mercado..A abordagem HC descreve 5 fases que espelham o avanço da maturidade técnica e da maturidade aplicacional (retorno para o consumidor/investidor) de cada inovação tecnológica (que passo a designar por InTec). Espelha as diferenças entre as “promessas” e as “realidades” em cada fase..É um outro olhar sobre uma realidade que o Ciclo de Adoção Tecnológica de Geoffrey Moore, de que falei no artigo anterior, também analisa..As cinco fases do HC são (em minha tradução livre *2): 1) Disparo da Inovação, 2) Pico de Expectativas Inflacionadas, 3) Vale da Desilusão, 4) Encosta do Esclarecimento e 5) Planalto da Produtividade. As fases usam uma nomenclatura topográfica e a sua representação gráfica espelha isso mesmo..Tudo começa com uma InTec concreta e os media mais dedicados a estas questões lançam no mercado a sua descrição técnica mais apelativa. É preciso ser entendido sobre a área em que a InTec se insere para a compreender e a fixar..Na fase seguinte a InTec e o seu nome “de guerra” começam a aparecer mais associados às capacidades de resolução de problemas e de ser aplicada em realidades concretas. Fica no ar a ideia que a InTec é tão brilhante e tão milagrosa que vai ser capaz de endereçar todas as questões. Fazem-se projetos piloto..Após algum tempo, fruto de alguns projetos falhados e/ou incapacidade dos inovadores concretizarem o desenvolvimento técnico prometido, descobre-se que afinal a expetativa era demasiado ambiciosa, exagerada e não exequível. A desilusão acaba por fazer adiar implementações práticas..Mas, pela persistência de alguns fornecedores da tecnologia em aperfeiçoarem a mesma, escolherem bem as áreas de aplicação e selecionarem bons clientes alvo, começa a gerar-se maior esclarecimento dos benefícios reais e os projetos de sucesso começam a despontar e consolidar..Finalmente, entra-se na última fase de adoção da inovação em que passa a existir uma clara relação positiva entre as suas características técnicas e o retorno da sua aplicação em ambiente de produção. É a fase em que a InTec passar a ter relevância em mercado alargado..Existe no conjunto das cinco fases uma relação invertida entre o número de vezes em que a tecnologia aparece referenciada nos media e pelos especialistas e o seu retorno aplicacional e produtivo. Aparece muito mais no Pico de Expetativas Inflacionadas do que no Planalto de Produtividade e no entanto é nesta fase que a tecnologia “faz sentido” e se “integra” no tecido económico real..Na fase 1) todos falam dela e poucos a usam. Na fase 5) todos a usam e menos falam dela..Em geral, todas as InTec desenham um HC mas nem todas avançam por ele à mesma velocidade e algumas nem sequer completam a viagem de modo integral. Ficam pelo caminho..Tal como vimos anteriormente, isso poderá ficar a dever-se a uma combinação de imperfeições técnicas, má interpretação dos requisitos de mercado e deficiente planeamento de um “Go to Market” a nível de Marketing e/ou Vendas..O HC permite, com visibilidade regular, ter um radar sobre as tecnologias lançadas e o estado de maturidade em que se encontram, permitindo adequar melhor timings de investimento..Adotar uma InTec cedo demais por pressa na decisão, tarde demais por indecisão ou fazê-lo no momento certo, faz toda a diferença..*1 Gartner, Inc. é uma companhia de pesquisa de mercado e de aconselhamento e consultoria na área das Tecnologias de Informação e Comunicação..*2 Innovation Trigger, Peak of Inflated Expectations, Trough of Disillusionment, Slope of Enlightenment e Plateau of Productivity..Luís AP Deveza, Consultor de Gestão e TI.