"Há espaço para crescermos e cimentarmos o nosso posicionamento. Esta é uma zona com elevado potencial de exploração e que estava paralisada há mais de sete anos, e essa é mais uma das razões que nos atrai neste negócio." Assim comentava o CEO, Luís Fernandes, na assinatura de um acordo que permitirá à Cimpor dar seguimento à exploração da jazida de pozolana, em Cabo Verde. Trata-se de uma substância resultante de cinzas vulcânicas que têm potencial utilização no fabrico de betão, dadas as características que ajudam a melhorar a impermeabilidade, a durabilidade e a estabilidade deste material essencial à construção.
Para a Cimpor, esta nova concessão é um passo além-fronteiras que deixa o líder da cimenteira portuguesa confiante num futuro de expansão internacional. "A longo prazo esperamos poder servir o mercado cabo-verdiano e até, quem sabe, expandirmos atividade para o mercado internacional", afirmou ainda Luís Fernandes, que lidera a fábrica centenária de Alhandra, bem como a Cimpor Cabo Verde.
O negócio ontem conhecido implica um investimento de três milhões de euros, que dá à cimenteira o direito de explorar aquela concessão durante os próximos 30 anos. De acordo com o comunicado enviado pela empresa, em que dá conta do acordo agora assinado, assume-se a criação de aproximadamente 80 postos de trabalho na ilha de Santo Antão, para responder às necessidades da exploração.
Razão pela qual Luís Fernandes vê ainda mais relevância na assinatura deste acordo com o Estado de Cabo Verde. "É muito importante, não apenas para a Cimpor, mas também para a promoção da dinâmica económica da ilha. E a possibilidade de expansão do negócio é algo que nos alicia ainda mais", assume.
De acordo com a empresa, o arranque da exploração está previsto para daqui a 18 meses, estando o projeto concentrado numa área que ronda os 108 hectares, "prevendo-se reservas de cerca de meio milhão de toneladas". "O projeto confere ainda a expectativa de expansão para os 790 hectares, que se estimam em mais quatro milhões de toneladas de pozolanas" recolhidas, segundo a mesma fonte de informação.
O acordo assinado entre a Cimpor Cabo Verde, cimenteira do grupo OYAK, e Cabo Verde, prevê a exploração da jazida de pozolana em Santo Antão, com o compromisso de contratação de mão-de-obra local e a garantia da empresa de que "irá apostar na formação, quer para transmitir os seus valores de segurança no trabalho quer para passar o know-how resultante de décadas na produção de cimento".
Além da instalação de novos equipamentos móveis e fixos, a Cimpor adianta que se prepara para investir na construção e no desenvolvimento de "uma central fotovoltaica para alimentar a unidade de produção e apoiar as comunidades". "Este projeto vem confirmar o interesse da Cimpor no mercado de Cabo Verde, onde já investiu, desde 2019, cerca sete milhões de euros nas suas instalações em Santiago e no Sal, contribuindo assim para a economia do país e investindo nos recursos humanos locais", conclui a cimenteira.
Com as metas da União Europeia bem presentes e a pressão de atingir a neutralidade carbónica em 2050, a indústria cimenteira tem hoje em mãos o maior desafio que já enfrentou, assumiu recentemente ao Dinheiro Vivo o CEO da Cimpor, referindo-se à mudança de paradigma já em marcha, com ensaios a decorrer sobre alternativas aos combustíveis fósseis que ainda contam para a produção.
"Resolver esta equação tem de passar por duas abordagens: incorporar menos clínquer no cimento sem comprometer a integridade do produto final e capturar o carbono em armazenamento ou para ser introduzido em novas cadeias de valor. E isso requer investigação cuidada e aprofundada, inovação e financiamento avultado", confirma Luís Fernandes, fazendo o retrato de um desafio considerável que a cimenteira, a par da ATIC, associação do setor, tem pela frente. A Cimpor já consegue ter 1% da produção em cimento descarbonatado e quer escalar para 3%.
O cimento gera um volume de negócios de 470 milhões e emprega mais de cinco mil pessoas em Portugal, desenvolvendo toda a linha de produtos integralmente com produção portuguesa.