
Rita Araújo não tinha o objetivo de ser empreendedora, embora a sua família estivesse sempre ligada ao mundo dos negócios. O pai criou a sua própria empresa, e em casa essa realidade era vista como algo normal. Aos 17 anos, sem ter uma ideia clara sobre o seu futuro, optou por estudar Gestão na Católica, movida pelo interesse pelos números e negócios.
A ideia de criar o próprio negócio surgiu no mestrado em Finanças, em Barcelona, na Esade Business School. Foi nessa fase que amadureceu e começou a refletir seriamente sobre o futuro. Dentro de numa universidade que incentiva ao empreendedorismo, Rita passou a envolver-se mais no negócio da família e foi descobrindo como é emocionante identificar boas oportunidades negócio, mas também viu de perto os sacrifícios dos gestores.
Aos 20 anos, no mestrado, teve a primeira experiência de liderança ao assumir a coordenação de um clube de consultoria com foco em empreendedorismo social. À frente de uma equipa de 20 pessoas, envolveu-se em projetos de impacto, como os de startups que apoiavam refugiados.
No final do mestrado, Rita ainda não se sentia preparada para criar o seu próprio negócio. Considerava que não tinha as ferramentas necessárias e, sendo muito jovem, sentia a necessidade de aprender mais. Decidiu então ingressar numa consultora que lhe proporcionasse contacto com várias indústrias e um ritmo de trabalho intenso.
Na McKinsey, passou grande parte do tempo em Madrid e noutras localidades de Espanha, aproveitando os seus conhecimentos e as oportunidades de projetos naquele país. Esses dois anos intensos acabaram por ser decisivos para o seu desenvolvimento profissional.
Decidiu sair para se juntar ao empreendedorismo, integrando a PowerDot, uma startup portuguesa que instala e opera carregadores para veículos elétricos. Lá, adquiriu uma experiência valiosa. “A pessoa que me puxou para lá é hoje o meu sócio. Eu tinha-o conhecido na McKinsey e percebemos que tínhamos os dois esta ambição de um dia criarmos uma empresa nossa. E ficou quase apalavrado na altura que íamos ser sócios. E pronto, depois o caminho alinhou-se”, conta.
“A ideia inicial era criar uma startup para facilitar pedidos e pagamentos em restaurantes, a Pleez. Mas a Covid-19 obrigou-nos a repensar”, recorda Rita. “Decidimos então criar algo mais seguro e voltado para a inovação em serviços tradicionais, e assim surgiu a cleanup, focada em lavandarias.”
“Em paralelo, tive de arranjar outro emprego porque as duas empresas ainda não estavam a descolar e eu não tinha fonte de rendimento”, prossegue Rita. “Estava a começar estes negócios e a trabalhar na EDP ao mesmo tempo como consultora e depois tive outro emprego noutra startup ao mesmo tempo também para ter dinheiro.”
Durante pouco mais de um ano estavam a desenvolver em simultâneo a Pleez e a cleanup, mas eram muitas as dificuldades. “É muito difícil fazer dois negócios ao mesmo tempo crescer”, admite Rita. Então os dois sócios chegaram a um acordo, sem se separar: Afonso Pinheiro focava-se na Pleez e Rita na cleanup, a 100% no início de 2022.
O negócio tinha começado com um modelo de serviços ao domicílio, mas os dois sócios rapidamente perceberam que o mercado em Portugal era limitado. “Percebemos uma oportunidade no segmento empresarial, dos hotéis e alojamentos locais, e focámo-nos nisso. Abrimos uma fábrica, o que nos permitiu escalar o negócio. Hoje, servimos principalmente hotéis de luxo”, conta Rita, já com 30 anos.
“Decidimos dar um salto importante para nos industrializarmos para aquilo que somos hoje. E passámos de operar pequenas lojas para operar uma fábrica, que é como uma fábrica normal, ou seja, tem máquina de início ao fim. A nossa matéria-prima é roupa suja e o nosso produto final é roupa limpa. E cerca de um ano e meio, iniciámos este processo de construir a fábrica que abriu, vai fazer agora um ano”, explica Rita.
“Estamos a falar de um espaço de 1200 metros quadrados onde a roupa entra de um lado suja, passa por uma série de processos de triagem, de lavagem – que tem muito mais ciência do que uma pessoa imagina –, com muita automação, temos máquinas que embalam roupa sozinhas, máquinas que dobram toalhas sozinhas”, descreve Rita. “É mesmo uma fábrica e a roupa sai pronta do lado de lá e nós temos aqui um compromisso com os nossos clientes de entregar tudo em 24 horas, ou seja, tudo o que eu recolho esta madrugada, em 24 horas vai ser entregue novamente ao hotel, e assim ciclicamente sete dias por semana, todo ano.” Este espaço faz o tratamento de seis toneladas de roupa por dia, mas tem capacidade para um dia chegar às 25.
O investimento da cleanup já superou um milhão de euros, e no próximo ano será necessário investir outro milhão de euros. “Temos a sorte de ter sócios [como Filipe de Botton, presidente da Logoplaste, através do Fundo de Investimento da Lusofinança] que entraram e que nos ajudam nesta parte do financiamento. Ao contrário da maioria das startups, o dinheiro que nós gastamos é em maquinaria, ou seja, temos acesso a crédito”, explica Rita. “Como temos contratos de longa duração com os nossos clientes, é uma garantia para os bancos, que de facto vamos ter receita assegurada.” Ao fim de dez meses de abrir a fábrica, alcançaram o breakeven.
O negócio encontra-se em plena expansão, com planos para abrir uma lavandaria hospitalar e atingir a capacidade máxima da fábrica até ao final de 2025. Adicionalmente, prevê-se a inauguração de uma nova fábrica no Algarve. Para acompanhar este crescimento, o número de trabalhadores deverá aumentar dos atuais 34 para cerca de 100, refletindo o ambicioso ritmo de desenvolvimento da empresa.