Em apenas três anos, a empresa de tecelagem de Barcelos já teve de reforçar o parque de máquinas e o número de funcionários para dar resposta à procura crescente de vestuário desportivo.Entrar na Clothius, em Barqueiros, Barcelos, é entrar numa unidade moderna, onde cada tear é controlado por um computador e tudo funciona milimetricamente. Daqui saem os leggins e os top desportivos de grandes marcas internacionais, como a Armani ou a Karl Lagerfeld, mas, também, a portuguesa Prozis. E em breve chegará ao mercado uma marca desenvolvida pela própria Clothius para venda online, que contará com o apoio de três influenciadoras digitais alemãs para ajudar à sua promoção. Mais pormenores só lá para meados de março..Foi na Impetus, nos primeiros anos do milénio, que Jorge Vale começou a trabalhar com a tecnologia seamless, inicialmente usada quase só para roupa interior, mas que, com o passar do tempo, começou a ser usada por todas as grandes marcas internacionais para o vestuário desportivo. Convicto das potencialidades desta área de negócio e da falta de capacidade de resposta no mercado nacional, decidiu avançar com uma unidade própria. Detentor do know how, encontrou um parceiro disposto a financiar o projeto e, assim, nasceu a Clothius em finais de 2017..A fábrica, em Barqueiros, Barcelos, arrancou com cinco pessoas e 22 máquinas de seamless, uma espécie de teares tubulares de onde sai a peça já quase pronta, e uma unidade de tinturaria específica, num investimento de 4,9 milhões de euros. Mas, o ano passado, já teve de investir mais 600 mil euros na compra de mais cinco máquinas, para dar vazão às encomendas. E é provável que não fique por aqui. “Possivelmente teremos que fazer algum reforço pontual lá para meio do ano, mas é algo que ainda vamos estudar”, diz Jorge Vale..Para já, a Clothius tem uma capacidade de produção de cinco mil peças ao dia, sendo que a fábrica labora 24 horas por dia, seis dias por semana. Hoje dá emprego a 65 funcionários, entre gabinete de design e desenvolvimento, unidade produtiva, tinturaria, confeção, acabamentos, expedição e comerciais, sendo que, só em 2019, contratou 30 pessoas. Um processo que não foi fácil. “Em maio e junho chegamos a ter máquinas paradas por falta de trabalhadores. Não há formação técnica exterior às empresas na tecnologia seamless, pelo que percebemos rapidamente que tínhamos de os formar internamente. E fomos muito bem sucedidos nessa aposta. Hoje temos equipas sólidas, com um grupo de pessoas que têm mais de 20 anos de experiência na área e que estão a integrar, muito rapidamente, os novos trabalhadores”, explica..O facto de se tratar de uma unidade tecnologicamente avançada, ajudou. “Os jovens têm muito a ideia que a têxtil ainda é aquela coisa suja, o pavilhão com cotão, e aqui perceberam que não é nada disso. O facto de termos instalações novas ajuda, mas todo o ambiente é muito mais tecnológico, mais limpo. As operações são totalmente controladas por computador, mas, por isso mesmo, precisamos de pessoas muito rigorosas e exigentes, para haver um filtro muito rigoroso no processo produtivo, eliminando quaisquer problemas logo à nascença”, refere Jorge Vale. Há que ter em conta que uma peça em seamless, uns leggins por exemplo, sai do tear já com os diversos padrões, letras, logotipos e etiquetas devidamente tricotados na peça..Com vendas que triplicaram, em 2019, para os quatro milhões de euros, a Clothius exporta 95% do que produz, maioritariamente para o mercado inglês, alemão e italiano, além de algumas vendas esporádicas para os mercados nórdicos. Os 5% que fatura em Portugal são com um único cliente, a Prozis. A Falke, Karl Lagerfeld e Giorgio Armani são outras das grandes marcas que abastece, sendo que tem vindo a apostar crescentemente em bloggers e influenciadoras digitais, com grande sucesso..A inglesa Grace Beverley é disso exemplo, com a marca TALA que, em 30 minutos apenas, esgotou 15 mil peças online. “Foi a primeira experiência e foi avassaladora. Teve um poder de vendas que nos absorveu até ao final do ano. O facto de ser uma marca muito sustentável, assente em fios e materiais reciclados, revelou-se uma combinação explosiva”, refere o responsável da Clothius..Que prepara já novos projetos, designadamente o lançamento, já em março, de uma marca de desporto para venda online, em plataformas alemãs e inglesas, e que contará com o apoio de três influenciadoras alemãs para lhe dar visibilidade. A expectativa é que só esta marca assegure dois milhões de euros de vendas em 2020, num total de sete milhões que a Clothius tem projetados. Em termos de novos mercados, a empresa admite alguma vontade de chegar aos Estados Unidos. “Temos um cliente americano para o qual fazemos coisas muito específicas, mas queremos explorar um pouco mais o mercado e perceber onde nos podemos posicionar. Temos consciência que há questões alfandegárias a ter em conta, mas é um mercado muito apetecível pela sua dimensão”, sublinha.