Colheita excecional de café impede aumento do preço em 2024

Previsões apontam para um excedente de produção mundial. Mas é provável que os estabelecimentos comerciais subam o preço do “expresso” para colmatar a subida de outros custos.
Organização Internacional do Café projetou um incremento homólogo de 5,8% na produção global de café em 2023/24, para 178 milhões de sacas.
Organização Internacional do Café projetou um incremento homólogo de 5,8% na produção global de café em 2023/24, para 178 milhões de sacas.Leonel de Castro/Global Imagens
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O preço do café deverá manter-se estável em 2024, uma vez que a estimativa de produção da colheita 2023/24 é superior à previsão do consumo mundial. Há, no entanto, algumas incertezas devido à crise no Mar Vermelho. Os ataques dos Huthis aos navios comerciais estão a obrigar as transportadoras marítimas a utilizar rotas alternativas, elevando o custo e o tempo de transporte. O conflito impacta essencialmente o café proveniente do segundo maior produtor do mundo, o Vietname. Para equilibrar a balança, o Brasil - líder mundial na produção de café - afirma-se apto a responder ao mercado. Em Portugal, há vários fatores que permitem afastar eventuais aumentos do preço em 2024, mas não é de excluir uma subida do “expresso” nos estabelecimentos comerciais, devido à pressão inflacionista sentida nos últimos anos. 

Tiago Alexandre Correia, economista do BPI, lembra que a Organização Internacional do Café (OIC) projetou um incremento homólogo de 5,8% na produção global de café em 2023/24, para 178 milhões de sacas, valores que traduzem um ano excecional de safra. Em simultâneo, a OIC prevê um aumento do consumo em 2,2%, para 177 milhões de sacas. Estas previsões admitem um excedente de um milhão de sacas. A OIC revelou também no início deste ano que as exportações globais de café em novembro aumentaram 4,1% em relação ao ano anterior, para 10,6 milhões de sacas, aponta o analista.

Este aumento da produção chega numa altura em que há novas regras de recertificação do café armazenado. Até dezembro do ano passado, altura em que entraram em vigor os novos critérios, os armazenistas cotados na Intercontinental Exchange recertificavam o café que estava guardado há mais tempo e vendiam-no como novo. Mas a revisão das regras ditou o fim dessa prática. Para Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa, as alterações na cotação do café na bolsa de mercadorias de Nova Iorque, sobretudo as relativas à recertificação do café armazenado, “podem voltar a impulsionar os baixíssimos níveis de stocks de café registados nos últimos 20 anos, contribuindo para a diminuição das cotações”. Como afirma, “é previsível um aumento dos stocks não apenas pelas novas regras nos mercados internacionais, mas também pelas boas colheitas, favorecendo uma queda das cotações do café” e, deste modo, “uma manutenção do preço do café em Portugal”.

Há, no entanto, a ter em conta que as reservas de café proveniente do Vietname atingiram um novo mínimo, com os agricultores a acumularem grãos e a aguardarem preços mais altos. “As perturbações no transporte marítimo através do Mar Vermelho também estão a aumentar as preocupações, tendo alguns importadores comprado menos grãos do Vietname devido aos elevados custos de transporte”, esclarece Tiago Alexandre Correia. Do Brasil, chegam boas notícias nesta matéria. Os exportadores têm condições para manter o bom ritmo das vendas de café durante o início de 2024.

Em Portugal, e devido à evolução referida dos mercados internacionais, não há razão para subidas de preço. Mas Vítor Madeira, analista da XTB, alerta que os estabelecimentos comerciais podem aproveitar o ano de 2024 “para fazer aumentos “extraordinários” por forma a aumentar as margens de lucro ou, por outro lado, colmatar o aumento dos preços de todos os custos relacionados com mão-de-obra obra, rendas, eletricidade, etc.” Na sua opinião, “será de esperar um aumento até ao final do ano de 2024 a rondar os 0,1euros no expresso”.

No ano passado, “foram fatores externos, como os aumentos exponenciais de moeda por parte dos bancos centrais para fazer face aos problemas económicos derivados do covid e da guerra da Ucrânia”, que encareceram as matérias-primas e fizeram aumentar os preços do café, explica Vítor Madeira. “Posteriormente, sendo o café uma matéria-prima agrícola, estando exposta ao clima, às colheitas e às existências, o preço do café nos distribuidores para os estabelecimentos como cafés, pastelarias, restaurantes, sofreu subidas substanciais ao longo do ano de 2023”. 

Os dados do Instituto Nacional de Estatística não permitem identificar o real aumento do preço do café no país, já que no Índice de Preços no Consumidor este produto está integrado na sub- categoria “Café, chá e cacau”, que registou uma inflação média em 2023 de 10,3%, acima da inflação média global que ficou nos 4,3%. Tiago Alexandre Correia realça ainda que os preços do “Café, chá e cacau” registaram uma subida mais forte do que os dos “Produtos Alimentares e bebidas não alcoólicas” como um todo, no final do ano, com a inflação homóloga a situar-se nos 6,8% e 1,7%, respetivamente.

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