Como a inteligência artificial está a alterar o setor financeiro

A introdução de soluções à base de inteligência artificial está a ganhar destaque no setor bancário. Segundo um estudo promovido pela Sixty Degrees, a deteção de fraudes é uma das áreas que mais podem beneficiar com esta tecnologia que também acarreta alguns riscos.
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A inteligência artificial (IA) tem estado, cada vez mais, presente em várias áreas dos mercados financeiros. E a recente pandemia veio acelerar o investimento nesta tecnologia, principalmente por parte do setor financeiro. Uma aposta que pode ajudar na deteção de fraudes, por exemplo, mas que também pode trazer alguns riscos em áreas como a avaliação de risco de crédito. As conclusões são de um estudo divulgado pela gestora de ativos Sixty Degrees sobre a utilização de inteligência artificial nos mercados financeiros.

A ideia de realizar esta análise partiu de Sofia Guerra, vencedora do concurso ChampionChip 2020 organizado pela Católica Porto Investment Club, que teve a Sixty Degrees como patrocinadora oficial. Ao Dinheiro Vivo, a aluna do mestrado em Finanças, na Católica Porto Business School, explicou que a escolha do tema recaiu no facto de se tratar de um tema "importante e atual" pelas "mudanças significativas que já está a impor à área financeira".

Após analisar os dados e informações recolhidas, Sofia Guerra não tem dúvidas em concluir que apesar de notar alguns desafios, a introdução de tecnologias avançadas de inteligência artificial nos mercados financeiros "trouxe, e trará, mais vantagens do que desvantagens. Isto porque "a quantidade de dados gerados pelos seres humanos ultrapassa, em muito, a capacidade dos mesmos em absorver, interpretar e tomar decisões complexas com base nessa informação, de forma rápida e consistente". Segundo o mesmo estudo, a implementação destas soluções tecnológicas permite, por exemplo, a otimização de processos demorados, o aumento da eficiência e o reconhecimento de padrões e irregularidades que de outra forma passariam despercebidos aos seres humanos. "Considero, por isso, que a IA estará na base de grande parte das futuras tomadas de decisões complexas", sustentou.

Embora a inteligência artificial seja um campo amplo que envolve uma variedade de abordagens desenvolvidas ao longo do tempo, a ideia de fazer com que a máquina aprenda por meio de observações (denominada Machine Learning) tornou-se na técnica predominante na maioria das aplicações atuais. "A máquina aprende as regras por si mesma a partir dos dados, chegando aos resultados sem a interferência do ser humano, que programa o sistema". É o caso das recomendações personalizadas da Netflix, onde o sistema aprende os gostos e as preferências do utilizador.

Uma aposta em crescimento

O uso destas tecnologias avançadas tem sido visível em várias áreas dos mercados financeiros como na gestão de portfólios, trading, avaliação de risco, deteção de fraudes e robo-advisors. Esta última solução - que assenta em programas que fornecem conselhos de investimento adaptados às necessidades e preferências utilizadores - tem captado a atenção de investidores jovens e experientes em tecnologia, como a Geração Y (millennials).

Apesar da sua crescente utilização, a adoção de IA nos serviços financeiros está ainda na sua infância, de acordo com um inquérito da Deloitte citado no estudo. "Das empresas inquiridas, 40% estavam a aprender como a IA poderia ser implementada nas suas organizações, 11% não tinham iniciado atividades relacionadas com a IA e apenas 32% estavam a desenvolver ativamente soluções" com base nesta tecnologia. Uma tendência que tenderá a aumentar.

Como explicou Sofia Guerra, "nos dias de hoje, verifica-se que a tecnologia, mais propriamente a IA, ocupa cada vez mais espaço nas prioridades estratégicas do setor bancário, tanto a nível nacional como internacional. Uma prova evidente é o simples facto de qualquer cliente de serviços bancários poder fazer inúmeras operações sem recorrer a um balcão, utilizando apenas as plataformas digitais (App"s, portais, etc.) do seu prestador de serviços financeiros". Para sublinhar a importância que esta tecnologia está a ganhar no setor, lembrou ainda que o regulador do setor, o Banco de Portugal, "tem em curso o desenvolvimento de uma ferramenta digital que utiliza IA e que permitirá reconhecer irregularidades em contratos de crédito".

Para a autora do estudo, uma das áreas que mais poderão beneficiar com a implementação da IA é a deteção de fraudes. Porquê? "Este tipo de sistemas permite a criação de algoritmos que processam grandes conjuntos de dados e muitas variáveis, ajudando a encontrar as correlações ocultas entre o comportamento do utilizador e a probabilidade de fraude que não seriam encontradas através de uma simples análise de um humano", referiu. Contudo, alerta que a introdução massiva da IA na área da avaliação de risco de crédito pode acarretar diversos tipos de riscos, constituindo por isso um dos maiores desafios à sua aplicação no setor bancário. "Isto acontece porque os algoritmos frequentemente utilizados pelas instituições financeiras exibem muitos dos mesmos preconceitos humanos, uma vez que são alimentados através de bases de dados enviesadas por décadas de desigualdades nos mercados de habitação e de empréstimos". Ou seja, desta forma, "o credor poderá não ser capaz de explicar as inúmeras rejeições na concessão do crédito, podendo com isso vir a incorrer em acusações de preconceito ou discriminação quanto, por exemplo, ao género, à raça ou orientação sexual dos seus clientes", apontou.

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