Quando eu estava no sétimo ano, entrou uma rapariga nova para a turma. Chamemos-lhe Selena. Vinha de uma cidade grande, e sabia tudo — como vestir-se, as letras das canções, falar com os professores. Até já tinha falado francês em Paris. Alguns colegas de turma estavam fascinados, outros estavam irritados. Quanto a mim, senti que precisava de competir com ela. Decorei algumas letras de canções e chateei a minha mãe para me comprar roupas que me pareciam sofisticadas e dignas de cidade grande. Ainda demorei alguns meses a perceber que não é possível competir com os sabichões. Quando eu começava a pôr-me a par, a Selena dava um passo em frente. E depois, quando já estava há algum tempo connosco, ficou à-vontade e acalmou a sua atitude, deixando-me a mim a parecer a sabichona da turma.
Embora ninguém me tenha deixado uma impressão tão forte como a Selena, conheci muitos sabichões ao longo dos meus anos nos Recursos Humanos. Muitos deles, como a Selena, encontram-se em circunstâncias que são novas para eles. Alguns chegam de uma fusão, outros são contratados para trazer novas capacidades ou experiência a um grupo de trabalho. O seu primeiro impulso é dizer, “Quando eu estava na Grande Empresa, fazíamos assim”, sem perceberem que os novos colegas não estão minimamente interessados no que eles faziam na Grande Empresa.
Estes sabichões estão inseguros do seu estatuto no grupo e tentam marcar posição. Uma dessas recém-chegadas aos RH disse-me que sabia tudo acerca de outplacement e eu não, porque ela tinha despedido muito mais pessoas do que eu. Dessa vez, não tentei competir com ela. Em vez disso, esforcei-me para que se sentisse confortável na sua nova posição e, quando isso começou a funcionar, ela acalmou o seu comportamento de sabichona. Se o seu sabichão for novo na organização, pode começar por tentar essa abordagem.
Contudo, os sabichões por vezes não são recém-chegados. Alguns ganham a mania que sabem tudo por causa do seu sucesso. Com esses é mais difícil lidar, sobretudo se forem nossos superiores. Acreditam, devido ao reconhecimento de que são alvo, que sabem realmente tudo. E, devido ao seu sucesso, sentem-se no direito de dizer aos outros como fazer as coisas, até ao mais ínfimo pormenor. Eis como trabalhar com um sabichão, onde quer que este se encontre na hierarquia da empresa:
Se for gestor ou mentor de um sabichão
Neste caso, terá a obrigação de lhe dar feedback. Faça-o saber que a sua atitude está a ter um efeito negativo sobre a sua carreira. Tenha o cuidado de ser credível, mantendo o feedback específico, relativamente a algo que observou com os seus próprios olhos.
Se o sabichão não lhe reportar diretamente, mas for um colega
Cabe-lhe a si decidir se deve dizer alguma coisa. Considere o vosso relacionamento: se é amigável e confortável, talvez faça sentido ter a conversa. Comece por pedir permissão: “Posso falar contigo acerca de uma coisa?” Isso ajuda a começar a conversa com o pé direito. Em seguida, fale daquilo que observou diretamente, pondo a ênfase na perícia do colega e nas consequências de a ostentar: “Todos sabemos que és especialista nesta área, mas quando deste logo a resposta, a Nancy e o Jorge calaram-se, porque não tinham tido tempo de pensar bem nas coisas e dar as suas próprias respostas. Reparaste nisso?”
Não é boa ideia tentar isto com um colega que não conheça bem ou com o qual não tenha um bom relacionamento. Isso podia ser visto igualmente como um comportamento de sabichão. Espere até ter estabelecido uma relação de confiança ou experimente algumas das técnicas abaixo, destinadas a lidar com um chefe sabichão.
Se o sabichão não lhe reportar diretamente nem for um colega, mas sim o seu chefe
Vá com cuidado. Seguem-se algumas regras gerais a manter presentes caso se encontre neste cenário mais grave:
Regra #1: Se o assunto não for importante, deixe passar. Deixar que os sabichões prossigam sem lhes dizer nada pode ser frustrante e aborrecido, mas poupa as suas forças para quando estas forem realmente necessárias.
Regra #2: Se o sabichão está errado e é importante convencê-lo a considerar outra opinião, tem de arranjar maneira de criar alguma distância entre a pessoa e as suas crenças. Experimente estas técnicas:
Pergunte-lhe “Já alguma vez…”
Esta pergunta incentiva o sabichão a falar numa experiência de sucesso resolvida de outra maneira. Por exemplo: “Já alguma vez decidiu avaliar um dos seus vendedores tradicionais? Como é que fez?” Perguntar “Então e se…” também leva os sabichões a verem as coisas de maneira diferente: “Então e se nós puséssemos este contrato a concurso? Acha que conseguíamos um acordo melhor, mesmo do fornecedor habitual?”
Peça tempo para obter dados
Pode dizer, “Parece-me uma boa decisão, mas deixe-me confirmar. Reunimos na próxima semana e, entretanto, vou tentar saber como o nosso pessoal vê o serviço de qualidade deles”.
Analise os riscos
Neste caso, pode dizer, “Existem alguns riscos reais. Queremos ter a certeza de que os nossos produtos não têm um defeito importante causado por este vendedor. Podemos ser responsabilizados. E se eu verificasse isto junto dos nossos advogados e gestores de risco?”
Regra #3: Se conseguir convencer um chefe sabichão, tenha o cuidado de lhe atribuir os créditos. Por exemplo, “O chefe quis que eu verificasse com os advogados os riscos deste contrato, e decidimos…” Não elimine o seu papel na situação, mas faça questão de atribuir também uma parte da decisão ao sabichão.
E tenha sempre presente que, quer o sabichão seja alguém que lhe reporta diretamente, um colega ou um chefe, nunca devemos entrar em competição. A competição não mudará o comportamento do outro, e nós é que acabaremos por parecer uns sabichões.