Compasso para fazer crescer europa tem de ter capital de risco
Manter o statu quo já não é uma opção. Este é o pensamento chave da comissão europeia no que diz respeito ao futuro estratégico da europa, onde cabe também o alerta relativamente à competitividade lançado por Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu durante a crise do euro. Na sequência do relatório e recomendações produzidas pelo emblemático líder da política monetária europeia, foi lançada pela comissão europeia o compasso para a competitividade, que tem como principal prioridade acelerar uma agenda de aceleração da inovação empresarial, e que funciona sobre três eixos. O primeiro passa por colmatar o défice de inovação em relação aos principais concorrentes da União Europeia, o segundo é ligar a descarbonização e a competitividade, e por fim reduzir as dependências europeias de terceiros e aumentar a segurança da europa comunitária.
Numa primeira reflexão, importa salientar que em tempos de novas regras de política e geopolítica internacional, é absolutamente relevante para a Europa reagir numa série de frentes, sobretudo no capítulo da inovação. O objetivo deste programa é abordar os desafios existenciais que a economia europeia enfrenta, e isso é positivo. Sobretudo porque ataca desde logo o maior problema para crescer, que é a carga burocrática e com isso promover um mercado único mais integrado. A estratégia busca reduzir as barreiras comerciais, impulsionar os fluxos de investimento entre os estados-membros e melhorar o acesso ao financiamento. Ou seja, fazer com que a União Europeia seja atrativa e muito mais acessível para todas as empresas europeias crescerem.
Numa segunda linha de inferência, importa dizer que os principais problemas na União Europeia, para além das barreiras regulatórias, o acesso limitado ao capital tem sido um dos principais obstáculos para iniciar ou expandir negócios na Europa. Esses têm sido os principais fatores por trás da adoção tardia e dos avanços de novas tecnologias no continente. E isto reflete-se depois nos resultados, sendo que atualmente existem apenas quatro empresas de tecnologia europeias entre as cinquenta maiores do mundo, e o crescimento da produtividade europeia tem sido lento. De acordo com dados da Comissão Europeia, o capital de risco disponível privado pelas sociedades de investimento para investir em empresas e projetos da UE empresariais em fases embrionárias (seed), ou iniciais (early stage) são respetivamente cerca de 80% e 73% inferiores ao que existe nos Estados Unidos. Ou seja, o capital importa, e criar o ecossistema Sillicon Valley europeu é essencial para cumprir o compasso europa, e reduzir o diferencial de inovação e competitividade para com os principais rivais económicos no novo campo geopolítico. China e Estados Unidos.
Numa última reflexão, é importante concluir que de facto, criar a estratégia é essencial. Mas também é essencial referir que a União Europeia precisa de não apenas deste compasso, mas também de acelerar o passo. O relatório produzido por Draghi refere a necessidade de disponibilizar 800 mil milhões de euros anuais para este propósito. Mas a extensão do programa Compasso não detalha qualquer plano concreto neste sentido, ou em como é seriam angariados estes valores. Acresce que as posições fiscais dos países membros já se encontram bastante delicados, pelo que a solução terá de passar por criar as condições para que o capital de risco tenha interesse em apostar nas empresas europeias, e para que isto aconteça é absolutamente necessário criar condições de confiança e uma cultura completamente diferente a nível europeu, mais amiga dos investidores. Porque a alternativa é serem os estados a investir. E isso tradicionalmente acaba mal, e sem resultados.
*Luís Tavares Bravo é Economista, Presidente do Internacional Affairs Network