Comprar, financiar ou recorrer ao renting? Conheça as tendências do mercado

Efeitos da guerra na Ucrânia têm dificultado o acesso dos consumidores aos veículos novos, mas dados do mercado mostram que a opção de aluguer a longo-prazo é cada vez mais uma realidade
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O setor automóvel tem vindo, ao longo dos últimos anos, a enfrentar alterações significativas na forma de fazer negócio - são cada vez mais os fabricantes que oferecem soluções de financiamento, leasing e renting diretamente aos clientes, eliminando intermediários. A mesma tendência de comunicação direta com o consumidor verifica-se no número crescente de marcas automóveis que procuram concretizar as encomendas e as vendas de veículos num processo totalmente online. No Barómetro Automóvel de julho - uma iniciativa da TSF e do Dinheiro Vivo com apoio do Standvirtual -, que contou com representantes da Cofidis e da LeasePlan, analisaram-se as tendências de mercado e esclareceram-se as principais dúvidas sobre as diferentes formas de adquirir um carro novo ou usado.

Mas o que é e como funciona, afinal, o renting automóvel? Trata-se de um aluguer operacional de longa duração em que o veículo novo é entregue ao consumidor a troco de uma renda mensal fixa. Esta mensalidade pode incluir diversos serviços associados à gestão do automóvel, como a manutenção, o seguro, o Imposto Único de Circulação (IUC), entre tantos outros. Para o cliente, a principal vantagem passa por não ter de se preocupar com os custos de manutenção do automóvel, bem como com o valor de revenda do veículo. "O renting é muito flexível. Quando o contrato termina, o cliente devolve o carro e nós vendemo-lo no mercado de usados", explica António Oliveira Martins, diretor-geral da LeasePlan Portugal. Chegado ao final do contrato, o consumidor pode optar por subscrever um novo contrato, recebendo um veículo novo que terá de devolver no final do prazo acordado - normalmente, cerca de três anos.

Relativamente à propriedade, o veículo mantém-se sempre em nome da empresa de renting e terá de ser devolvido, no fim, "em condições normais de desgaste". Durante a vigência do contrato, o consumidor terá de cumprir algumas regras, nomeadamente seguir o plano de manutenções indicado pela entidade e recorrer à rede de parceiros definida no contrato.

No entanto, esclarece António Oliveira Martins, o contexto mundial tem influenciado negativamente a operação normal do renting. "A procura [por soluções de renting] aumenta, a oferta é que é muito escassa. Diria que, talvez pela primeira vez nas últimas décadas, enfrentamos uma situação em que a dificuldade não é encontrar clientes, é encontrar automóveis", afirma. Em causa estão os efeitos da guerra na Ucrânia, que tem provocado uma escassez de "metais, alumínio e cablagens" que, associado à anterior crise dos microchips, tem contribuído para a interrupção constante da produção automóvel em todo o mundo.

As consequências são claras: menos veículos novos disponíveis, menos veículos usados no mercado e preços inflacionados pela maior procura. A LeasePlan compra, anualmente, cerca de 20 mil automóveis novos e vende o mesmo número de usados. "Este ano vamos comprar 10, 11 mil carros novos", exemplifica o responsável. Este atraso na produção e na entrega de veículos obriga a que os contratos de renting sejam prolongados por falta de automóveis que possam substituir os usados. "Já temos carros com data prevista de entrega para final de 2023", lamenta.

Crédito ainda é opção preferencial
Embora os dados recentemente divulgados pela Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) mostrem que, no primeiro semestre deste ano, houve um aumento de 11,4% de viaturas novas em renting, o financiamento continua a ser uma das opções preferidas pelos consumidores. Em particular nos automóveis usados, como explica Licínio Santos, administrador da Cofidis Portugal. "Neste primeiro semestre ultrapassámos, por pouco, os 200 milhões de euros de financiamento no que respeita ao crédito automóvel", detalha. Cerca de 90% de todas as operações da financeira neste mercado são referentes a carros usados e apenas 10% corresponde a viaturas novas.

Ainda que o tema do aumento das taxas de juro, à boleia da inflação, possa representar uma dificuldade adicional para quem tem crédito à habitação, Licínio Santos diz que, no caso do crédito automóvel, o impacto é menor. "A subida das taxas de juro não tem impacto porque só trabalhamos com taxas fixas", contextualiza, explicando, porém, que "poderemos vir a fazê-lo". A mensalidade, os encargos e as condições são, reforça, fixos e transparentes desde o início do contrato. Para Nuno Castel-Branco, diretor-geral do Standvirtual, "o financiamento tem um peso muito significativo" na compra de automóvel e isso reflete-se nos dados da plataforma de comércio online. Segundo o responsável, os stands automóveis que trabalham com a financeira "acabam por receber o dobro dos leads de financiamento do que um parceiro que também trabalhe o financiamento, mas que não esteja ligado a uma entidade tão visível".

A compra digital é cada vez mais uma tendência na indústria, existindo várias marcas - como a Tesla ou a Polestar, por exemplo - que já estão a apostar nesta solução. O mesmo acontece com a subscrição de crédito ou renting, que também está a aumentar nas compras realizadas online. "Em conjunto com a LeasePlan, vamos testar a opção do renting no Standvirtual para carros novos", anunciou ainda Nuno Castel-Branco, prometendo a chegada desta opção para depois do final do verão.

O responsável máximo da plataforma de comércio automóvel acredita ainda que o renting poderá ser uma boa opção para os consumidores que optem por veículos elétricos e que não queiram preocupar-se com o valor de revenda três, quatro ou cinco anos depois.

Barómetro: vendas continuam a cair
No agregado dos primeiros seis meses do ano, o mercado de veículos novos continua a registar perdas significativas. "Vemos uma queda na linha dos 9,4%, o que é significativo", contextualiza Nuno Castel-Branco, que realça, porém, que a venda de veículos de "energias alternativas" representam praticamente 40%. "Os 100% elétricos representam cerca de 11%", acrescenta. À semelhança do que os dados de barómetros anteriores têm vindo a evidenciar, "há muita procura e muita falta de oferta, nomeadamente nos elétricos, em que temos mais de 50% de procura". O resultado são preços mais elevados, menos disponibilidade de veículos usados nacionais e, por consequência, o aumento das importações de usados.

Todos os meses, a TSF, o Dinheiro Vivo e o Standvirtual juntam-se para um novo episódio do Barómetro Automóvel, um espaço que privilegia a análise do setor, o esclarecimento de dúvidas e o debate sobre o futuro da indústria.

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