Em meados dos anos 2000, quando as redes sociais ainda não se chamavam redes sociais, o Hi5 era a plataforma que ligava milhões de pessoas pelo mundo inteiro. Cada utilizador tinha um perfil, com nome, foto e e-mail. Era uma espécie de lista das páginas amarelas digital, em que se podiam fazer contactos. Os membros podiam-se adicionar uns aos outros, e a partir daí entrar no messenger para conversar. O messenger era na altura o chat do Hotmail, e não o messenger do Facebook que existe hoje em dia com o mesmo nome. Li, na altura, que a taxa de infidelidade começou a crescer a pico desde que o hotmail messenger se massificou. O Hi5 foi a primeira rede social global e a maior no mundo entre 2006-2008. O Hi5 era muito simples de usar, e talvez por isso, se tornou extremamente popular.
Em 2009, possivelmente devido ao crescimento do Facebook, a empresa mudou de direção e transformou-se numa plataforma de gaming social. E do Flickr alguém se lembra? O Flickr não desapareceu, mas perdeu muita relevância quando o Instagram nasceu em 2010. O Instagram apresentou-se como sendo uma app de partilha de fotos com filtros de polaroid, apenas disponível para smartphone. Era uma inovação. Até então o MySpace, Flickr e Hi5 só estavam disponíveis para desktop. O Flickr foi a primeira rede social de partilha de fotografias, para amantes da fotografia. Era enorme. Ainda hoje tenho "amigos" do Flickr com quem mantenho contacto noutras redes sociais.
Comecei a usar Facebook em 2007 achei muito parecido com o Hi5, com a diferença de que oferecia instant messaging e news feed. Lembro-me de ter achado muita graça quando lançaram a funcionalidade de dar like aos posts. Era o início de algo que mudou o mundo no século XXI, tal como a televisão no século XX. Quantas e quantas vezes usei o messenger para me encontrar com alguém; já entrevistei e fui entrevistado através do Facebook; algumas destas entrevistas transformaram-se em contratações; organizei várias festas através dos eventos do Facebook; quando mudei de São Paulo para Nova Iorque, foi lá que vendemos toda a mobília. Nunca precisei de usar uma imobiliária para alugar o apartamento de Lisboa. Como imigrante, sempre foi uma ferramenta altamente útil, para poder estar em contacto, não só com família e amigos de Portugal, mas para estar a par das notícias e do que se passa no meu país. Foi lá que encontrei amigos que não via há muitos anos e com quem ainda hoje mantenho contacto. Se não ligava à minha mãe logo de manhã, era através do Facebook que ela sabia que eu estava bem. Dizia "quando abro o Facebook e vejo que comentaste ou deste algum like, já sei que estás bem". O Facebook faz parte das minhas manhãs há 12 ou 13 anos, é a primeira página que abro.
Há uns dias, no Facebook, alguém postou um vídeo dos Xutos&Pontapés num grupo de música de que faço parte. Comentei que gosto muito dos Xutos, enquanto banda, mas que nunca gostei das músicas deles. Um amigo, que já não vejo há muito tempo mas de quem gosto muito, comentou logo a seguir "Desculpa, mas não concordo. Para gostares de uma banda precisas de gostar da música que eles fazem". Este comentário foi inofensivo e sem qualquer malícia, mas fez-me tomar consciência do exagero que isto se tornou. Algo de muito errado se passa nas redes sociais. Alguém tem de dar sempre a sua opinião e só há duas hipóteses: ou se concorda ou se discorda. E o tom em certos assuntos, tal como a politica ou futebol, é visceral. Amigos de décadas, pessoas da mesma família deixaram de se falar por causa de discussões nas redes sociais. É uma tendência que tem quatro ou cinco anos e que se está a tornar insuportável.
As redes sociais tornaram-se lugares de crucificação, de destilação de ódio. Como é que se combate toda esta toxicidade e voltamos a desfrutar de tudo o que de bom têm para nos oferecer? Venham daí os vossos "concordo e discordo", ou então sugestões. Construtivas ou nonsense, as sugestões são sempre bem-vindas!
North American Executive Creative Director na VMLY&R NY