Condições para uma recuperação rápida e robusta

Os líderes europeus parecem ter começado a assumir uma atitude mais responsável e construtiva.
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Num artigo publicado neste mesmo espaço, afirmei que não bastaria a atuação isolada do Banco Central Europeu para garantir que os países europeus - e particularmente os mais vulneráveis - pudessem responder a esta crise com força suficiente.

Entretanto, os mercados financeiros internacionais começaram a mostrar nervosismo, com as taxas de juro da dívida soberana de alguns países, incluindo Portugal, a subir para máximos de mais de um ano.

O fraco resultado alcançado pelos ministros das Finanças no seio do Eurogrupo e algumas declarações reveladoras de inflexibilidade e incompreensão do que está em jogo terão contribuído para esta evolução.

Felizmente, no Conselho Europeu do passado dia 23, os líderes europeus parecem ter começado a assumir uma atitude mais responsável e construtiva, que os mercados não tardaram a refletir no regresso das taxas de juro a níveis mais baixos.

No entanto, muito ficou por decidir e é preciso garantir que o anunciado Fundo de Recuperação constituirá, de facto, um instrumento comum capaz de mobilizar o financiamento necessário para permitir que a resposta orçamental à crise esteja, em todos os países europeus, à altura das necessidades.

Se não o for, teremos na Europa uma resposta desigual a esta crise, provocando sérios problemas de concorrência no seio do mercado único, agravando divergências, alimentando sentimentos antieuropeus. De facto, já é possível constatar que a resposta orçamental está a ser significativamente mais forte em países com uma situação financeira mais sólida, como a Alemanha.

Por isso, entendi expressar à presidente da Comissão Europeia, em nome das empresas portuguesas, a urgência de propostas adequadas para este Fundo, que deverá ser constituído, até ao máximo possível, por subvenções, de forma a não sobrecarregar o futuro dos países que já têm elevados níveis de endividamento. Deve também ser fácil e rapidamente mobilizável, em proporção às dificuldades causadas pela crise e sem condicionalidades descabidas.

Aliás, esta é a mesma lógica que tenho defendido internamente para as medidas nacionais de apoio ao emprego e à tesouraria das empresas. Tal como os Estados, as empresas não precisam de mais endividamento, mas de espaço para serem motores de uma recuperação robusta. Espero, da parte do governo, a mesma coerência na reconfiguração das medidas com vista à recuperação económica.

As empresas portuguesas têm demonstrado estar à altura das suas responsabilidades. São inúmeros os exemplos de capacidade de readaptação. Rapidamente, de uma situação de dependência externa de bens indispensáveis no quadro da crise sanitária, passámos a exportadores de alguns desses bens.

No momento em que se perspetiva já alguma reabertura de mercados, as empresas esperam que também os decisores políticos, ao nível europeu e ao nível nacional, estejam à altura das suas responsabilidades e lhes proporcionem condições que tornem possível uma recuperação rápida e robusta.

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