Os dados da Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas (APETRO) são claros: nos primeiros três meses deste ano, o consumo de combustíveis rodoviários líquidos aumentou 9,1% face ao período homólogo de 2022. No total, foram vendidas mais 119,2 mil toneladas entre gasolina e gasóleo, em relação ao período entre janeiro e março do ano passado, e mais 34,5 mil toneladas, quando comparado com os últimos três meses de 2022. A acompanhar a tendência estão os resultados do dinamismo económico do país desde o começo de 2023, bem como a redução no custo por litro do gasóleo..A recuperação da atividade de transporte de mercadorias é um dos fatores para a subida das vendas de combustíveis, considera André Matias de Almeida. O porta-voz da Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) diz que existe "um aumento de consumo de combustíveis de 10% só dos veículos pesados porque, de facto, se verifica um aumento da atividade". Se tivermos em conta os números da APETRO, entre janeiro e março, as vendas de gasóleo aumentaram 8,1% face ao mesmo período em 2022, e 3,6% em relação ao último trimestre do ano passado. Mas se André Matias de Almeida não tem dúvidas sobre este crescimento no consumo de combustíveis, o responsável acredita também que a tendência se irá inverter nos próximos meses. A razão, aponta, está nos preços praticados em Espanha.."As empresas transportadoras com veículos matriculados em Portugal e registados em Espanha vão ter direito a receber um auxílio extraordinário e temporário [em Espanha]. Estamos a falar de 20 cêntimos por litro no primeiro trimestre e 10 cêntimos no segundo trimestre", enquadra. André Matias de Almeida dá o exemplo de um associado, "uma das maiores empresas do setor em Portugal", que abastecia "cerca de 100 mil litros por mês" no país, valor que aumentou 15 vezes no primeiro trimestre e que, agora, com o novo desconto em Espanha, voltará a reduzir o seu consumo nacional para 100 mil litros mensais. "Não tem havido uma sensibilidade tão grande do governo português como do governo espanhol para este tema, o que torna muito mais atrativo o abastecimento em Espanha para o transporte", resume o porta-voz. Vale a pena recordar que, já em maio, o governo português prorrogou o apoio extraordinário ao gasóleo profissional, com efeitos retroativos a 1 de janeiro, e que prevê a devolução de 17 cêntimos por litro abastecido entre janeiro e 30 de junho. Há, porém, um limite de 50 mil litros anuais por viatura..Economia portuguesa em alta Portugal foi o segundo país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) cujo PIB mais cresceu nos primeiros três meses do ano (1,6% face ao trimestre anterior), um resultado que apanhou o governo de surpresa e que ajuda a explicar o aumento das vendas de combustíveis. Por outro lado, foi também no primeiro trimestre que se registaram quedas relevantes no preço médio por litro de gasóleo. De acordo com a Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), o gasóleo simples caiu de 1,621 euros por litro em janeiro, para 1,532 euros em março. Já na gasolina, as descidas foram inferiores a 2 cêntimos por litro no mesmo período..Do lado dos profissionais dos transportes de mercadorias, a ANTRAM mostra-se cautelosa em relação à evolução do setor até ao final deste ano. "A maior parte dos transportadores não conseguiu aumentar os custos nos seus clientes, o que era essencial face ao período altamente inflacionista que vivemos", lamenta André Matias de Almeida..Carregamentos elétricos batem recorde Quando a neutralidade carbónica é um desígnio nacional, reforçado depois de o governo ter antecipado a meta para 2045, também os carregamentos elétricos na rede pública têm registado aumentos significativos. Só entre janeiro e março, o aumento da utilização na Mobi.E foi superior a 76%, quando comparado com o período homólogo de 2022. "É a transição energética no setor automóvel a acontecer", considera Luís Barroso, presidente da empresa pública..Segundo números da Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE), as vendas de veículos 100% elétricos e híbridos plug-in cresceram 78,2% no primeiro trimestre, face a igual período no ano passado. A penetração de veículos eletrificados tem vindo a aumentar nos últimos anos, assim como a capilaridade da rede pública de abastecimento gerida pela Mobi.E, que só este ano viu instalados 157 novos postos de carregamento. "Isto dá um ritmo médio de 28 postos por semana", destaca Luís Barroso. O objetivo nacional, previsto no Plano de Recuperação e Resiliência, é atingir o marco de 15 mil pontos de carregamento no país até 2025. Neste momento, existem 6145 espalhados de norte a sul. "Estamos a cumprir os objetivos", assegura o responsável.