Contabilistas: os desafios que a profissão enfrenta

Muitas vezes incompreendidos e estigmatizados pelo trabalho desenvolvido, a imagem que grande parte do público tem do trabalho dos contabilistas é redutora e, até mesmo, confusa. Se não for um empresário ou trabalhador por conta própria que necessite dos seus serviços de forma regular, a maioria das pessoas recorre a estes profissionais apenas em momentos chave do ano fiscal, com forte incidência nos meses de entrega do IRS e do IVA.
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Num mundo mais justo, não haveria qualquer dúvida a esse respeito, os contabilistas são profissionais com competências alargadas, que não se podem resumir apenas à gestão e organização de contabilidade.

Assumem igualmente uma posição central no normal desenvolvimento das atividades económicas junto das empresas com um pensamento estruturado. Também ao nível fiscalidade, gestão financeira e planeamento dos negócios, o seu conhecimento e qualificações é devidamente reconhecido. Devem, ainda, definir as premissas necessárias para a implementação de medidas competitivas junto de empresas e entidades com as quais colaboram, para, dessa forma, garantir o cabal cumprimento legal dos seus deveres.

Isto faz com que o trabalho do contabilista não seja, ao contrário do que a maioria das pessoas possa pensar, algo estanque e formatado, sendo essencial para estes profissionais que os mesmos tenham tempo para tratar das vastas obrigações que lhe são imputadas.

Tudo isto num mundo perfeito. Mas que está longe de o ser.

De facto, os contabilistas estão muito longe de exercerem as suas funções fundamentalmente numa perspetiva macro.

Tantas vezes, é no contacto diário com os mais variados agentes que a profissão de contabilista é mais reconhecida. Desde logo, porque assume cada vez mais o papel de intermediário privilegiado entre a administração tributária, a segurança social, as empresas e cidadãos. Com isso, assiste-se a um aumento das suas obrigações mensais num menor tempo de cumprimento. Resultado, os contabilistas acabam por estar disponíveis para dar todo o apoio e suporte legal aos seus clientes de forma contínua, mas também sobrecarregados com obrigações declarativas, requerimentos e prazos - o que compromete a qualidade do trabalho.

No entanto, o panorama atual está a mudar. O mundo pode não ser perfeito, mas é capaz de se regenerar. Isto, depois de 2 anos de pandemia, onde o trabalho remoto e a tecnologia foram essenciais para a manutenção e continuidade de muitas profissões - e onde a contabilidade não foi exceção.

Esta mudança de paradigma parece trazer consigo uma reorganização interna, onde a digitalização é essencial, ao permitir uma maior facilidade de trabalho, a agilização de processos e com a criação de um impacto positivo para técnicos e, até, clientes. Mas também a criação de uma pegada ecológica reduzida e sustentável, através da poupança e redução do desperdício de papel.

Quero acreditar que estes processos se traduzirão na elevação da profissão, na sua atualização e renovação. Espero que assuma maior proatividade, com uma gestão processual mais assertiva, o que se traduzirá numa poupança de tempo e de dinheiro.

A digitalização é um grande desafio, desde logo, porque há que responder a uma nova geração de profissionais, familiarizada com o conceito e com esta nova e natural forma de trabalho. Por outro, importa não descurar muitos outros profissionais do setor, principalmente os de idade mais avançada, com formas de trabalho já enraizadas e habituados a lidar com anos e anos de papel, caneta e calculadora.

A perda de tempo em atividades rotineiras que podem ser agilizadas em tecnologia já disponível, e que facilita todo o processo de trabalho, é uma realidade. Software como o Centralgest, por exemplo, é um instrumento precioso que veio dar um "boost" ao setor, e com isso facilitar a reorganização interna, para além de permitir que a atividade se desenvolva de forma mais desmaterializada.

O contabilista deve aumentar o leque das suas competências, mesmo em tempo de crise, posicionando-se como imprescindível para a tomada de decisões económicas e financeiras. Desta forma, irá ao encontro das necessidades dos clientes e do mercado, para de uma vez por todas se assumir de vital importância num mundo em crescente mudança.

Sérgio Ramos, cofundador e CEO da empresa Numeric Consulting Group

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