Costa Alentejana está 100% cheia

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Nos anos 60, ir de Lisboa ao Algarve podia levar 10 horas. Tal como agora, descia-se o Tejo, passava-se por um longo Alentejo e depois de muito cansaço encontrava-se a margem mais a sul do país.

A história que levou Frank McClintock a Santa Clara a Velha, no concelho de Odemira, assemelha-se à destes portugueses do século XX. Inglês nascido em África, saiu do Reino Unido para conhecer Portugal já lá vão mais de 20 anos. A meta era o Algarve, mas quando passou pelo Alentejo não quis descer mais: comprou uma herdade, mudou-se para lá e criou "um paraíso" de turismo rural para partilhar com visitantes.

No Sudoeste alentejano os alojamentos deste tipo têm crescido em força. Só no concelho de Odemira já existem 33 espaços do género, a que se juntam três em Alcácer do Sal, seis em Grândola, dois em Sines e dez em Santiago do Cacém. Ao todo, nestes cinco concelhos que abarcam a costa litoral, existe capacidade para albergar 857 pessoas em simultâneo. Os espaços são pequenos, com ambiente familiar, e realçam o melhor da região: praia e campo. Os preços variam entre 65 e 180 euros para os quarto duplos e entre 100 e 280 no caso dos apartamentos, com tipologias T1 e T2.

"É muito diferente de um hotel porque as pessoas podem estar à vontade", explica Nuno Vilas Boas, um dos primeiros da região a transformar uma propriedade familiar num espaço de turismo rural. O Verdemar nasceu há 20 anos, quando Nuno trocou o seu restaurante em Amesterdão por uma taberna rústica perto de Cercal do Alentejo. Com a mulher, Christine Nijhoff, acabou por fazer nascer um alojamento com sete quartos duplos, um amplo jardim e refeições que aliam a sua profissão aos sabores da terra. Funcionam no verão e param no inverno para descansar e promover o espaço. "Também sentimos a crise, mas não tanto como nos grandes hotéis". Para este ano esperam uma quebra de 15 a 20%, apesar da lotação total em agosto. A culpa é dos turistas nacionais, que pedem estadias cada vez mais curtas. "A moda é ficar três dias e seguir viagem".

No Monte do Adaíl, este verão, tal como os anteriores, também está seguro. Cerca de 20 pessoas por noite, 600 por mês, com 100% de lotação para agosto, revela Vasco Monteiro, proprietário do alojamento aberto há seis anos entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes. Vasco ainda não olha para a crise e por isso impõe limites no número de dormidas, para contrariar o toca e foge dos clientes. "A estadia mínima são dois dias na época baixa e uma semana na alta, mas este ano está pior".

O sentimento é partilhado por Balthasar Tueb, proprietário do Três Marias, situado entre Porto Covo e Vila Nova de Milfontes. Ali, a rota vicentina, que percorre os 340 Kms de costa que ligam Santiago do Cacém ao cabo de São Vicente, tem ajudado fortemente o negócio. Por isso Balthasar diz que ali "a receita não se limita ao verão". A época alta ainda é ocupada em cerca de 2/3 pelos portugueses, mas a indecisão dos nacionais é cada vez maior. "Antes marcavam com muita antecedência, agora marcam, desmarcam, aparecem, não aparecem. Como não se decidem por um local, vêm e ficam duas noites no máximo".

Esta mudança de atitude tem-se refletido no sector. Em maio, a queda no número de dormidas de turistas nacionais foi de 10,4% e provocou novos recuos nos resultados da hotelaria em geral. Para este verão espera-se uma continuação da tendência e como a região alentejana é ocupada em cerca de 80% por portugueses, é fundamental olhar para fora.

É por isso que vários alojamentos de turismo rural do Sudoeste Alentejano se juntaram à Organização Casas Brancas. Quando um estabelecimento já não tem vagas passam a informação aos 33 'vizinhos'. Sofia do Vale, uma das proprietárias da Herdade do Freixial, situada em Vila Nova de Milfontes, lembra que o isolamento não contribui em nada: "O negócio tem estado a correr muito bem, estamos a 100%, porque marcamos presença em vários locais, como as Casas Brancas ou o Booking.com", a que se juntam operadoras internacionais. As vantagens saltam à vista: "Os estrangeiros vêm mais tempo, não se queixam tanto e não pedem descontos". Ficam uma a duas semanas.

"Não sentimos quebras, especialmente pela fidelização dos clientes", diz Rui Graça, proprietário dos espaços Naturarte (Campo e Rio), dois alojamentos rurais próximos de São Luís, Odemira. Há quem vá todos os anos e há até quem vá todos os meses - movimento que contraria os efeitos da população envelhecida e do desemprego, o mais elevado do país (11,3% no segundo trimestre).

Pelo Alentejo português o turismo rural conta com 4500 camas, revela o presidente do Turismo do Alentejo, António Ceia da Silva. Como diz, é "um segmento fundamental e que qualifica o destino". Fatores que levam a que o Alentejo tenha "uma oferta diferenciadora".

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