Na mensagem de Natal, difundida na noite de dia 25 de dezembro de 2021, António Costa, primeiro-ministro (PM), discorreu sobre o que, no seu entender, é o bom curso da economia, do emprego e da confiança.
"Seguramente não conseguimos chegar sempre a tempo, nem sarámos ainda todas as feridas. Apesar do emprego já ter recuperado plenamente e de termos retomado um crescimento robusto, não podemos perder o foco no esforço nacional de recuperação."
"E devemos fazê-lo com a confiança de um Povo que, tendo superado cada etapa desta pandemia, é capaz de se superar, de encarar o futuro com esperança, continuando a ser extraordinário nos tempos de normalidade e tranquilidade porque todos ansiamos", disse o PM à audiência televisiva na noite de Natal.
Emprego
"O emprego já recuperou plenamente", acenou António Costa, primeiro-ministro, na sua mensagem de Natal de 2021.
Certo, mas... Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o emprego (indicador corrigido da sazonalidade) já recuperou plenamente, ou seja, já regressou aos níveis pré-pandemia desde maio passado. Há sete meses.
Antes da pandemia, o emprego atingiu um máximo histórico em Portugal em setembro de 2019, muito à boleia da explosão do turismo e atividades relacionadas, por exemplo. Havia 4,771 milhões postos de trabalho preenchidos nessa altura.
E mesmo nas vésperas da pandemia, o nível continuava muito elevado. Segundo o INE, estavam empregadas 4,762 milhões pessoas em Portugal em janeiro de 2020.
Depois de um colapso enorme provocado pelas pesadas medidas de confinamento no início de 2020, o emprego viria a afundar para 4,573 milhões de pessoas, mas depois foi recuperando, muito apoiado nas medidas públicas que financiaram empresas para que estas não despedissem e mantivessem os postos de trabalho. Medidas como o lay-off simplificado ou o apoio à retoma.
Em maio desde ano, já com o país a sair da terceira e mais letal vaga da pandemia covid-19, o emprego venceria a tal meta: chega a 4,777 milhões de pessoas, ultrapassando o nível pré-pandemia. E depois disso reforçou. Atingiu um novo máximo histórico em setembro último, com 4,836 milhões de postos de trabalho.
No entanto, em outubro, os dados provisórios do INE indicam que pode ter havido uma primeira quebra mensal no volume de emprego, o que não acontecia desde janeiro de 2021, o pior mês desta pandemia. O emprego caiu para 4,822 milhões de casos, menos 14 mil postos de trabalho do que em setembro.
Acresce ainda a questão da qualidade e do tipo de emprego que está a ser criado. Boa parte da criação líquida de emprego acontece nos patamares salariais médios ou baixos, sendo cada vez maior a predominância do salário mínimo (mais de 25% do emprego total).
Além disso, o emprego público está a crescer de forma muito rápida, o que ajuda a sustentar a realidade desejada por Costa para o mercado laboral.
Retoma da atividade
Quanto ao músculo da retoma, quando o primeiro-ministro diz que teremos já "retomado um crescimento robusto", aí as opiniões e as leituras dividem-se neste preciso momento, até por causa do agravamento da pandemia e das novas restrições à atividade e ao ajuntamento de pessoas.
O Banco de Portugal referiu, esta semana, que "num contexto de incerteza decorrente da atual evolução da pandemia, na semana terminada a 19 de dezembro, o indicador diário de atividade económica (DEI) aponta para uma redução da taxa de variação homóloga da atividade".
Aliás, essa travagem da economia começou logo no início de dezembro e o indicador do banco central (média móvel da semana que terminou no dia 19) diz que a economia, neste momento, pode estar estagnada, tendo já começado a dar sinais de quebra desde dia 9, mostra o BdP.
O otimismo de Costa terá mais a ver com a injeção de confiança dada recentemente pelo seu ex-ministro das Finanças, Mário Centeno, que agora governa o Banco de Portugal, e pela OCDE, quando a 2022.
Em 2022, a economia portuguesa deve registar, segundo as novas previsões do Banco de Portugal (BdP) e do Banco Central Europeu (BCE), a maior convergência real com a zona euro desde que esta foi criada, em 1997/1998.
No novo boletim económico, o banco central de Centeno, ex-ministro das Finanças, deu um importante impulso de confiança relativamente à capacidade de Portugal sair da crise pandémica e, ato contínuo, superar em larga medida a retoma da zona euro.
A nova previsão do BdP para 2022 foi inclusivamente revista em alta, de 5,6% para 5,8%, contrariando a tendência projetada pelo BCE que cortou a retoma da área da moeda única de 4,6% para 4,2%.
Resultado: se estas previsões forem assim, Portugal vai crescer 1,6 pontos percentuais mais do que a média do euro no ano que vem. É preciso recuar até 1998 para encontrar um valor superior (1,8 pontos).
No entender do Banco de Portugal, a nova vaga da pandemia e os confinamentos que lhe estarão associados, mais as disrupções nos fornecimentos globais de mercadorias e matérias-primas primas, não vão ser suficientes para diminuir o ímpeto de retoma da economia portuguesa em 2022.
Haverá alguns percalços na atividade nos primeiros meses do ano que vem, mas depois, no segundo semestre, os problemas devem dissipar-se num ambiente globalmente "benigno", antecipa o banco central, que assim contraria o pessimismo da sua chefe no BCE, Christine Lagarde, que considera muito perigosa esta nova fase de fecho da economia contra o avanço na nova variante ómicron do coronavírus que provoca a covid-19.
Confiança
António Costa também elogia a ajuda que a confiança dos portugueses está a dar ao País e à retoma. Mas há um senão. A confiança esteve a recuperar este ano, é certo, mas o INE deixou recentemente um alerta.
"O indicador de confiança dos consumidores diminuiu em outubro e novembro, de forma significativa no último mês, após ter aumentado nos dois meses anteriores", avisa o instituto.
Além disso, o indicador de clima económico "diminuiu em novembro, tendo vindo a apresentar um comportamento irregular desde julho".
"Os indicadores de confiança diminuíram em novembro na Construção e Obras Públicas e no Comércio, de forma significativa no primeiro caso", mas "o indicador de confiança aumentou em novembro na Indústria Transformadora, contrariando a diminuição observada no mês anterior, e nos Serviços, prolongando o movimento do mês anterior".
Portanto, há incertezas e novas sombras a formarem-se e não são poucas, nem negligenciáveis.