Mais de 90% dos créditos à habitação em Portugal são indexados a uma Euribor. Isto porque até há pouco tempo a prestação de um crédito a taxa variável sempre foi mais baixa do que a de a taxa fixa.
Porém, a subida das taxas Euribor tem feito diminuir a diferença entre a taxa fixa e a taxa variável nos novos contratos de crédito habitação. Qual será o tipo de taxa de juro que compensa mais atualmente? Comecemos pelas diferenças entre as duas.
Como o nome indica, esta taxa varia ao longo do prazo do contrato do crédito à habitação. A taxa de juro do financiamento resulta da soma de duas componentes: o spread - que é definido pelo banco - e o indexante ou taxa de referência, mais conhecido por Euribor.
Conforme o prazo escolhido da Euribor - três, seis ou doze meses -, a prestação do crédito habitação é revista. Assim, a taxa de juro vai subir ou descer, refletindo as alterações da Euribor, tal como a prestação a pagar.
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Para perceber o impacto da Euribor na prestação do empréstimo, veja o exemplo:
Imagine um casal que começou a pagar, em janeiro de 2021, um crédito à habitação no valor de 120 mil euros a 30 anos. O contrato foi feito com um spread de 1,25% e com a Euribor a seis meses. A Euribor a considerar para este caso refere-se a dezembro de 2020 e era de -0,519%. Com estas condições, o casal tem um encargo de 381,25 euros com a prestação do seu crédito.
Se recuarmos até antes da crise financeira que assolou o mundo, janeiro de 2008 por exemplo, um crédito com as mesmas condições representava uma prestação de 724,79 euros. Isto porque a Euribor a seis meses em dezembro de 2007 se situava nos 4,819%.
Pode perceber o efeito que a Euribor tem no crédito habitação. Durante alguns anos, as taxas Euribor estiveram em valores negativos, o que foi benéfico para os clientes. Ainda assim, tendo em conta que um crédito à habitação tem por norma um prazo bastante alongado, é preciso ter em conta que o cenário pode mudar, como é o caso atual.
No caso dos créditos à habitação a uma taxa de juro fixa, tal como próprio nome indica, esta mantém-se igual durante todo o prazo dos empréstimos.
Esta taxa é definida pelo banco ou instituição de crédito, tendo em conta fatores como o risco de crédito do cliente, o rácio entre o valor do empréstimo e o valor do imóvel - designado por loan-to-value (LTV) -, as garantias do cliente e o risco de fixação da taxa de juro durante o prazo estabelecido.
A prestação de um crédito a taxa fixa é mais alta do que a prestação indexada à Euribor. Ao optar por uma taxa de juro fixa, o cliente tem um encargo maior, mas não corre o risco de ver a sua prestação aumentar. Mas, também deve estar consciente do contrário, isto é, se a Euribor descer, a sua prestação não será reduzida.
Perante o cenário atual de subida dos juros, a diferença entre a taxa variável e a taxa fixa tem vindo a encurtar. De acordo com dados do Banco de Portugal, em março, os novos contratos de crédito à habitação com taxa variável tinham um juro médio de 3,79% (mais 0,23 pontos percentuais do que em fevereiro), enquanto nos empréstimos a taxa fixa, a média foi de 4,28% (mais 0,08 pontos percentuais face ao mês anterior). É uma diferença de 0,49 pontos percentuais entre as duas taxas, inferior a 0,64, em fevereiro, e 0,83 em janeiro.
Isto quer dizer que que a vantagem de contratar uma taxa variável, em relação a uma taxa fixa, tem ficado cada vez menor, devido ao agravamento da Euribor.
A grande vantagem da taxa fixa no crédito à habitação é saber com o que contar todos os meses, já que a prestação não muda com o contexto económico-financeiro. E, perante o cenário atual de subida acentuada dos juros, a opção pela taxa fixa pode revelar-se vantajosa e gerar poupanças relativamente à variável.
Porém, imagine-se que a Euribor começa a descer. Se tiver uma taxa fixa, a sua prestação não vai reduzir.
Não existe, portanto, uma resposta certa a esta questão. Deve calcular a sua taxa de esforço e perceber até que valor consegue suportar todos os meses, antes de tomar uma decisão.