Crescer bem

Publicado a

Há dias, atingiu-se o ponto em que "passamos a viver a crédito", isto é, já consumimos a totalidade dos recursos que o planeta é capaz de renovar num ano. Se o padrão fosse o português, essa data teria acontecido cerca de dois meses mais cedo. Sob pena de destruirmos não o planeta, mas as condições para que seja habitável, alguma coisa tem de mudar.

Cada um de nós pode, e deve, ir fazendo a sua quota-parte, consumindo menos e fazendo escolhas mais sustentáveis. Não chega. Vai ser preciso alterar o modelo de produção e consumo. Um diagnóstico destes é suficiente para que se reanimem os discursos do "crescimento zero" ou, até, do decrescimento. Num artigo curto, e em tempo de férias, não há espaço para discutir as implicações de uma ideia que tem tanto de apelativa, como de difícil implantação, para não falar da agenda ideológica subjacente. Fiquemo-nos, por isso, pela referência a um livro que surgiu este verão e que veicula uma visão otimista: "Growth for Good", de Alessio Terzi. O título joga com as palavras, associando "crescer" à ideia de persistência, para sempre, mas dando-lhe um bom propósito. O sub-título esclarece: "Remodelar o capitalismo para salvar a humanidade da catástrofe climática". Terzi coloca as alterações climáticas e a desigualdade no centro das preocupações. Contra a corrente defende, porém, que a resposta a esses problemas requer a dinâmica e os recursos que só uma economia de mercado será capaz de providenciar. Três "I" emergem como centrais: inovação, investimentos e incentivos. O autor acredita que, com as políticas adequadas, a rivalidade levará a que surjam opções que pouparão recursos, aproveitarão outros e o farão, na produção e no consumo, de forma mais equitativa. A tecnologia é, no processo, um aliado, não o inimigo. Há cuidados a ter: serão precisas políticas que compensem quem trabalha nos setores carbono intensivos, para evitar resistências. Embora a abordagem seja, aqui ou ali, algo voluntarista, é uma leitura adequada a tempo de férias (noutra altura, para formar opinião, leia um pessimista).

Alberto Castro, economista e professor universitário

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt