Depois de anos em mãos estrangeiras, João Portugal Ramos voltou a trazer a clássica marca de aguardente vínica CR&F para mãos portuguesas em 2016. A Carvalho, Ribeiro e Ferreira comemorou 125 anos a 9 de dezembro e, com um pequeno lote de uma aguardente muito velha, João Portugal Ramos apostou no lançamento de 1895 garrafas de uma edição comemorativa da fundação exatamente no ano de 1895.
Pode uma marca centenária inovar e ser empreendedora? É isso que o novo proprietário pretende: "Vamos tentar fazer aguardentes mais diferenciadas , procurando engrandecer a categoria. Vamos fazer mais lotes, estamos na dúvida se em 2021 se em 2022, mas será uma XO (categoria que corresponde a uma reserva com envelhecimento superior a 30 anos) e em produções pequenas", admite.
Para já, os 125 anos da marca justificaram uma edição comemorativa com "uma aguardente muito velha, a origem dela é a região de Lisboa onde tudo começou. Era um lote muito velho que tínhamos, são 1895 garrafas, o que ao todo não chega a 1500 litros. Fizemos uma escolha criteriosa de barricas e temos uma aguardente curiosa, que denota a idade que tem, com mais de 50 anos. O eng.o Mário Louro que já tinha estado 28 anos na CR&F, diz, de uma forma engraçada, que é uma aguardente com uma cor verde lindíssima."
Cada garrafa desta edição limitada tem um preço de 285 euros e João Portugal Ramos reconhece que pode ajudar a reposicionar a CR&F. "O nosso core business são as versões Extra e Reserva, mas, no futuro, prevê-se mais lançamentos de produtos raros", até porque há uma nova tendência no mercado: "Queremos continuar a consolidar a marca, que tem uma quota de mercado invejável em Portugal e notamos que há uma tendência, na faixa dos 40 anos, de substituir whiskys por aguardentes nacionais. Os ingleses têm uma frase que é never mix grain with grape. Quando se faz uma refeição a vinho deve-se terminar com um produto da mesma origem, e não misturar um cereal. E isso nota-se imenso, cada vez mais há pessoas de 30 ou 40 anos a terminar uma refeição" com uma aguardente vínica, diz.
O objetivo passa agora também por reforçar a presença lá fora, onde "há grande apetência pela marca. As aguardentes podem crescer muito ainda; antigamente, a aguardente era quase depreciativa, os vinhos menos bons é que iam para destilar; hoje selecionamos os vinhos já para esse fim, não é uma coisa que acontece por acaso. E isso vai melhorar."
Revela ainda que "está muito bem posicionada" nos canais tradicionais. "Em 2020 houve canais que sofreram um impacto enorme, mas confesso que estava preparado para muito pior, num ano em que esteve tudo fechado e com uma recessão. A marca portou-se lindamente e apenas caiu 4%, uma performance notável, e a crescer lá fora."