Criatividade e inovação

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Há dias, uma aluna de Ciências da Comunicação, que não é minha aluna, mas filha de uma amiga, pediu-me para lhe responder a uma pergunta para um trabalho da universidade: Que estratégias podem ser usadas para assegurar que o jornalismo cumpra a sua função mais importante, independentemente dos desafios financeiros e políticos?

Respondi-lhe o que sempre pensei, mas só hoje (sexta-feira, quando escrevo este artigo) percebi que não é exatamente o que pratico. Já explico porquê. Antes disso, transcrevo o que lhe respondi: Esta é uma million-dollar question. Mas começo por dividir a resposta em duas partes: financiamento; e estratégias de futuro para o jornalismo. A questão da monetização é transversal a qualquer estratégia, porque não existiria jornalismo independente se todos os órgãos de comunicação social estivessem subordinados a subvenções do Estado, com sérios riscos de ingerência política. Outra questão será a de encontrar modelos financeiros alternativos, que passem por subscrições diretas. Ou seja, qualquer estratégia é dependente dos desafios financeiros. Estratégia essa que, obrigatoriamente, terá de agir sobre jornalistas, por um lado, e consumidores de informação, por outro. Do lado das redações, a aposta inevitável será na inovação e na transformação digital – equilibrada com princípios de credibilidade e de ética jornalística –, e na aquisição de novas competências por parte dos profissionais. Em relação aos consumidores de informação, a literacia mediática e digital é fundamental para a compreensão do papel do jornalista, do jornalismo e do acesso a informação livre e independente, e a importância disso para garantir a saúde da democracia.

Sempre defendi que a resposta para o futuro do jornalismo é a inovação. Repito: a inovação. Contudo, é curioso perceber que a minha ação se tem inclinado mais para a criatividade. Criatividade e inovação são conceitos distintos, como me recordou Luís Barbosa, diretor-geral do Parque de Ciência e Inovação de Aveiro, na entrevista que publicamos este sábado no Dinheiro Vivo.

A criatividade é a base para a geração de ideias, enquanto a inovação transforma essa criatividade em algo útil. Luís Barbosa destacou que nós, portugueses, temos um talento especial para a criatividade. Com toda a razão, sublinhou a importância de estimular essa capacidade, seja nas escolas, nas universidades ou através da capacitação. Concordo plenamente.

É neste ponto que explico o que pratico. Este ano letivo, partilho a coordenação de uma pós-graduação no IADE que poderia ter sido chamada Jornalismo do Futuro, mas que recebeu o nome de Jornalismo Digital. O objetivo principal é simples: incentivar os alunos a serem criativos. A pensar o jornalismo de forma inovadora, gerando novas visualizações e formatos que consigam estabelecer uma ligação – ou um match, para usar uma expressão contemporânea – com as novas formas de consumo digital, ao mesmo tempo que estimulam novos hábitos de acesso a notícias.

O resultado prático desta abordagem, que procura contribuir para um jornalismo melhor, está precisamente na diferença entre criatividade e inovação: a criatividade é a base da mudança. E é de mudança que o jornalismo precisa.

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