Crise dos chips pode travar venda de carros em 2022

Falta de semicondutores é dor de cabeça para o setor. Até outubro, venderam-se menos 33% de veículos novos que em 2019.<br/>
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A venda de automóveis em Portugal até outubro ficou abaixo dos níveis pré-pandémicos. E mesmo face a 2020 a evolução é ligeiramente positiva. A Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) descreve 2021 como um ano difícil e o próximo pode não ser muito melhor. A responsabilidade continuará a ser, pelo menos em parte, da pandemia. Mas vamos por partes.
Até outubro de 2021, e de acordo com a ACAP, foram colocados em circulação 150 009 novos veículos automóveis. Um número que representa uma subida de 4,4% face aos dez meses de 2020. Quando comparado com o período entre janeiro e outubro de 2019 reflete uma queda de 33,5%.

Olhando por segmentos, de janeiro a outubro foram vendidos 123 101 automóveis novos ligeiros de passageiros, mais 3,2% do que em igual período de 2020, mas menos 35,1% que em 2019. No caso dos veículos ligeiros de mercadorias, foram registadas 22 872 matrículas novas, mais 8,4% que em igual período de 2020. Mas, novamente, uma descida expressiva face a 2019: -26,4%. E no caso dos veículos pesados foram registadas 4036 matrículas, mais 22,7% que até outubro de 2020. Mas menos 16,8% do que em igual fase 2019.

Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, explica que a comparação no mercado automóvel deve ser feita com 2019, porque "2020 foi um ano atípico" devido à pandemia. "Estamos muito abaixo (- 33%) de 2019", aponta. "O que demonstra que a situação é bastante difícil neste mercado que não recuperou ainda para o nível pré-covid. Como dizemos, a par do setor do turismo, o automóvel é um dos mais impactados pela crise".

É como se os efeitos da pandemia atingissem duas vezes o mercado automóvel. No ano passado, o setor travou a fundo, por um lado, com o encerramento de fábricas e stands durante mais de um mês e, por outro, porque as restrições impostas e consequências económicas desencorajaram a compra de carros novos. A somar a isto, há a crise dos semicondutores, cada vez mais necessários nesta indústria, e que, neste momento, a procura excede à oferta, uma vez que as fábricas, muitas na Ásia, também sofreram os efeitos da covid-19.

"Como se não fosse suficiente a crise [pandémica], vem a dos semicondutores e põe em causa as metas de descarbonização. Esta crise dos semicondutores afeta muito a indústria automóvel, mas também o custo de transporte, que tem aumentado significativamente. A indústria automóvel está a ser duplamente afetada", explica.

Com o ano a aproximar-se do fim, a ACAP olha para 2022 e vê ainda um ano complicado. "A Comissão Europeia está fortemente empenhada e ainda esta semana a presidente veio dizer que até ao final do ano vai apresentar medidas concretas para superar a crise dos semicondutores. Há uma grande dependência da Ásia. Mas tudo o que seja feito [na UE] vai demorar tempo. Mesmo que se construam fábricas, que já foi anunciado e que está em andamento, isso não será num mês ou dois e pode afetar o ano de 2022", admite Hélder Pedro.

"Esperaríamos que 2021 já fosse para repor os níveis de 2019 e sobretudo em 2022. Mas, neste momento, seria arriscar muito [afirmar que isso vai acontecer] porque estamos a chegar ao final do ano e não há uma perspetiva de inversão desta situação", remata.

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