Crise é sinónimo de inovação

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Foi John F. Kennedy quem uma vez afirmou que a palavra "crise", em chinês, é composta por dois caracteres, sendo que um destes significa perigo e o outro significa oportunidade. Em termos linguísticos, o antigo presidente americano não estava completamente certo, porém, em termos práticos, uma crise pode de facto apresentar condições únicas para criar mudanças rápidas e com elevado impacto. Vimos isto acontecer em plena pandemia, quando várias empresas se reinventaram e usaram o problema para criar a oportunidade. Neste sentido, perante um período se avista ser de crise e recessão económica, a inovação e a colaboração voltam a ser essenciais.

A verdade é que o contexto de mercado é um fator que influencia altamente a forma como as empresas inovam. Num contexto de crescimento económico, a inovação é muitas vezes impulsionada pelo desejo de capitalizar oportunidades e criar valor. As empresas tendem a focar-se em projetos ambiciosos de longo prazo, que visam chegar a novos mercados e indústrias, e procuram diferenciar-se mais e ganhar uma vantagem sobre os seus concorrentes. Por outro lado, a inovação em tempos de crise é frequentemente impulsionada pela necessidade de adaptação a novos desafios e de ultrapassar obstáculos para sobreviver e continuar a operar. Neste caso, as empresas focam-se em soluções práticas de curto prazo que respondam a problemas urgentes. Além disso, estão muito mais abertas a uma maior colaboração e desenvolvimento de parcerias, reunindo-se para partilhar recursos, conhecimentos e perícia, a fim de superar desafios e encontrar soluções.

Tendo em conta o que se espera para 2023, a colaboração como forma de inovar será então essencial para as organizações e indivíduos ultrapassarem desafios e continuarem a operar em condições desafiantes. A pandemia COVID-19 demonstrou isso mesmo, quando várias empresas farmacêuticas uniram forças para desenvolver e testar uma vacina, partilhando recursos a fim de acelerar o seu desenvolvimento e implantação. Também outras crises passadas, sejam económicas ou ambientais, nos mostram o potencial da colaboração: em resposta ao desastre nuclear de Fukushima no Japão, um consórcio de empresas e organizações de investigação reuniu-se para desenvolver novas tecnologias e abordagens para a limpeza da água contaminada; e, na sequência do furacão Katrina nos Estados Unidos, um grupo de organizações, incluindo agências governamentais, ONG, e empresas privadas, colaborou para desenvolver novas abordagens e tecnologias para responder a catástrofes naturais.

Ao trabalharem em conjunto para enfrentar a recessão prevista, as organizações podem assim reunir os seus recursos e aproveitar a sua experiência coletiva para desenvolver soluções inovadoras que não seriam possíveis para uma única organização alcançar por si só. Podem ultrapassar barreiras que de outra forma impediriam de prosseguir projetos inovadores. Podem partilhar os riscos e os custos associados à inovação e podem apoiar-se mutuamente na abordagem de desafios.

Exemplo disto é a forma como startups estão já a colaborar com empresas estabelecidas de várias formas para impulsionar o crescimento durante fases de abrandamento económico. Em programas de inovação colaborativa como o Free Electrons, o maior programa global de inovação do setor elétrico, uma startup com soluções para este setor pode associar-se a uma utility estabelecida para testar uma nova tecnologia ou modelo de negócio; ou num programa como o Building Tomorrow Together - Innovation in Dementia, uma startup no setor da saúde pode colaborar com uma grande empresa farmacêutica num projeto conjunto de investigação para desenvolver um novo tratamento ou ferramenta de diagnóstico.

Em conclusão, cooperar em tempos de crise para inovar é essencial para organizações e indivíduos ultrapassarem marés, continuarem a gerar valor e operarem em condições desafiantes. Ao partilhar recursos, conhecimentos e perícia, e ao reunir diversas perspetivas e experiências, a colaboração pode facilitar o desenvolvimento de soluções inovadoras, o que, por sua vez, pode impulsionar o crescimento económico e apoiar a economia em geral.

Manuel Tânger, Chief Innovation Officer da Beta-i

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