A Alemanha é grande, mas, para Portugal, França é ainda maior. A segunda maior economia da União Europeia (UE) e da Zona Euro é o segundo maior investidor estrangeiro, ocupa o mesmo lugar como mercado das exportações portuguesas, é medalha de prata como emissor de receitas de turismo..O Investimento Direto Estrangeiro de capital gaulês está avaliado em mais de 20 mil milhões de euros, segundo o Banco de Portugal. E para os exportadores nacionais é um mercado que vale mais de 16 mil milhões de euros, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do BdP..Só aqui, o valor direto de França para Portugal é imediato: 36 mil milhões de euros por ano..Mais relevante do que Alemanha em todas estas métricas, a crise política e orçamental em que França acaba de mergulhar pode alastrar facilmente à economia portuguesa..Segundo a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Francesa (CCILF), haverá cerca de 750 empresas francesas em Portugal, “empregando 60 mil pessoas”..Nomes familiares não faltam. De acordo com a mesma associação empresarial, em solo português estão a “PSA, que tem na sua fábrica de Mangualde um centro de produção de veículos ligeiros, ou a Renault, que mantém em Cacia a produção de componentes automóveis”. “Estão no país há várias décadas e empregam centenas de pessoas”, indica a mesma câmara de comércio..A gigante Engie, do setor das energias renováveis em Portugal, “tem uma parceria estratégica com o grupo EDP” e emprega mais de 600 pessoas..A Legrand, sediada em Carcavelos, “é um grupo multinacional especializado no fabrico e comercialização de materiais elétricos e hidráulicos”..No setor do retalho/comércio, França está profusamente representada no território português, e há muitos anos já, através de marcas como “Auchan/Jumbo, Leroy Merlin, Decathlon, Intermarché, Leclerc, Conforama, La Redoute, Fnac e a Decathlon”..A gaulesa Altice é a dona da Meo, uma das maiores companhias de telecomunicações..No setor bancário e financeiro, pontuam dois nomes. Em Lisboa, está o BNP Paribas, cidade onde este enorme grupo global desenvolve a área de “gestão de risco, gestão de ativos, backoffice e mercados de capitais”..O grupo BNP diz que emprega atualmente cerca de 8700 pessoas em Lisboa e também algumas no Porto. O banco de investimento Natixis encontra-se de armas e bagagens na cidade Invicta onde opera o seu “centro tecnológico”, informa a CCILF. Emprega 2400..Já a gigante da construção e gestão aeroportuária Vinci tem, porque comprou a Ana - Aeroportos de Portugal, a concessão, até 2062, de quase todos os aeroportos nacionais, incluindo Lisboa, Porto e o futuro aeroporto em Alcochete. O grupo ainda tem em Portugal a Vinci Energies..Um caso malparado.Em França, as últimas semanas foram a ferro e fogo (ver pág. 18). O Governo de Michel Barnier, ex-comissário europeu e decano da política francesa, caiu com as moções de censura da extrema-direita (FN) e da esquerda/extrema-esquerda (NFP)..Empossado pelo presidente Emmanuel Macron há menos de três meses, Barnier cai porque avançou com uma proposta de Orçamento para 2025 que toca num dos pontos mais sensíveis para a sociedade francesa: a reforma das pensões..França, a outra metade do eixo (franco-alemão) fundador e sustentáculo da Europa, está a ser mal vista pelos avaliadores mais próximos e isso pode ter repercussões na Zona Euro, no custo da dívida, na capacidade de recuperação das economias europeias. Todas estão interligadas, como se vê no caso de Portugal..“Este acontecimento é negativo em termos da qualidade de crédito de França pois aprofunda o impasse político do país, reduz a probabilidade de uma consolidação das finanças públicas e contribui para prémios de risco [nas taxas de juro] maiores e para um custo mais elevado da dívida”, diz Olivier Chemla, o economista que lidera a equipa da agência de ratings Moody’s que segue a República Francesa..Com um défice público que agora ultrapassa os 6% do Produto Interno Bruto (PIB) e um rácio de dívida a subir e acima de 115% do PIB, França não inspira aquela confiança de outrora..Em termos orçamentais, “é desafiante”, afirma Alexandre Stott, analista do Goldman Sachs..“No nosso pressuposto de médio prazo , vemos 1% de crescimento real do PIB, 2% de inflação e taxas de financiamento de 3%”..“Uma inflexão significativa na trajetória orçamental parece improvável até novas eleições presidenciais, em 2027”, “os efeitos de um défice mais elevado no crescimento serão provavelmente bastante modestos” e uma política orçamental mais flexível “levaria a um maior aperto das condições financeiras e pesariam sobre a atividade económica nos próximos trimestres”, observa o mesmo economista. .França enfrenta hoje uma taxa de juro na dívida pública a dez anos de 3%. O custo imputado pelos investidores a Portugal é 2,5%, muito menor.