Este ano, foi decretada a morte oficial de mais de 12 empresas por
dia, num total de 4468. A realidade é bem mais sombria, dizem
responsáveis empresariais e mostra o Eurostat. Portugal surge como o
País da Zona Euro com maior redução líquida do número de
empresas activas. O comércio, que hoje abre mais uma época de
saldos, é dos sectores mais devastados.
Os dados compilados pelo Instituto Informador Comercial (IIC), que
recolheu a evolução diária até ontem do número de insolvências
registadas em território nacional, apontam para um panorama
desolador, que se agravou de forma expressiva desde 2007, o ano em
que eclodiu a crise financeira do subprime que se propagou de
diferentes formas até ao dia de hoje. Em quatro anos (2008 a 2011),
foi decretada a insolvência de quase 15 mil empresas, mostra o IIC.
As 12 falências diárias indicam a mortalidade mais elevada da
série disponibilizada. Fazendo as contas anuais, percebe-se que o
número de falências é agora mais do dobro do registado em 2007 e
mais do triplo face a 2000. Em relação ao ano passado, o aumento
das insolvências foi de 12%.
Comércio a retalho, por grosso, restauração, transportes
terrestres, actividades de construção e imobiliárias são os
sectores que alimentaram a destruição de empresas no último ano,
reforçando algo que se tornou uma tendência desde que começou a
crise do crédito. Mais de 54% das falências vêm destas seis
actividades. As indústrias do couro e do calçado, madeira e
cortiça, as metalúrgicas e as fábricas de vestuário estão a
conseguir escapar à razia.
O distrito do Porto lidera o ranking nacional, com a insolvência
de três sociedades por dia (quase 1100 no ano todo ou um quinto do
total nacional). A seguir surge Lisboa, com 2,6 empresas
desaparecidas por dia, a contribuir para um total de 947 no distrito.
Vila Real é a região onde as falências mais subiram e Coimbra onde
mais desceram.
Estas são as mortes oficiais publicadas em Diário da República
e na base de dados CITIUS, explica Josué Mateus, director-geral do
IIC. O Eurostat, que só tem dados até 2009, mostra uma realidade
bem diferente, pois faz uma estimativa de todas as organizações que
nascem e morrem. Em 2009, abriram 161 653 entidades (para além de
empresas, o Eurostat conta com associações e organizações não
lucrativas), um reforço anual de 3%. Mas 224 097 fecharam (mais 9%).
Portugal tinha 1 077 507 entidades, valor que traduz uma quebra anual
de 3,2% de empresas activas na economia. Mais de 95% têm menos de
dez trabalhadores. As que fecharam as portas deixaram sem emprego 225
mil pessoas.
João Vieira Lopes, presidente da Confederação de Comércio e
Serviços (CCP), tem informação recente sobre o que está a
acontecer. Em entrevista ao Dinheiro Vivo, o líder empresarial
aponta o dedo à austeridade que está a recair sobre os salários e
o emprego. E ao aumento de impostos. "As famílias estão a
retrair-se cada vez mais no consumo e ainda não ficou por aqui."
"Este ano fecharam cerca de 600 oficinas", no comércio
"demos conta do encerramento de cem estabelecimentos por dia,
contra a abertura de 20 a 30", na restauração "fecharam
este ano 3000 estabelecimentos no mínimo" e "embora o
universo das cerca de 2800 farmácias esteja estável sabemos que
existem várias à beira da insolvência".