Crónicas de uma desempregada: Mãe solteira, mulher feliz

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Sou mãe solteira (e estou desempregada). Não tenho nenhuma história dramática para contar. Sou mãe solteira e escreveria "por opção" se fosse verdade. Mas é mentira: pelo menos no momento em que fiz os meus filhos acreditei ("profundamente" fica aqui bem?) que era para toda a vida. Não foi. Sou mãe solteira e sou uma mulher feliz.

Às vezes (muitas vezes) perguntam-me como consigo. Consigo e não é complicado. Consigo eu e outras (muitas) mães solteiras que andam por aí.

Aprende-se a fazer muitas coisas ao mesmo tempo (mas as mães-acompanhadas não fazem o mesmo?). Dorme-se menos (mas as mães-acompanhadas não fazem o mesmo?). Domina-se a arte da logística (mas as mães-acompanhadas não fazem o mesmo?).

Às vezes (muitas vezes) perguntam-me como consigo. Monetariamente falando. Nem sempre é fácil. Há dias difíceis. Mas não aceito que "custos partilhados" possam manter uma relação. Se é mais fácil dividir as contas ao fim do mês? É de certeza. Se é mais fácil comprar ou alugar uma casa com dois salários (isto quando existem dois numa casa...)? É, de certeza. Se é mais tranquilo saber que se o nosso dinheiro falhar temos alguém que nos ajude? É, de certeza. Se é mais fácil viver com custos partilhados mas triste? Não é.

Quando esse medo de viver sem ninguém com quem partilhar contas é maior que tudo perguntam-me "vou aguentar tudo sozinha?". Aguenta, claro que aguenta! Arranja uma casa mais pequena mas cheia de gargalhadas. Vai às compras com dinheiro contado mas escolhe sempre qualquer coisa especial e tem a certeza que ainda estrará no frigorífico quando lhe apetecer. Deixa de comprar roupa para si mas faz da compra da roupa para os filhos uma festa. Pede roupa emprestada e empresta roupa. Cria uma rede de mães e pais que se ajudam. Poupa na gasolina e farta-se de andar a pé. Com sorte perde um quilos e recupera as peças de roupa lindas que estavam escondidas no armário. Faz passeios ao domingo em jardins maravilhosos em que não se paga nada. Piqueniques e conversa. Quando, finalmente, consegue que os miúdos dormem, descansa. Aprende a aproveitar um sofá vazio e o monopólio do comando.

Este é o cenário que eu, mãe solteira e desempregada posso desenhar. Mas não é o de todas as mães que enfrentam os dias sem rede de apoio e com ginásticas orçamentais dramáticas (mas não há mães-acompanhadas que passam exatamente pelo mesmo?).

Isto não é um incentivo à condição de mãe solteira. Nunca. Sorte a das mães que vivem relações felizes com coabitação e custos partilhados. Felizes, repito.

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