O governo cubano está a implementar reformas económicas com o objetivo de revitalizar o setor turístico e enfrentar a crise estrutural que afeta o país. Uma das principais medidas é a abertura do turismo à atividade privada, por meio de contratos de leasing e concessão da gestão de unidades hoteleiras. O grupo português Vila Galé é um dos players estrangeiros que estão a entrar no mercado cubano e tem já a seu cargo a gestão de quatro hotéis no país, situados em Havana (na foto acima), Varadero, Cayo Santa Maria e Cayo Paredón. O grupo liderado por Jorge Rebelo de Almeida quer continuar a expandir-se no país e espera ter em breve mais um hotel em Havana, na emblemática avenida Malécon, à beira-mar.“Havana, Varadero, Cayo Santa Maria e Cayo Paredón têm todos excelente localizações, são produtos de alta qualidade, três deles em praias paradisíacas”, disse Jorge Rebelo de Almeida ao DN. “Cuba com a alegria e simpatia das suas gentes, a música, o clima e um preço atrativo são um destino turístico excelente. Pensamos continuar a crescer em Cuba já em meados do próximo ano com mais um novo hotel em Havana, no Malécon”, revelou.O modelo de concessão em Cuba passa por parcerias em que os privados assumem a gestão dos hotéis, mas a propriedade continua em mãos do Estado e a esmagadora maioria dos trabalhadores permanecem funcionários públicos. “Em Cuba, os hotéis são da empresa estatal Gaviota e a Vila Galé assegura a gestão. Temos uma excelente relação com a empresa Gaviota que detém os Hotéis”, salientou o empresário, frisando que as equipas de gestão são formadas por profissionais “portugueses, brasileiros e cubanos – todos Vila Galé”.Questionado sobre a situação política do país, que continua a ter um regime de partido único, comunista, onde a oposição não é permitida, Jorge Rebelo de Almeida respondeu que “não temos de interferir nas opções políticas de Cuba”. O turismo “reforça a paz entre os povos e a ligação cultural aprofunda as relações” entre países, para além de ajudar ao desenvolvimento económico.Jorge Rebelo de Almeida considera que seria “viável” um voo direto entre a TAP e Havana, bem como mais charters para Varadero e para os Cayos. “Estamos a tentar incentivá-los e sobretudo as ligações ao Brasil para descobrirem Cuba”, disse ao DN..Cuba abre turismo aos privados para reanimar economiaO primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz tem defendido que o turismo é “a locomotiva da economia cubana” e que sua recuperação exige reformas estruturais, inovação e cooperação internacional. Entre as medidas anunciadas nos últimos meses estão a eliminação da taxa sanitária em aeroportos, portos e marinas internacionais, a autorização de pagamentos em moeda estrangeira em todas as instalações turísticas, a introdução de cartões de pagamento para turistas e residentes em hotéis, a venda de passagens aéreas em moeda forte e o leasing de instalações turísticas por operadores privados. Essas ações visam tornar Cuba um destino mais competitivo e flexível, num momento em que as receitas turísticas enfrentam forte retração. Até junho de 2025, o país recebeu 1,68 milhões de visitantes — uma queda de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior.A recuperação do turismo após a forte contração que sofreu desde a pandemia é considerada fundamental para que o país consiga sair daquela que é a maior crise económica das últimas décadas, com a inflação elevada e a desvalorização da moeda cubana a devorar o já reduzido poder de compra da maioria da população. Para conter a inflação, o governo introduziu cartões pré-pagos em moeda forte para empresas e instituições, destinados à compra de combustíveis e bens essenciais. A gasolina, por exemplo, passou a ser vendida exclusivamente em moeda estrangeira. Além disso, está em curso a criação de um novo mecanismo de gestão de divisas, com foco na Zona Especial de Desenvolvimento Mariel, que oferece incentivos fiscais e operacionais para atrair investimento externo.O economista e professor universitário Pavel Vidal, ex-analista do Banco Central de Cuba, disse à agência EFE que estas medidas representam uma liberalização parcial, sem que se realizem reformas profundas como a unificação monetária ou a liberalização do mercado cambial. Já Carmelo Mesa-Lago, professor emérito da Universidade de Pittsburgh, disse à BBC que sem mudanças estruturais, estas ações podem apenas adiar o agravamento da situação económica.Além disso, apesar de não se sentirem os seus efeitos nos hotéis e em outros serviços ligados ao turismo, a crise energética continua a afetar gravemente o quotidiano dos cubanos, com apagões superiores a 20 horas diárias em várias províncias. O governo aumentou o investimento em energias renováveis, que agora representam mais de 37% do orçamento estatal para infraestruturas. A situação está a provocar dificuldades acrescidas nas vidas de milhões de cubanos que, ao contrário dos hotéis e resorts turísticos, não têm geradores elétricos ou painéis solares. Em províncias como Santa Clara, no centro do país, a eletricidade só tem funcionado entre a uma e as cinco horas da manhã. Muitos cubanos acordam a essas horas para realizar as tarefas domésticas que envolvam a utilização de eletricidade. O governo atribui esta situação à situação degradada em que se encontra a rede energética cubana, devido à falta de equipamentos. Além disso, países como a Venezuela, a Rússia e o Irão, que nos últimos anos têm apoiado Cuba com petróleo barato, têm agora menos capacidade para ajudar o país, devido à situação internacional.No setor alimentar, a situação também é preocupante, tendo sido decretado o racionamento de alimentos. Foram estabelecidos preços máximos para produtos básicos como arroz e feijão.O governo também reorganizou o comércio não-estatal e redistribuiu fundos salariais não executados para reter trabalhadores em setores críticos. No entanto, Mesa-Lago alerta que o controlo de preços sem aumento da produção pode gerar açambarcamento e fortalecer o mercado paralelo, num país onde quem tem acesso a dólares e euros consegue viver melhor do que quem utiliza exclusivamente a moeda local, como os pensionistas e os funcionários públicos..Vila Galé vai abrir três hotéis em Cuba.Notas de uma viagem a Cuba.Gaviota quer mais turistas portugueses e brasileirosAGaviota, maior cadeia hoteleira de Cuba, que explora hotéis nos Cayos, em Varadero e outros destinos, quer atrair mais turistas portugueses e brasileiros para o país. Para isso, conta com o apoio dos seus parceiros, o grupo Vila Galé, o Melia e o operador turístico Ávoris, disse o presidente da Gaviota, Carlos Latuff, durante a Bolsa de Destinos Turísticos Gaviota, que decorreu na ilha de Cayo Santa Maria, em Cuba, na semana passada. A Gaviota já realizou uma feira no Algarve, no ano passado, para dar a conhecer o destino aos operadores portugueses. Segundo Latuff, estes eventos vão ser reforçados e o objetivo é fazer um de dois em dois anos. Para atrair mais visitantes, a Gaviota aposta no conceito “all in”, em que os turistas passam a ter acesso não só ao seu hotel, mas também a restaurantes, discotecas e outros serviços da Gaviota em Cayo Santa Maria. A ilhota, que está unida a Cuba por uma estrada que demorou dez anos a construir, em terra conquistada ao mar, conta com 22 resorts de grande dimensão, com um total de cerca de dez mil quartos. Um desses hotéis é o Vila Galé Cayo Santa Maria, com 633 quartos. O Vila Galé tem uma forte presença no Brasil e a expansão do grupo em Cuba, que teve início em 2023, conta com vários profissionais brasileiros, como Alexandre Magno, o diretor de operações no país. Já a diretora do Vila Galé Cayo Santa Maria é a portuguesa Natália Oliveira. Ambos têm longas carreiras no Vila Galé, tendo passado por várias unidades do grupo. Outro objetivo da Gaviota é conseguir aumentar o número de voos semanais entre Lisboa e o aeroporto de Santa Clara, que fica a uma hora e meia de Cayo Santa Maria. Atualmente existe um voo direto, nos meses de verão, da Iberojet. F.A. e N.V.