Custo da nova dívida duplica face à pré-pandemia, mas BCE volta a contê-lo

Bancos centrais "continuam cautelosos" e ainda pouco ou nada se fala de recuos nos programas de compras de ativos. Nova estratégia do BCE ajudou a cimentar esta ideia.
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O custo médio ponderado e acumulado da nova dívida pública emitida no período de janeiro a maio ronda uma taxa de juro de 0,7%, valor que é cerca do dobro do registado até a pandemia eclodir em março de 2020, mostram números oficiais da agência que gere a dívida portuguesa (IGCP), tutela do Ministério das Finanças.

Nessa altura, antes de a covid aparecer, Portugal estava a endividar-se a uma taxa próxima de 0,4% (nova dívida, considerando Obrigações e Bilhetes do Tesouro e outros instrumentos disponíveis como certificados).

No entanto, esta subida terá sido interrompida recentemente e com maior evidência depois de o Banco Central Europeu (BCE) anunciar, na semana passada, uma suavização da meta da inflação, que pode permitir a Frankfurt esperar mais algum tempo até subir taxas de juro num futuro próximo se os preços aquecerem, por exemplo.

De acordo com os indicadores de mercado disponíveis (como a taxa de juro das OT a dez anos), o custo deste tipo de instrumento de dívida chegou a 0,6% em meados de maio, mas começou a aliviar e com maior ênfase nos últimos dias. Ontem, no mercado secundário, as OT a dez anos de Portugal eram negociadas abaixo dos 0,3%.

Um levantamento feito pelo Dinheiro Vivo (DV) dos dados oficiais publicados mensalmente pelo IGCP indica que o custo médio ponderado de toda a nova dívida emitida desde o início do ano está nos referidos 0,7%, mas a suavizar desde fevereiro.

Isto ajuda bastante as contas públicas e a redução do défice (os juros são despesa corrente), tendo em conta que a pilha de endividamento (o stock total) equivale hoje a cerca de 130% ou mais do Produto Interno Bruto (PIB), um dos níveis mais elevados do mundo desenvolvido e da Europa.

Num comentário enviado aos jornais, Filipe Silva, analista do Banco Carregosa, confirma que existe outra vez uma janela de alívio no custo da dívida.

Ontem, o IGCP foi outra vez ao mercado. A República endividou-se em mais 914 milhões de dívida com maturidades (prazos de reembolso) de longo prazo.

"622 milhões em obrigações do tesouro a 9 anos e os restantes 292 milhões, em obrigações do tesouro a 16 anos."

Para o economista, "apesar de estar prevista uma emissão que poderia ascender a mil milhões de euros, o IGCP optou por emitir apenas 914 milhões".

Risco desce outra vez

Mas os resultados são positivos na perspetiva dos preços contratados. "Face ao último leilão comparável, na emissão a nove anos, tivemos uma descida no prémio de risco de 0,237% para 0,127%".

"A tendência descendente nas yields [taxas de juro] da dívida soberana tem-se mantido desde maio, o que permitiu taxas mais baixas na emissão de hoje [quarta-feira]", acrescentou o mesmo analista.

Apesar das intervenções massivas do BCE, que está há meses a comprar grandes quantidades de dívida dos países aos bancos da zona euro (o que faz descer a taxa de juro), existem novas barreiras à retoma.

Essa incerteza quanto ao crescimento e à saída da pandemia, tem levado a oscilações nas taxas de juro, ainda que de curta duração.

"As novas variantes da covid-19 acabaram por abrandar as expectativas do ritmo da recuperação económica" e "os setores mais afetados pela pandemia ainda estão longe da normalidade", observa Filipe Silva.

"Os discursos dos líderes dos bancos centrais continuam cautelosos, pelo que falar em abrandamento dos estímulos ou fim dos programas de compras de ativos, ainda não é assunto".

Assim, "teremos de assistir a uma recuperação evidente da atividade económica como um todo, para que possamos assistir a uma real inversão desta tendência nas taxas de juro de longo prazo".

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