
Os custos suportados em conjunto pelo sistema bancário, consumidores e comerciantes com a disponibilização e utilização dos instrumentos de pagamento de retalho (que englobam numerário, cheques, cartões, débitos e transferências) totalizaram 2,29 mil milhões de euros em 2022, agravando-se 20% face a 2017, segundo um estudo divulgado esta terça-feira pelo Banco de Portugal (BdP).
A entidade liderada por Mário Centeno explica que este aumento - que representa um valor per capita de 219,1 euros, que compara com 185,5 euros do ano em comparação - deveu-se, por um lado, ao "crescimento do número de pagamentos realizados na economia” e, por outro, ao "incremento dos custos internos de todos os intervenientes”.
Ainda que a subida dos custos tenha sido transversal a todos os implicados, o BdP avança que a maior fatia continuou a ser suportada pelos comerciantes e pelo sistema bancário: juntos arcaram com 91% do total (52% e 39%, respetivamente). Os consumidores foram responsáveis pelos restantes 9%.
Uma análise aos instrumentos de pagamento sugere que o numerário representou a maior parte dos custos, embora a sua proporção tenha diminuído de 57,3% em 2017 para 52,4% em 2022. Juntamente com os cartões de débito, amplamente utilizados em espaços de venda físicos, os dois instrumentos somaram 80,2% dos encargos totais - os comerciantes suportaram 70% e 45%, respetivamente. O sistema bancário, por sua vez, liderou os custos dos outros métodos.
O levantamento supervisor bancário revela ainda que os débitos diretos continuaram a ser o instrumento mais custo-eficiente para efetuar pagamentos, com um valor de 22 cêntimos por transação, menos cinco cêntimos do que em 2017. Seguiram-se os cartões de débito (34 cêntimos), as transferências (41 cêntimos) e o numerário (50 cêntimos). Os cheques e os cartões de crédito foram os menos eficientes, custando 4,16 euros e 2,38 euros por transação, pela mesma ordem.
Especificamente para pagamentos inferiores a 1,07 euros, o numerário revelou-se o mais eficiente, enquanto para valores superiores, o cartão de débito mostrou-se mais vantajoso devido às economias de escala que compensam os custos fixos.
Comerciantes pagam 1,52 mil milhões com a aceitação de pagamentos
O estudo do Banco de Portugal indica que os comerciantes enfrentaram um custo de 1,52 mil milhões de euros com a aceitação de pagamentos de retalho em 2022, mais 19% do que em 2017. O numerário continuou a ser o instrumento mais oneroso, representando 56,2% dos custos totais. As comissões pagas à banca e às empresas de transporte de valores também foram uma componente significativa, embora o seu peso tenha diminuído de 29,6% para 24,5%, entre os dois anos em comparação.
Do outro lado, os consumidores tiveram custos de 1,09 mil milhões de euros com a utilização destes instrumentos, o que reflete um aumento de 39% em relação a 2017 - o maior entre os três. O numerário e os cartões de débito foram os mais requisitados, dando origem a encargos de 255,8 milhões e 468,8 milhões de euros, respetivamente. Segundo o BdP, as comissões bancárias representaram a maior fatia, enquanto o custo do tempo necessário para efetuar pagamentos foi estimado em 209,9 milhões de euros.
Em termos unitários, detalha o supervisor, o numerário e os débitos diretos mantiveram-se como os mais económicos para os consumidores, apesar de terem registado um aumento de custos desde 2017. Os cartões de crédito e os cheques continuaram a ser os mais caros, com custos unitários de 2,53 euros e 3,89 euros por transação.
Já o sistema bancário suportou custos de 892,2 milhões de euros. As receitas associadas, por seu turno, alcançaram os 1,21 mil milhões de euros, o que resultou numa situação líquida positiva de 323,7 milhões de euros, mais 191,6 milhões em comparação com 2017. O grau de cobertura dos custos pelas receitas subiu de 116,7% para 136,3%, impulsionada por um aumento significativo das comissões cobradas por pacotes de gestão e manutenção de contas.
O BdP nota que “os cartões de débito, pré-pagos e de crédito, as transferências a crédito e os débitos diretos contribuíram positivamente para a situação líquida obtida pelos bancos”. Em contrapartida, “o numerário, os cheques e as transferências imediatas apresentaram situações líquidas negativas, com taxas de cobertura de 60%, 84% e 80%, respetivamente”.