Dar um passo em frente no ensino digital em 2021/2022?

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Em Portugal, nos dois «grandes confinamentos» de 2020 e de 2021, todas as escolas e instituições que trabalham com alunos e jovens desenvolveram novas competências no ensino digital. No último confinamento, notou-se ainda um aperfeiçoamento muito relevante dos processos de trabalho entre professores, educadores e alunos. Por exemplo, os programas EPIS de promoção do sucesso escolar conseguiram acompanhar 70% dos alunos em carteira por via remota no período de março a junho de 2020, mas essa taxa de cobertura subiu para 92% entre janeiro e abril e 2021 - restando por acompanhar os alunos e/ou famílias que não o desejaram. Por outro lado, os voluntários da EPIS iniciaram programas de explicações digitais a partir de março de 2020, com o número de sessões realizadas a crescer cerca de cinco vezes face a 2019.

Durante este último confinamento, fiquei a conhecer os planos de uma rede de escolas privadas para lançar, no próximo ano letivo, um projeto-piloto de ensino presencial digital, em que todos os alunos envolvidos, de forma voluntária, terão equipamento informático individual e manuais digitais. Nesse plano, respondia-se a um conjunto vasto de questões e preocupações - desde logo as vantagens e inconvenientes do uso da tecnologia em sala de aula -, ficando claro que era um «caminho conjunto» entre as escolas, os encarregados de educação dos alunos e até as editoras. Confirmei que vários outros colégios privados estariam a trilhar o mesmo caminho de aprofundamento do ensino presencial digital.

Surgiu então a «curiosidade» de tentar ter uma ideia do «caminho» que estaria a ser percorrido por escolas públicas, no sentido de perceber se o País, como um todo, estaria a dar um passo em frente no ensino presencial digital em 2021/22. Nesse sentido, ao longo do mês de abril, auscultámos os mediadores que estão a implementar os programas EPIS em agrupamentos de escolas do continente e ilhas - na sua maioria, psicólogos de autarquias e empresas e professores do Ministério de Educação -, sobre o seu conhecimento da existência de iniciativas ao nível da promoção do ensino presencial digital para o próximo ano letivo por parte dos estabelecimentos onde estão a trabalhar.

Os resultados indicam que muitas escolas EPIS - todas públicas - estão a trabalhar para aumentar o recurso às tecnologias em 2021/22: que seja do conhecimento dos mediadores à data do questionário, após auscultação das direções das escolas, cerca de 61% em termos de equipamentos informáticos individuais e cerca de 31% também na utilização de manuais digitais.

Esta auscultação simples numa rede de escolas públicas com distribuição por 48 concelhos do continente e de 4 ilhas dos Açores - apesar de muitas em comunidades vulneráveis -, juntamente com a informação que recebi sobre as redes de escolas privadas, podem permitir antecipar que ambos os sistemas de escolas - público e privado - estarão a dar passos em frente em termos de ensino presencial digital, mesmo se ainda parcialmente.

Se esta tendência identificada através dos casos acima descritos se acentuar com a entrega de equipamentos por parte do Ministério da Educação, no caso das escolas públicas, e com o aproximar do período de planeamento do ano letivo de 2021/22, creio que estaremos no bom caminho. Sobretudo, o sistema educativo poderá estar a trabalhar para que a exclusão digital seja menos acentuada nas escolas públicas, principalmente aquelas que têm populações mais vulneráveis.

Em qualquer caso, pela sua importância e pela dificuldade de uma implementação com qualidade em tempo reduzido, a promoção do ensino presencial digital em 2021/22 deveria merecer um maior debate público, fosse por parte dos diversos responsáveis da governação central e local, fosse por parte da sociedade civil e, em particular, das comunidades educativas locais. Só este debate e escrutínio públicos poderão permitir que cada vez mais escolas, em colaboração com as famílias, iniciem este caminho de forma atempada e que menos escolas fiquem «esquecidas» e fora deste passo em frente no ensino digital, promovendo-se, desejavelmente, a inclusão digital dos alunos em todo o país, em particular os mais vulneráveis.

Diogo Simões Pereira, Diretor-geral da Associação EPIS - Empresários Pela Inclusão Social

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