Dark Store: o futuro do retalho no pós-pandemia?

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O "novo normal" deixou de ser novidade há já muito tempo. O distanciamento social já não nos faz confusão, o gel desinfetante está sempre connosco e as máscaras já fazem parte do nosso outfit. A habilidade de adaptação foi tão grande que posso até afirmar que, hoje, tudo está diferente - e os hábitos de consumo não são exceção.

A acompanhar as grandes mudanças no consumo e a afirmação do comércio online, o e-commerce registou um crescimento significativo: segundo dados da SIBS, em fevereiro, o e-commerce representava 18% das compras eletrónicas portuguesas, um aumento de 8% face ao período homólogo. Esta tendência para comprar online, que acredito que se irá manter num período pós pandémico, veio impulsionar outras tendências, como por exemplo as Dark Stores.

Mas o que é, então, uma Dark Store? Esta pode ser compreendida como um centro de distribuição de menor dimensão exclusivo que permite armazenar, separar e enviar produtos que estão disponíveis para compra online. Desta forma, os operadores responsáveis pelas encomendas podem deslocar-se ao centro, recolher os produtos e entregá-los em casa dos clientes, sendo que algumas Dark Stores também oferecem a possibilidade de ser o cliente a fazer diretamente a recolha.

Para que possa cumprir o seu propósito e ser vantajoso, este modelo de e-commerce deve ter algumas características próprias, tais como ser um local que permita a rápida recolha dos produtos para entrega, um espaço que facilite a categorização e organização dos stocks e ter uma localização privilegiada (geralmente nos centros urbanos).

Faz sentido apostar em Dark Stores? A resposta depende do objetivo: uma rede capilar de Dark Stores permite entregas mais rápidas nos centros urbanos, bem como acesso a stock 100% dedicado ao consumidor online; enquanto nas entregas baseadas em loja física o stock se enfrenta maior probabilidade de rutura. Ao mesmo tempo, para um novo operador, uma Dark Store tem um custo de implementação mais baixo, pois não precisa dos "luxos" necessários à experiência de compra da loja física. Contudo, para retalhistas que já possuem a sua própria rede de lojas físicas, este modelo implica um investimento de capital adicional, bem como alguma nova complexidade. Portanto, é de considerar o objetivo bem como o enquadramento do negócio de cada operador: é importante para o operador entregar em 15 minutos? Se sim, uma operação dedicada faz sentido. Se não, há que pensar duas vezes e calcular se e quando ocorrerá retorno sobre o investimento necessário.

No último semestre, multiplicaram-se as notícias acerca de investimentos milionários em novos unicórnios internacionais, cujo modelo de negócio se baseia em entregas ultrarrápidas a partir de pequenas Dark Stores urbanas. JOKR, Gorillas, Dija, são alguns exemplos. Creio que no futuro assistiremos a um movimento de consolidação do mercado, existindo hoje alguma incerteza sobre se o consumidor está disponível para trocar a habitual compra online "da semana" por várias compras de pequeno valor, bem como a viabilidade económica do modelo em escala. Avizinham-se tempos interessantes, sendo esperada uma adaptação rápida dos retalhistas a estes novos modelos. Cá estaremos para ver.

Gonçalo Soares da Costa, CEO do Mercadão

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