Odiado por muitos amado por poucos, o nome de João Rendeiro saltou para os holofotes em dezembro de 2008, altura em que o Banco Privado Português (BPP) entrou em colapso. A falência da instituição, fundada por Rendeiro em conjunto com outros investidores e virada para a gestão de fortuna, viria a ser decretada em 2010, devido a alegados erros de gestão e
incumprimento das regras do Banco de Portugal e da Comissão do Mercado
de Valores Mobiliários.
Depois de, em 2008, ter lançado o livro 'João Rendeiro - Testemunho de Um Banqueiro: A História de Quem Venceu os Mercados', o ex-banqueiro está de regresso com uma nova obra. O 'Arma Crítica' é lançado esta tarde e nele estão compilados os vários artigos que Rendeiro escreveu desde 2011 no seu blog com o mesmo nome.
A narrativa das 512 páginas arranca com análises e ensaios sobre a crise que rebentou em 2008, um "fenómeno tão incompreendido que muita gente fala e, na verdade, algo que muito poucos entendem". Reguladores, agências de rating, bancos centrais, correntes de pensamento económico, veículos de investimento, bancos e gestores são escrutinados ao pormenor quanto ao seu papel na crise. Mas passados tantos anos: "sobram tantas respostas quantas interrogações".
Como se de uma máquina do tempo se tratasse, o livro de João Rendeiro acompanha os acontecimentos financeiros e políticos mais importantes dos últimos anos. Desde a crise em Portugal e o consequente pedido de assistência financeira, ao fim do governo de Sócrates e o novo executivo de Passos, passando pelos problemas dos bancos portugueses e, mais recentemente, do fim do BES, Rendeiro dá a sua opinião mas também a sua visão e experiência de banqueiro.
Se José Maria Ricciardi, presidente do BESI, é qualificado de "princípe do Bullshit", o Governador do Banco de Portugal "é uma espécie de ditador benevolente que toma decisões para o Bem da plebe acima de qualquer escrutínio". Mas os exemplos não ficam por aqui. Além das críticas à atuação de Carlos Tavares como presidente da CMVM, Rendeiro é bem claro e explícito o confronte quer com Joe Berardo quer, sobretudo e ainda mais pronunciado, com Miguel Sousa Tavares que considera ser "um bom escritor mas uma catástrofe ético-jornalística".
Além dos ataques e dos inimigos, Rendeiro também tinha as suas preferências e amigos. Além de confessar gostar muito de Vítor Gaspar, ex-ministro das Finanças, João Rendeiro revela a sua ligação a Vasco de Mello e Horácio Roque, antigo presidente do Banif, que "era um dos meus melhores Amigos no mundo das finanças".
Mourinho, Ronaldo, BCP, EDP, BPN, queda do BES e negócio entre a PT e a Rioforte, são outros dos vários temas que estão incluídos na obra. Inevitavelmente, o BPP e as aplicações de retorno absoluto também não deixam de ser mencionados no livro, com o ex-banqueiro a assumir que "sou responsável moral por tudo, repito por tudo".
Nas últimas páginas do livro, Rendeiro debruça-se sobre o Novo Banco e a sua venda, na qual o BPI "posiciona-se na 'pole position'", no que considera ser o equivalente a uma "partilha dos bens pilhados numa qualquer guerra medieval" em que os restantes bancos "quererão o seu lugar a mesa das partilhas".
Mas a obra termina como começou, centrada na crise e com uma conclusão de João Rendeiro: "Penso, sinceramente, que na sequela da crise financeira de 2008 nenhum banqueiro ou Banco está em condições de dar lições de moral à sociedade".