De Mangualde saíram os primeiros carros elétricos made in Portugal

Automóvel: Produção em série arranca em outubro. Começaram ontem a sair da Stellantis os primeiros de 719 veículos elétricos para o SNS. Investimento de 119 milhões criou 63 novos empregos.
Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis, e o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa
Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis, e o Presidente Marcelo Rebelo de SousaMiguel Pereira da Silva / Global Imagens
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Fruto de um investimento de 119 milhões de euros, ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), saíram ontem da linha de montagem da Stellantis de Mangualde os primeiros veículos totalmente elétricos produzidos “em grande escala” em Portugal. Um momento “histórico” nas palavras de Carlos Tavares, CEO do grupo Stellantis, e que foi testemunhado pelo Presidente da República e pelo ministro da Economia. A produção em série  arranca em outubro.

Inaugurada há 62 anos, então como Citroën Lusitânia, da fábrica de Mangualde saíram já, nestas seis décadas, cerca de 1,7 milhões de veículos. Agora, a aposta é na transição energética, tendo liderado uma das agendas mobilizadoras para a inovação empresarial, que reuniu 37 parceiros no projeto “GreenAuto”, que levou a um investimento conjunto dos referidos 119 milhões de euros. Das várias transformações realizadas na fábrica, designadamente com novas instalações destinadas à área de montagem e ferragem, o projeto permitiu a criação de uma nova linha de montagem de baterias, que permitiu a criação de 63 novos postos de trabalho. 

Serão oito os modelos 100% elétricos a produzir na fábrica de Mangualde, nas versões de passageiros e comerciais ligeiros, dos modelos Citroën ë-Berlingo e ë-Berlingo Van, Peugeot E-Partner e  E-Rifter, Fiat e-Doblò e Opel Combo-e, que se destinarão a abastecer os mercados doméstico e de exportação. 

A Stellantis, que resultou da fusão, em 2021, do Grupo PSA (Peugeot, Citroën e Opel) com a Fiat Chrysler Automobiles, tem em curso um plano estratégico para atingir a neutralidade carbónica até 2038. Em Mangualde, foram instalados 6370 painéis fotovoltaicos com os quais assegura 32% das necessidades anuais de energia elétrica da fábrica, diz a empresa, ao mesmo tempo que “vai evitar 2500 toneladas de emissões anuais de CO2, o equivalente à captura de CO2 por cerca de 16 mil árvores”. 

O objetivo, acrescenta a Stellantis Portugal, é conseguir “50% de autonomia energética até final de 2025”, o que será possível através de “projetos na área da produção de energia verde e armazenamento, que passam também pela descarbonização de toda a sua cadeia de valor”, acrescenta.

O evento de ontem serviu, ainda, para assinalar publicamente, de forma simbólica, a entrega das primeiras unidades dos 719 veículos elétricos, produzidos em Mangualde, e que vão equipar diversas entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Em causa estão 300 veículos Peugeot E-Rifter e 419 Cietroën ë-Berlingo, mais 600 estações de carregamento, destinadas a eletrificar a frota das cinco Administrações Regionais de Saúde e de sete Unidades Locais. Vão servir unidades de cuidados continuados de apoio domiciliário do SNS. 

Carlos Tavares, CEO da Stellantis, assumiu-se “particularmente satisfeito” pela escolha da empresa pelo Ministério da Saúde para a eletrificação da sua frota, assumindo que a Stellantis “está profundamente comprometida com Portugal, na produção industrial, na criação de empregos e na geração de valor”. 

O português que lidera o grupo a nível mundial não poupou elogios à unidade produtiva de Mangualde e aos 900 colaboradores que nela trabalham. “Estamos a testemunhar um importantíssimo virar de página nesta unidade fabril, que consegue estar na linha da frente em termos de inovação”, frisou. Esta é “uma das melhores fábricas a nível mundial”, em qualidade e eficiência, sendo ainda uma “referência” entre as 90 fábricas do grupo Stellantis. 

A unidade industrial conta com 400 fornecedores, sendo que um terço das peças que monta nos seus veículos é produzido em Portugal e outro terço na Galiza. As restantes vêm de outros países europeus.
Uma fábrica que, para o ministro da Economia, “representa tudo o que devemos replicar” em todos os outros setores. “Trata-se de um projeto voltado para a exportação e, consequentemente, voltado para o futuro. Adicionalmente, integra toda a cadeia de valor e de tecnologia. Este é sem dúvida um projeto que deve servir de exemplo. Aqui em Mangualde estamos a dar sustentabilidade à nossa economia. É disto que nós precisamos”, sublinhou Pedro Reis.

Já o Presidente da República desafiou o Governo a imitar a Stellantis na execução do PRR. “Estava a ouvir o presidente [da Stellantis] Carlos Tavares e o ministro da Economia, que é também fogoso, e estava a dizer comigo mesmo: da mesma maneira que com a Stellantis foi possível ter, em relação à agenda mobilizadora, 51% de cumprimento em um ano, é preciso que o PRR, todo ele, a taxa de cumprimento se aproxime dos 51% e os ultrapasse rapidamente, que não temos todo o tempo do mundo”, salientou Marcelo Rebelo de Sousa. E acrescentou: “O Estado tem de pôr os olhos na Stellantis de tal maneira que em todos os setores onde o dinheiro está disponível ou vai estar mais disponível, ele possa chegar aos destinatários finais, aos beneficiários finais que são os portugueses”.

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