O simbolismo da oferta de flores, associado ao Dia Internacional da Mulher, foi este ano completamente digitalizado. As redes sociais assumiram esse desígnio, na impossibilidade da tradicional oferta de flores em espaço público, estabelecimentos comerciais e organizações.
Mas quererão as mulheres a eternização dessa tradição, mesmo que digitalmente? Preferirão seguramente que as empresas onde trabalham lhes paguem o mesmo que aos homens, que se cumpra a lei no que à parentalidade diz respeito, que lhes seja dada a mesma oportunidade de progressão na carreira, entre tantas outras justas reivindicações que, no fundo, representam os seus incontestáveis direitos enquanto cidadãs mulheres.
A gestão de topo das empresas tem aqui responsabilidades. Não se pode esperar confortavelmente por uma paulatina mudança de mentalidade, suportada em pequenas medidas e em discursos progressistas.
Assegurar igualdades entre homens e mulheres, a assunção plena de direitos no trabalho é uma obrigação das organizações e de quem as lidera. Criar ambientes de trabalho igualitários, estimular uma cultura empresarial que integre estes conceitos e ter a plena consciência que a excelência empresarial passa pelo respeito pelos direitos laborais iguais, entre homens e mulheres, é da inteira responsabilidade dos decisores.
Não maçarei ao mencionar as habituais estatísticas, publicadas a um qualquer 8 de março, pois só comprovam a realidade, ano após ano, imutável. A igualdade deverá ser encarada como mais do que um valor fundamental, como um pilar fundamental dos Direitos Humanos, e por isso deixemos as flores, virtuais ou não, e passemos à ação concreta, à concretização de medidas e implementação de resoluções que vençam a resignação.
Os serviços públicos e o setor empresarial do Estado têm um papel preponderante. Não só pelo peso no universo de trabalhadores e trabalhadoras do país, mas sobretudo pelo dever de implementarem as diretrizes do Estado neste âmbito e de funcionarem como modelo para o setor privado. A forte aposta na conciliação entre a vida profissional, familiar e profissional, através do programa de aceleração do governo português "3 em linha" é um excelente exemplo do caminho a percorrer.
Enquanto gestor público é com orgulho que assisto a um crescente número de representantes do setor público em fóruns e grupos de trabalho sobre esta importantíssima temática, e é com redobrado orgulho que destaco a certificação da GEBALIS na Norma Portuguesa 4552:2016 - Sistema de Gestão da Conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal. Uma empresa do setor empresarial municipal de Lisboa, com uma média etária de 46 anos e uma composição de 39% de homens e 61% de mulheres; uma organização que integra medidas estruturantes de conciliação no seu ADN, fundamentais para o desejado equilíbrio entre a vida profissional, pessoal e familiar; uma entidade prestadora de serviço público, com um quadro de pessoal com igualdade salarial para funções iguais, entre homens e mulheres, plena igualdade no acesso à progressão na carreira, condições propícias ao exercício pleno da parentalidade e que entende que o seu maior ativo são os seus trabalhadores e trabalhadoras.
Permitam-me a imodéstia de citar uma organização que me é tão próxima. Faço-o com a perfeita noção de que, mesmo aí, há um longo caminho a percorrer e só seremos bem-sucedidos com empenho permanente, com intensificação e reforço de medidas consistentes.
Porém, o mesmo sucede, com maior ou menor visibilidade, em todos os setores da nossa sociedade, do setor público, que deveria liderar pelo exemplo, ao privado, das forças armadas à política, apenas para citar alguns exemplos. Importa assim criar oportunidades de mudança em cada oportunidade, como na ação política em todo o espetro partidário, convocando mulheres a liderarem projetos políticos nas próximas eleições autárquicas. Só assim, com sinais inequívocos de que estamos todos comprometidos com a alteração de paradigma, mudaremos mentalidades, introduzindo uma verdadeira transformação social e cultural.
É da conciliação, primeiro entre homens e mulheres, e depois nas várias dimensões das suas vidas que se construirá esta mudança. A sociedade demanda homens feministas, capazes de encabeçarem esta luta, de serem os primeiros a reconhecerem esta necessidade e promoverem esta mudança, com ou sem flores.
Presidente do Conselho de Administração da Gebalis//Escreve à quinta-feira