Os efeitos negativos da pandemia e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia e a consequente crise energética ameaçam deixar no desemprego, este ano, 73 milhões de jovens em todo o mundo, o que corresponde a uma taxa de 14,9%. São mais seis milhões de trabalhadores entre os 15 e 24 anos que não vão conseguir entrar no mercado laboral face a 2019, ano de pré-pandemia, em que a taxa de desemprego se situou nos 13,5%, segundo o relatório "Global Employment Trends for Youth 2022" da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado esta quinta-feira por ocasião do Dia Internacional da Juventude, que se assinala esta sexta-feira, 12 de agosto. América do Norte apresenta o nível mais baixo de desemprego (8,3%). No lado oposto, os Estados Árabes deverão atingir a taxa mais elevada (24,8%).
O estudo da OIT "confirma que a pandemia da covid-19 tem afetado negativamente a população jovem mais do que qualquer outro grupo etário". "Estima-se que o número total global de jovens em situação de desemprego chegue aos 73 milhões em 2022, representando uma ligeira melhoria em relação a 2021", ano em que 75 milhões de jovens estavam fora do mercado de trabalho, "mas ainda seis milhões superior aos valores registados em 2019, na pré-pandemia", segundo o relatório.
Por género, as mulheres são muito mais afetadas pelo desemprego. A OIT revela que, este ano, "a nível global, prevê-se que 27,4% das mulheres jovens estejam empregadas, em comparação com 40,3% dos homens jovens". "Isto significa que os homens jovens têm quase 1,5 vezes mais probabilidades" de ser contratados do que as mulheres. A OIT alerta que esta desigualdade "tem mostrado poucos sinais de redução nas últimas duas décadas", sendo "maior nos países de rendimento médio-baixo e menor nos estados de rendimento alto".
Analisando a evolução por regiões, a OIT mostra que a recuperação do emprego é mais difícil nos países de médio e baixo rendimento do que nos estados mais ricos. "Os países de elevado rendimento são os únicos que deverão chegar a taxas de desemprego jovem próximas das de 2019 (13,5%) até ao final de 2022, enquanto, nos outros países, as taxas deverão permanecer mais do que 1 ponto percentual acima dos seus valores pré-crise", estima a OIT.
Na Europa, onde se situa Portugal, e na Ásia Central, a taxa de desemprego da população jovem deverá situar-se, este ano, nos 16,4%, isto é 1,5 pontos acima da média global de 14,9%. "Tem havido progressos substanciais na redução do desemprego jovem, tanto para mulheres como para homens, mas os choques reais e potenciais da guerra na Ucrânia podem afetar fortemente os resultados", avisa a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) especializada em questões de trabalho.
As estimativas são mais animadoras para a região da Ásia e do Pacífico, onde a taxa de desemprego para 2022 deverá equiparar-se à média mundial de 14,9%," embora existam divergências importantes entre sub-regiões e países", ressalva o mesmo relatório.
Já nos países da América Latina, o cenário é desolador. "A taxa de desemprego jovem é ainda preocupante, estimando-se que chegue aos 20,5%", este ano. "O quadro é radicalmente diferente na América do Norte, onde se prevê que as taxas de desemprego jovem sejam inferiores aos níveis médios mundiais, na ordem dos 8,3%", sublinha a OIT.
As previsões para África devem ser interpretadas com cautela, uma vez que uma taxa de desemprego jovem anormalmente baixa de 12%, inferior à média global, "esconde o facto de muitos jovens terem optado por abandonar o mercado de trabalho". "Em 2020, mais de um em cada cinco jovens, em África, não trabalhava, não estudava, nem frequentava um curso de formação e a tendência tem vindo a agravar-se", destaca o relatório.
Os Estados Árabes apresentam a taxa de desemprego jovem mais elevada e de crescimento mais rápido a nível global, estimando-se que se situe em 24,8%, em 2022. "A situação é pior para as mulheres jovens na região, com 42,5% de desemprego, três vezes superior à média das mulheres jovens a nível global (14,5%)".
Para inverter esta tendência desemprego jovem elevado, a OIT recomenda uma forte aposta nas "economias verde e azul (recursos oceânicos e a sua utilização sustentável)", na digitalização, nos cuidados de saúde e na educação. O relatório conclui que "a implementação conjunta de medidas verdes, digitais e dos cuidados aumentaria o Produto Interno Bruto (PIB) global em 4,2% e criaria 139 milhões de empregos adicionais para trabalhadores de todas as idades em todo o mundo, dos quais 32 milhões para a população jovem".
O estudo da OIT não detalha os valores por países, nomeadamente os de Portugal. Mas, com base nos dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) do segundo trimestre do ano, divulgados esta quarta-feira, é possível concluir que o país já superou o impacto da pandemia. No segundo trimestre do ano, a taxa de desemprego jovem, em Portugal, caiu para 16,7%, ficando abaixo, em termos homólogos, dos níveis de 2019 (17,6%), quando ainda não havia pandemia. Ainda assim, Portugal registou níveis de desemprego da população jovem acima da taxa mundial de 14,9%, estimada pela OIT para o conjunto do ano. De salientar, contudo, que o intervalo de idades usado pelo INE para o desemprego da população jovem é 16-24 anos, enquanto a OIT segue o indicador 15-24 anos.
Para efeitos de comparação com os dados da União Europeia (UE), o INE utilizou as estatísticas do primeiro trimestre de 2022, quando a taxa de desemprego jovem em Portugal ainda se situava nos 20,6% acima do nível registado nos primeiros três meses de 2019 (17,6%), período anterior à pandemia, e muito acima da média dos 27 estados-membros, cuja taxa de desemprego foi estimada em 14,3%. No primeiro trimestre do ano, Portugal apresentou a sexta taxa mais elevada na UE.