
O número de pessoas desempregadas registadas nos centros de emprego do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) subiu 8,5% em maio face a igual mês do ano passado, ou seja, o ritmo homólogo mais elevado desde o início de 2021, quando a pandemia de covid-19 estava na sua fase mais letal.
Segundo revelou, ontem (quinta-feira, 20 de junho de 2024), o IEFP, estavam sem trabalho 310.263 pessoas no final de maio deste ano. É preciso recuar a março de 2021 para encontrar um avanço mais agressivo do desemprego.
Nesse mês fatídico, em plena crise pandémica, o IEFP registou 432.851 pessoas sem trabalho, o que se traduziu num aumento homólogo muito forte do contingente (mais 26%).
Aqui, recorde-se, o mês de comparação é março de 2020, justamente o momento em que a pandemia foi declarada e foram decretadas medidas muito duras de confinamento e restritivas às atividades e à mobilidade da população, obrigarando empresas e muitos outros serviços produtivos a fazer uma longa pausa, a fechar portas, ou mesmo a encerrar.
Cruzando com dados também ontem publicados, mas pelo Ministério da Segurança Social, em maio, 183.937 indivíduos recebiam subsídio de desemprego (ou outras prestações públicas para quem não encontra trabalho), o mesmo que dizer que mais de 40% dos desempregados em Portugal não estava a receber qualquer tipo de apoio.
Destes, a fatia mais expressiva é a do subsídio desemprego dito normal, com quase 146 mil pessoas a serem apoiadas por esta prestação, em maio. Também aqui, o aumento é expressivo. Segundo os dados oficiais do ministério, este grupo engordou mais de 13% em termos homólogos, a maior subida desde abril de 2021.
O desemprego registado representa a esmagadora maioria do fenómeno estimado no País: segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), em abril, o último mês para o qual há dados, havia 337.400 desempregados, ou seja, cerca de 94% estavam registados no IEFP à espera de oportunidades para regressar ao mercado de emprego.
É de notar que o valor absoluto de pessoas desempregadas, apesar da forte subida homóloga, até tem dado sinais de descida desde o início deste ano, estando a cair há quatro meses consecutivos (desde fevereiro, inclusive).
Face ao ano passado, é de recordar que, por esta altura, Portugal estava em pleno processo de produção para acolher a visita do Papa no âmbito da Jornada Mundial da Juventude, um dos maiores eventos dos últimos anos no País.
No final de maio de 2024, "estavam registados, nos Serviços de Emprego do Continente e Regiões Autónomas, 310.263 indivíduos desempregados, número que representa 67,1% de um total de 462.092 pedidos de emprego", diz o instituto.
"O total de desempregados registados no País foi superior ao verificado no mesmo mês de 2023 (+24.408 pessoas; +8,5%), mas inferior ao do mês anterior (-8.068; -2,5%)" e "para o aumento do desemprego registado, face ao mês homólogo de 2023, na variação absoluta, contribuíram os inscritos há menos de 12 meses (+21 587), os que procuram um novo emprego (+22.108) e os adultos (+20.303)", acrescenta.
"A nível regional, no mês de maio de 2024, com exceção dos Açores (-15,6%) e da Madeira (-19,6%), o desemprego aumentou em termos homólogos, com o valor mais acentuado na região do Algarve (+13,6%)". Já em relação ao mês anterior, a tendência é de redução do desemprego com a maior variação a acontecer também no Algarve (-19,1%), diz o IEFP.
Numa análise ainda mais fina, "considerando os grupos profissionais dos desempregados registados no Continente, salientam-se os mais representativos, por ordem decrescente: trabalhadores não qualificados (27,1%); trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção segurança e vendedores” (19,9%); pessoal administrativo (12,2%) e especialistas das atividades intelectuais e cientificas" (10,4%)".
Em termos homólogos, o acréscimo no desemprego destaca-se "na maioria dos grupos profissionais, com destaque para o grupo de operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem (+13,1%), de trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices (+12,5%) e de especialistas das atividades intelectuais e científicas (+11,8%)".
"No que respeita à atividade económica de origem do desemprego, dos 270.158 desempregados que, no final do mês em análise, estavam inscritos como candidatos a novo emprego" nos serviços do IEFP, "72,6% tinham trabalhado nos Serviços, com destaque para as atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio (que representam 33,1%); 20,6% eram provenientes do sector Secundário [Indústria], com particular relevo para a Construção (6,5%); ao sector Agrícola pertenciam 4,3% dos desempregados".
Sinais de impasse
No entanto, apesar dos números positivos que ainda vêm da criação de emprego, que continua a bater máximos históricos, começam a surgir alguns indicadores avançados de impasse no mercado de trabalho, o que, dizem alguns analistas, deve ser uma consequência já esperada do arrefecimento da atividade na sequência do aumento muito forte das taxas de juro (desde julho de 2022 passaram de zero para cerca de 4% agora, olhando para o BCE) para deter a inflação.
Isso e, não menos importante, o facto de a economia portuguesa estar já muito perto do pleno emprego, como tem apontado várias vezes o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno.
O gabinete de estudos BPI Research também se debruçou ontem sobre este tema e conclui que "os dados mais recentes corroboram a nossa expectativa de que o mercado de trabalho manter-se-á como um fator relevante de suporte à atividade: o emprego reduziu muito ligeiramente em abril (-0,4%)", mas a taxa de desemprego "também recuou para 6,3% da população ativa (6,4% em março), enquanto o desemprego registado está a cair em cadeia pelo terceiro mês consecutivo, mantendo-se em níveis historicamente baixos".
No entanto, há a tal barreira do pleno emprego. Os economistas do BPI avisam que "a capacidade de absorver a entrada de pessoas ativas no mercado de trabalho deverá ser cada vez menor, como comprova a evolução das ofertas de emprego (cerca de 30% abaixo da média histórica registada nos meses de abril nos 5 anos pré-pandemia)".
Por exemplo, o departamento de estudos do BPI nota que o "turismo fraqueja em abril", que "apesar do aumento do número de hóspedes e de dormidas face ao mês anterior (ambos +14%), o desempenho modesto do sector turístico português em abril fica bem visível quando analisamos a performance face ao mês homólogo".
"Perdido o impulso de ressalto pós-pandemia, o sector, este ano, deverá ter um comportamento menos exuberante", acrescentam os economistas. É uma vulnerabilidade pois o sector do turismo é dos mais intensivos e importantes em emprego na economia portuguesa.