
O número de trabalhadores efetivamente despedidos em processos de despedimento coletivo está a aumentar ao ritmo mais agressivo desde o início a pandemia, tendo dado um salto de quase 40% no período de janeiro a outubro deste ano face ao valor total registado em 2023, indicam cálculos do DN com base nos dados oficiais da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), tutela do Ministério do Trabalho.
Mas esta situação, que se tem revelado aos olhos do público com casos recentes e de grande impacto de fábricas que estão a encerrar em Portugal, deve piorar e refletir-se nas estatísticas do ano de 2024 como um todo.
De acordo com a DGERT, as empresas anunciaram a intenção de despedir 5.253 pessoas desde o início do ano e até final de outubro, tendo efetivamente deitado fora 4.959 trabalhadores.
Tal como o DN já noticiou, desde agosto que o número de pessoas afetadas por despedimentos coletivos ultrapassou o valor anual de 2023.
No entanto, o cenário não cessa de piorar. Comparando com os primeiros dez meses de 2023 (portanto, comparação homóloga), o número de trabalhadores efetivamente despedidos disparou mais de 82%, o que significa que, em 2024, será fácil atingir a marca de 8.000 a 9.000 pessoas despedidas desta forma coletiva, valor que vai superar o total alcançado no destrutivo ano da pandemia (em 2020, foram despedidos 7.513 empregados por conta de outrem).
Mesmo que chegue à marca de 8.000 despedidos em 2024, será na mesma o pior registo anual desde 2013, ano de ajustamento e de austeridade máxima do governo PSD-CDS e da troika.
Apesar dos muitos elogios que têm sido feitos à resistência da economia portuguesa e do emprego à crise europeia e global, o certo é que há sinais de fadiga que começam a aparecer.
Segundo a Lusa, Armindo Monteiro, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) comentou os dados preocupantes da DGERT, afirmando que "o eixo franco-alemão está a dar sinais de fadiga".
João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP), disse à mesma agência que "num período de contracção global da economia" há sectores que "têm problemas".
De acordo com o levantamento do DN, os maiores problemas desde o início do ano estão sobretudo concentrados em duas setores: o mais fustigado está a ser a indústrias transformadora, que responde com mais de 27% do total de pessoas despedidas desde o início do ano.
Em segundo lugar, surge o comércio, que contribuiu com mais de 23% do número de trabalhadores já dispensados. Ou seja: metade do fenómeno do despedimento coletivo está concentrado nestes dois ramos de atividade.
Segundo a direção-geral tutelada pela ministra do Trabalho, Rosário Palma Ramalho, desde o início deste ano até outubro, foram lançados 409 processos de despedimento coletivo, com 77% deles (315) a terem origem em micro e pequenas e médias empresas (PME).
As mulheres são as mais sacrificadas com estas medidas de reestruturação empresarial e com as fábricas que fecham, representando sempre mais de metade do universo de trabalhadores que ficam sem emprego.
A maioria (213 casos) acontece em empresas localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo. A segunda região mais flagelada, é o norte do país, com 123 despedimentos coletivos já comunicados.
Tendo em conta os números oficiais gerais, casos concretos não têm faltado este ano.
Só para recordar alguns: em fevereiro, a Nokia Portugal avançou com um plano para despedir 142 trabalhadores, grande parte deles muito qualificados.
No final de outubro, a empresa de origem dinamarquesa do ramo alimentar DAT-Schaub, concluiu o despedimento de 125 pessoas (grande maioria mulheres), mais 25 afastados através de rescisão amigável, da sua fábrica em Arcozelo, Gaia, que foi encerrada.
No final de novembro, a Coindu, uma fábrica do setor automóvel (faz interiores de carros, capas para assentos de carros, etc.), localizada em Arcos de Valdevez, anunciou o encerramento definitivo no fim deste mês de dezembro, tendo despedido todos os funcionários, cerca de 350 pessoas.