Despedimentos coletivos registam subida mais agressiva desde a pandemia e vão piorar

Desde 2020 que não se via nada assim. Em 2024, 8000 pessoas devem ficar sem trabalho. Pior só no tempo da troika. Indústria, comércio são os setores mais flagelados; mulheres são alvo preferencial.
Foto: Leonel de Castro
Foto: Leonel de Castro
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O número de trabalhadores efetivamente despedidos em processos de despedimento coletivo está a aumentar ao ritmo mais agressivo desde o início a pandemia, tendo dado um salto de quase 40% no período de janeiro a outubro deste ano face ao valor total registado em 2023, indicam cálculos do DN com base nos dados oficiais da Direção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT), tutela do Ministério do Trabalho.

Mas esta situação, que se tem revelado aos olhos do público com casos recentes e de grande impacto de fábricas que estão a encerrar em Portugal, deve piorar e refletir-se nas estatísticas do ano de 2024 como um todo.

De acordo com a DGERT, as empresas anunciaram a intenção de despedir 5.253 pessoas desde o início do ano e até final de outubro, tendo efetivamente deitado fora 4.959 trabalhadores.

Tal como o DN já noticiou, desde agosto que o número de pessoas afetadas por despedimentos coletivos ultrapassou o valor anual de 2023.

No entanto, o cenário não cessa de piorar. Comparando com os primeiros dez meses de 2023 (portanto, comparação homóloga), o número de trabalhadores efetivamente despedidos disparou mais de 82%, o que significa que, em 2024, será fácil atingir a marca de 8.000 a 9.000 pessoas despedidas desta forma coletiva, valor que vai superar o total alcançado no destrutivo ano da pandemia (em 2020, foram despedidos 7.513 empregados por conta de outrem).

Mesmo que chegue à marca de 8.000 despedidos em 2024, será na mesma o pior registo anual desde 2013, ano de ajustamento e de austeridade máxima do governo PSD-CDS e da troika.

Apesar dos muitos elogios que têm sido feitos à resistência da economia portuguesa e do emprego à crise europeia e global, o certo é que há sinais de fadiga que começam a aparecer.

Segundo a Lusa, Armindo Monteiro, o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) comentou os dados preocupantes da DGERT, afirmando que "o eixo franco-alemão está a dar sinais de fadiga".

João Vieira Lopes, presidente da Confederação do Comércio e Serviços (CCP), disse à mesma agência que "num período de contracção global da economia" há sectores que "têm problemas".

De acordo com o levantamento do DN, os maiores problemas desde o início do ano estão sobretudo concentrados em duas setores: o mais fustigado está a ser a indústrias transformadora, que responde com mais de 27% do total de pessoas despedidas desde o início do ano.

Em segundo lugar, surge o comércio, que contribuiu com mais de 23% do número de trabalhadores já dispensados. Ou seja: metade do fenómeno do despedimento coletivo está concentrado nestes dois ramos de atividade.

Segundo a direção-geral tutelada pela ministra do Trabalho, Rosário Palma Ramalho, desde o início deste ano até outubro, foram lançados 409 processos de despedimento coletivo, com 77% deles (315) a terem origem em micro e pequenas e médias empresas (PME).

As mulheres são as mais sacrificadas com estas medidas de reestruturação empresarial e com as fábricas que fecham, representando sempre mais de metade do universo de trabalhadores que ficam sem emprego.

A maioria (213 casos) acontece em empresas localizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo. A segunda região mais flagelada, é o norte do país, com 123 despedimentos coletivos já comunicados.

Tendo em conta os números oficiais gerais, casos concretos não têm faltado este ano.

Só para recordar alguns: em fevereiro, a Nokia Portugal avançou com um plano para despedir 142 trabalhadores, grande parte deles muito qualificados.

No final de outubro, a empresa de origem dinamarquesa do ramo alimentar DAT-Schaub, concluiu o despedimento de 125 pessoas (grande maioria mulheres), mais 25 afastados através de rescisão amigável, da sua fábrica em Arcozelo, Gaia, que foi encerrada.

No final de novembro, a Coindu, uma fábrica do setor automóvel (faz interiores de carros, capas para assentos de carros, etc.), localizada em Arcos de Valdevez, anunciou o encerramento definitivo no fim deste mês de dezembro, tendo despedido todos os funcionários, cerca de 350 pessoas.

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