A falência de Detroit pode, em parte, ser atribuída à perda de mais de um milhão de residentes. A pergunta que se coloca, então, é como conseguiram sobreviver outras cidades americanas que também estão a encolher. Os problemas que levaram à falência de Detroit são múltiplos: declínio industrial, pensões elevadas, crédito excessivo e má gestão, entre outros.
Porém, perder 1,2 milhões de pessoas desde os anos 1950 atiraria qualquer cidade para uma crise. À medida que os empregos e os habitantes foram partindo para outros destinos, a cidade ficou com um forte declínio de receitas de impostos, aumento do crime e ruas descuidadas. No entanto, outras cidades do "Rust Belt" também perderam grandes contingentes de população.
Demoliram edifíciosAlgumas cidades desenvolveram uma indústria de demolição, conscientes de que os edifícios abandonados são um convite ao vandalismo e ao aparecimento de bairros degradados, além de travarem a chegada de gente nova.
Youngstown, no Ohio, perdeu 120 mil residentes desde os anos 50, tendo agora apenas 66 mil pessoas. Nos últimos seis anos, deitou abaixo quatro mil casas, conta a conselheira municipal Janet Tarpley, que representa o sexto distrito, onde ocorreu a maior parte destas demolições.
"Desde que estamos a demolir as casas, o crime diminuiu. Algumas estavam a ser usadas para guardar artigos roubados e para negócios de prostituição e droga. Eram ocupadas por pessoas que, simplesmente, se instalavam e ficavam. Assim, para muitos residentes, a qualidade de vida aumentou."
A área tem muito melhor aspeto do que em 2008, quando Tarpley assumiu o cargo. Tarpley bate à porta dos residentes e manda-os cortar a relva quando os jardins estão com mau aspeto. Os que não obedecem recebem a visita de um jardineiro do município e têm de pagar os custos.
Porém, a demolição também tem os seus críticos. Para começar, é cara: cerca de 10 mil dólares - por casa. E alguns residentes afirmam que tem destruído os bairros e impedido os promotores imobiliários de investirem. "As árvores não pagam impostos" é o mantra de alguns adversários da demolição.
Venderam terrasImagine que alguém lhe bate à porta e lhe oferece o terreno ao lado da sua casa - por apenas 25 dólares. Foi isso que aconteceu em Flint, Michigan, onde a população é metade do que era há 50 anos. Em 2002, Dan Kildee, nascido em Flint e atual membro do Congresso, estabeleceu aí um sistema chamado banco de terras, que se apropria das propriedades privadas abandonadas.
"Existe uma casa abandonada numa rua", explica ele. "Nós ficamos com essa propriedade através de execução fiscal quando o proprietário deixa de pagar os impostos. Em vez de a vender num leilão na Internet, colocamo-la no banco de terras.
"Como temos demasiadas casas numa cidade que perdeu muita população, embora nos custe, demolimos esta estrutura abandonada, que está obsoleta. Batemos à porta do vizinho do lado, que paga um preço elevado por viver ao lado dessa ruína e, por apenas 25 dólares, vendemos-lhe o lote depois de limpo."
Assim, em vez de ter uma casa de família ao lado de uma enorme e vazia memória do que ali existiu antes, fica com um terreno onde pode construir uma garagem, um pátio para as crianças brincarem ou uma rampa de acesso. "Torna-se uma parte produtiva da paisagem."
Fundaram instituições"É muito difícil para os americanos compreenderem isto", diz Kildee, cofundador em 2010 do Centro para o Progresso Comunitário, que ajuda a reconstruir bairros urbanos. "A psicologia dos americanos baseou-se na expansão para o Oeste, o nosso destino óbvio. Crescimento e prosperidade eram a mesma coisa.
"Isso, porém, significa muito pouco para quem viva numa cidade que tenha perdido população e não tenha probabilidade de voltar a ganhá-la. Temos de repensar a nossa definição de prosperidade."
Pittsburgh é muitas vezes referida como uma história de sucesso devido à sua reinvenção, tendo mesmo sido anfitriã da cimeira do G20 em 2009. Porém, a cidade está a levantar cheques que lhe foram passados há 50 anos, afirma o professor Michael Madison da Universidade de Pittsburgh.
A Conferência de Allegheny para o Desenvolvimento Comunitário foi constituída nos anos 1940, quando alguns atores importantes da indústria do aço se reuniram com o município de Pittsburgh e o condado de Allegheny para resolverem alguns dos problemas mais prementes da cidade em termos de ambiente e infraestruturas.
Baniram as fornalhas a carvão dentro das casas, para purificar o ar, e criaram a Autoridade Portuária, por exemplo.
"Nos anos 50 existia um espírito colaborativo e eles sabiam que Pittsburgh teria de se reinventar. Não sabiam como, mas puseram em movimento algo de que ainda hoje beneficiamos", diz Madison.
As duas universidades de renome mundial que existem na cidade e o seu centro médico no valor de 10 mil milhões de dólares também receberam somas significativas de dinheiro nos anos 1950 e 60.
Há outras cidades que deviam identificar o seu legado em instituições da era industrial, pois estas podem fornecer-lhes a base para uma prosperidade futura, acrescenta.
Presas na históriaPittsburgh era conhecida como a Cidade do Aço e o profundo declínio desta indústria foi um grande golpe para a sua identidade.
Uma comunidade precisa de uma relação dinâmica com a sua história, e de aproveitar as forças da história sem ficar cativa dela, diz Madison.
"Pittsburgh precisava de colocar uma distância saudável e respeitosa entre a sua identidade moderna e a identidade do século XX, que era a do aço. Toda a gente aprecia a história do aço, mas também toda a gente sabe que isso não volta."
Os empregos Quando a indústria do aço entrou em colapso, o instinto dos líderes económicos de Pittsburgh foi procurar outras indústrias que pudessem substituir esse género de empregos em grande escala, contaMadison. O objetivo era que houvesse mais fábricas grandes a produzir televisões ou carros, como uma panaceia.
Porém, estas são indústrias muito competitivas e a maioria do investimento nessas áreas foi para a Ásia ou para zonas mais baratas dos Estados Unidos, explica.
"Pittsburgh demorou algum tempo a perceber que se trata de uma estratégia de alto risco e estávamos sempre a perder, diz Madison. Em vez disso, começou a concentrar-se em serviços, nas universidades, no centro médico e na alta tecnologia, e a produzir emprego localmente, em vez de o importar.