Diretor do IPAM pede "visão" para o ensino superior

Daniel Sá, que lidera o Instituto Português de Administração de Marketing , diz que o valor do PRR para as universidades está a ser aplicado em questões operacionais de curto prazo. Instituto ultrapassou os três mil alunos, 25% estão em programas online.
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Há quase duas décadas nasceu em Portugal uma escola dedicada, em exclusivo, ao ensino do marketing. Uma nova área merecia uma instituição que preparasse os futuros profissionais e assim apareceu o Instituto Português de Administração de Marketing (IPAM). Agora, 39 anos depois, o organismo continua a crescer e a adaptar o seu currículo às exigências dos tempos modernos, acompanhando sempre as novas tecnologias.

"Somos uma escola que nasceu antes do tempo e procura fazer antes do tempo, e levamos isto com uma seriedade tão grande cá dentro, que os exemplos não faltam", diz ao Dinheiro Vivo Daniel Sá, o diretor executivo da instituição.

E detalha: "Ao fim de dois ou três meses de pandemia, lançámos um programa online de e-commerce, precisamente porque sabíamos que, naquele momento, ia seguramente ajudar, em especial, os agentes económicos mais pequenos, com maior dificuldade". Mais recentemente, já em 2023, a escola arrancou com duas pós-graduações na área da Inteligência Artificial e aguarda a aprovação de um mestrado, no mesmo âmbito.

Embora o IPAM seja, de acordo com Daniel Sá, uma escola voltada para o futuro - 25% dos seus alunos estão já em programas 100% online - o diretor-executivo da instituição lamenta a falta de visão do Governo no que diz respeito ao ensino superior nacional.

Recordando que do total do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) foram atribuídos 400 milhões de euros para este tipo de ensino, Daniel Sá contesta, não o valor - "podemos sempre dizer que é sempre insuficiente, mas não acho que seja o valor" -, mas "a falta de visão do médio e do longo prazo".

"É sempre dinheiro que é muito alocado para questões operacionais, para lançar o curso A ou B, para ter mais a infraestrutura A, B ou C. Isso é útil, claro, cria valor, mas acho que tem sempre pouca visão do médio e do longo prazo", diz.

Sempre frisando que o dinheiro não está a ser mal gasto, o professor reforça que as verbas não estão é a ser investidas "para colocar Portugal num topo mais elevado dos rankings internacionais, ou para se especializar numa área científica - ou em duas ou três -, ou para atrair determinados segmentos de estudantes que achamos que fazem sentido para o país". "Vejo claramente uma aplicação operacional de curto prazo", lamenta.

É "visão" que Daniel Sá pede ao próximo Executivo, que será eleito em março do próximo ano. "Eu gostava que o novo ministro e o novo Governo olhassem para o Portugal de 2030 para a frente, em termos de ensino superior", apela. Lembra que, em Portugal, ainda há uma oferta, "em geral atrasada, pouco atualizada e pouco moderna", nesse setor.

O responsável do IPAM teme que se o cenário persistir, e se as instituições de ensino superior continuarem a ser geridas "com o pensamento do ano 2000, vamos ter um problema muito grande e, portanto, precisamos rapidamente de o alterar. Espero vanguardismo, inovação, risco, destreza, destemor e disrupção", sublinha.

Para o Instituto Português de Administração de Marketing - que, de acordo com as palavras do diretor-executivo, é reconhecido como a instituição de referência na área do marketing - o futuro é já amanhã.

Com os 50 anos a aproximarem-se a passos largos, Daniel Sá deseja que o IPAM venha a ser "uma instituição tão relevante para o país como são as principais universidades generalistas portuguesas".

Sendo uma escola onde já é habitual ser-se "disruptivo e tentar fazer antes do tempo", o professor sabe que o principal é saber ir, "perder o medo de arriscar" e saber acompanhar todas as evoluções. Sempre rodeando-se de "professores e investigadores que entendam o que estamos a fazer e que nos ajudem a ir mais longe".

Lembra, a título de exemplo, as aulas práticas que a escola dá em lojas da Zara. "Abandonámos há muitos anos a lógica do caso prático e substituímos pelo caso real", afirma, garantindo que esta é uma "fórmula que tem funcionado estes anos todos".

Este ano, ao celebrar o 39.º aniversário, o IPAM, em Lisboa e no Porto, ultrapassou pela primeira vez a fasquia dos três mil alunos. Quando alcançar o meio século de existência, Daniel Sá acredita que, "seguramente, vai ser um IPAM com cada vez mais alunos online. E, certamente, com muita inteligência artificial e com muita tecnologia".

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