Diversificação, precisa-se! Angola está de luto pela morte de José Eduardo dos Santos. Também conhecido como o arquiteto da paz, deixa um país reconciliado, mas também pobre. Cabe agora a João Lourenço, o presidente em exercício, colocar o país no rumo do desenvolvimento e dinamizar os vários setores da economia. Viver apenas do petróleo já não basta. O agrobusiness, o turismo, a indústria, a construção têm forte potencial e as empresas portuguesas podem ajudar através de parcerias e de partilha de know how.
A formação de talento deveria ser também um desígnio nacional. Só com recursos humanos qualificados se desenvolve a economia, se ativa o chamado elevador social retirando pessoas da pobreza e se dá futuro e esperança a uma nação que tem história e uma relação umbilical com Portugal.
A qualificação, regra geral, contribui para o aumento dos salários. Curiosamente, só em Portugal não tem sido assim. Na última década, o salário médio dos portugueses só aumentou para os menos qualificados. Quem o diz é o recente estudo "O Estado da Nação", da Fundação José Neves (instituição criada pelo fundador da Farfetch), que faz um retrato da situação do país ao nível do emprego e da educação. O relatório revela que os rendimentos em Portugal são dos mais baixos da União Europeia e que os trabalhadores com formação universitária registaram perdas significativas de salários durante a última década.
Curiosamente, o salário médio dos portugueses aumentou apenas para os trabalhadores com o ensino básico, com uma subida na ordem dos 5% e muito por força do aumento do salário mínimo nacional. Esta é uma das principais conclusões do relatório. Entre 2011 e 2019, já os trabalhadores com ensino superior registaram perdas reais nos salários de 11% e os cidadãos com o ensino secundário sofreram perdas de 3%. No caso dos empregados mais jovens, as quedas foram ainda mais acentuadas para quem tem o ensino superior - o salário dos licenciados diminuiu 15%, o dos mestres 12% e o dos doutorados 22%.
Uma situação anormal que terá de ser invertida, sob pena de proliferar o desincentivo ao estudo, à formação e ao investimento na escola, nos vários graus de ensino.
Diversificar e qualificar são palavras com futuro e são válidas tanto no hemisfério norte como no hemisfério sul.