Diz o roto do nu

Carrilho, personagem incontornável do lamaçal nacional, filósofo pavão frequentador de bulevares e arguido, diz que António Costa devia expulsar Sócrates do PS. Foi no lançamento de um livro que ninguém lerá, mas ao qual os jornais resolveram dar anúncio; talvez por falta de assunto, talvez porque, com o seu olfacto apurado para o estrume dos dias, cheirassem roupa suja. O que é certo é que os jornais não se enganaram: havia estrume.
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No seguimento das edificantes e filosóficas declarações proferidas pelo antigo ministro da cultura de Sócrates, veio o PS, pela voz de uma parte da corja que o anima, lembrar que o roto é violento em casa, e que foi graças ao nu que pode pavonear-se pelas ruas de Paris com o título de embaixador e, presume-se, despesas pagas.

São tão parecidos, o roto e o nu, que dificilmente se poderiam encontrar, no desgraçado Olimpo da política portuguesa, duas almas tão gémeas (com a excepção dos trigémeos Duarte Lima, Dias Loureiro e Oliveira e Costa): a mesma origem beirã, o mesmo fascínio por Paris, a mesma imitação de Jack Lange, o mesmo gosto pela passadeira vermelha - que percorrem com os mesmos fatos impecáveis -, a mesma vocação filosófica, a mesma propensão para serem alegadamente culpados, o mesmo hábito de serem regularmente presentes a juízes; e, o mais importante, o mesmo PS.

Carrilho e Sócrates são figuras principais de um PS que todos gostaríamos de esquecer, menos, aparentemente, o próprio PS, que todos os dias o lembra a toda a gente: um PS que alegadamente bate na mulher; um PS que alegadamente recebe dinheiro sujo; o PS de Carrilho e Sócrates.

Como poderá um cidadão, minimamente decente, rever-se nesta gente?

Como poderá um cidadão, preocupado e atento à política, confiar num partido que alberga tamanha corja lavadeira de roupa suja?

Como poderá um cidadão, simultaneamente farto das políticas de hoje e dos escândalos dos políticos e dos empresários de ontem, acreditar que o PS está diferente, quando uma súcia de socialistas passa dias a cantar "grândolas" à porta da prisão de Évora?

Como poderá um cidadão moderado votar no PS quando o PS faz o possível e o impossível por nos lembrar que, na essência, continua a ser o PS do roto e do nu?

António Costa devia, digo, tinha que expulsar o PS do PS. O PS, que no passado pôs o socialismo na gaveta, devia agora pôr o partido (que foi) na gaveta. Caso contrário acabará por ser o cidadão a fazê-lo votando, Deus nos livre, nesta gente que lá está, ou nos lunáticos das extremas. Se for votar, claro, porque por este andar...

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