Um inquérito conduzido pela Arboris apurou que mais de dois terços das empresas familiares têm acionistas inativos, quando esse número "deveria ser zero", segundo João Rodrigues Pena, fundador e managing partner da consultora que se dedica ao aconselhamento de grupos empresariais de raiz familiar em Portugal, com resultados operacionais acima de 30 milhões de euros por ano. Estamos a falar de um universo de 38 grupos, como Soane, Jerónimo Martins, Corticeira Amorim, Sogrape, Pestana, Sovena, Sogrape, Delta, José de Melo ou Mota-Engil.
"A existência de acionistas inativos numa empresa familiar, ou seja, membros da família acionistas que não participam nas atividades do grupo, mas recebem os dividendos", constitui um dos pontos negativos apontados por João Rodrigues Pena com base no estudo relizado entre novembro e dezembro de 2021. O gestor considera que "essas pessoas não estão ligadas emocionalmente ao grupo" e, por esse motivo, "mais facilmente poderão estar disponíveis para vender a sua parte".
Entre os aspetos negativos que o inquérito colocou em evidência, João Rodrigues Pena assinala que "uma grande parte dos grupos familiares inquiridos não tem um protocolo familiar". Por outro lado, o dirigente lamenta que "os valores do grupo não são assumidos por todos". Explica que "tem de haver um Conselho de Família no qual tomam parte os acionistas e seus descendentes. Trata-se de um órgão que realiza um trabalho de coesão entre a equipa de gestão atual e a geração seguinte".
Mas a consultora também identificou aspetos positivos no estudo para o qual foram enviados inquéritos a 60 pessoas dos 38 grupos que a Arboris acompanha, tendo obtido 42 respostas, representando 75% dos grupos. "Apurámos que o grupo familiar sente ter vantagens competitivas, graças à coesão entre acionistas, independentemente de o gestor executivo ser ou não da família", sintetiza o gestor.
"Os inquiridos consideraram que o importante é ter a melhor equipa de gestão, seja de dentro ou de fora da família. O que importa é ter o melhor CEO", reforça João Rodrigues Pena, explicando que "as empresas familiares têm uma maior capacidade de reter dividendos e canalizar os ganhos para o crescimento de negócio, podendo assumir investimentos a mais logo prazo", numa perspetiva "cada vez menos dinástica".
"Considerar que os grupos familiares são uma dinastia é uma falácia. Já não há o conceito de dinastia, há a preservação do capital nas mãos da família. Há sempre os herdeiros na posição de acionistas, mas não na gestão, que pode ser da família ou não".