Patrícia Lemos (ou Pati Lemos, como é mais conhecida no mundo digital) chegou a Portugal para fugir à violência crescente que se vive no Brasil e para conseguir oferecer uma perspetiva de futuro aos seus filhos. Na altura, a decisão de mudar de vida e de país foi tomada na confiança que era o melhor caminho para toda a família. A informação sobre os processos de imigração para Portugal era escassa, o que provocava alguma incerteza sobre os passos a dar. "O que se encontrava na internet eram informações dispersas e pouco confiáveis, nada estruturado e consistente", conta. "Foi preciso acreditar, persistir e confiar". Agora, já instalada em terras lusas - onde encontrou tudo e até muito mais do que procurava -, utiliza as redes sociais para apoiar os seus conterrâneos nesta viagem de vida. São muitos os que procuram atravessar o Atlântico e carecem de apoio. E, agora que o governo aprovou a proposta de lei que irá facilitar a entrada e permanência de cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o interesse disparou.
O Instagram e o YouTube são as suas ferramentas de trabalho. Com o perfil "Vou mudar para Portugal", Pati Lemos comunica com milhares de brasileiros que desejam atravessar o oceano. São pessoas que querem fugir da "violência quotidiana, da falta de ética e de perspetivas de futuro", diz. A proximidade linguística e cultural, o bom acolhimento dos portugueses, o menor custo de vida face a outros países europeus e uma maior oportunidade de imigrar legalmente fazem de Portugal a primeira opção. O recente anúncio do governo de alteração à lei dos vistos é prova disso. No dia em que foi conhecida a decisão, mais de 1500 pessoas juntaram-se num live na página do Instagram de Pati Lemos. As semanas que se seguiram também foram de grande animação. De 385 mil seguidores, a sua conta no Insta passou rapidamente a contar a 400 mil e, no fim de junho, já somava 414 mil inscritos.
"Este é o momento de informar as pessoas com clareza, para não criarem falsas expectativas e mostrar que, independente das mudanças e novidades, o planeamento é o melhor caminho", sublinha Pati Lemos. E nada como as redes sociais. Afinal, "o Brasil é o segundo país do mundo que mais tempo passa na internet e o terceiro que mais usa as redes sociais. Esta é a melhor forma de se comunicar", frisa. Desde 2018 que a empreendedora utiliza o mundo digital para chegar ao Brasil, mas foi a meio da pandemia, em 2020, que lançou o curso de planear a mudança. "Já apoiámos mais de duas mil famílias a mudarem para Portugal, mas se considerarmos os seguidores que simplesmente consomem as nossas informações, esse número passa a ser incomensurável", diz.
As dúvidas que mais assaltam os brasileiros prendem-se com o mercado de trabalho nas suas áreas de formação, mas também são comuns pedidos de esclarecimento sobre o regime de contratos de trabalho e as leis do trabalho. "As pessoas que vêm gostariam de trabalhar na mesma área em que trabalhavam no Brasil e para a qual estudaram e se formaram, mas sabem que precisarão de se reinventar até que consigam, de facto, inserirem-se no mercado nas suas áreas de especialidade", lembra. E, por isso, vai apontando que em Portugal atualmente há mais vagas para profissionais nas áreas da tecnologia e dos serviços, nomeadamente nas atividades ligadas ao turismo. Além dos cursos de planear a mudança, normalmente quatro por anos, Pati Lemos disponibiliza serviços 360.º para quem ambiciona vir para Portugal, como venda de imóveis, obtenção do número de identificação fiscal (NIF), indicação de profissionais especializados em vistos, entre outros.
Este mês, a gestora de empresas vai lançar um novo curso, sendo que já tem três mil pessoas em lista de espera. Muitas mais do que a média de 350 alunos que costuma aceitar para que a formação seja "consistente e eficaz". É que estas alterações ao regime de entrada em Portugal vão "ajudar e muito" os potenciais imigrantes brasileiros. "Sabemos que muitos vêm de forma irregular, entram como turistas e depois procuram legalizar a sua situação, mas é sempre um período tenso, de muita insegurança e as pessoas não conseguem usufruir na sua plenitude dos benefícios sociais que Portugal oferece". A proposta de lei contempla, por exemplo, a criação de um visto para a procura de trabalho pelo período de 120 dias, extensível por mais 60.